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Incentivo a montadoras não barateia o crédito e pode afetar rendimento do CDB
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O incentivo que o governo
deu às montadoras para estimular o setor criou uma distorção no mercado que barateou
os empréstimos feitos entre
instituições financeiras, mas
não se transformou em crédito
para a compra de automóveis,
principal objetivo da medida.
Um outro efeito colateral poderá aparecer na queda do rendimento dos CDBs (Certificados
de Depósito Bancário), vendidos a clientes de instituições financeiras.
O Banco do Brasil opera uma
linha de crédito de R$ 4 bilhões
que repassa recursos aos bancos ligados a montadoras por
meio de operações que têm como garantia a carteira de financiamentos dessas instituições.
Em momentos de calmaria
no mercado financeiro, os bancos transferem recursos para
que outras instituições fechem
seu caixa cobrando um percentual que varia entre 0,01% e
0,02% abaixo da taxa Selic, do
BC (Banco Central).
Mas os repasses do BB criaram um excesso de dinheiro no
caixa dos bancos das montadoras que fez com que o desconto
dado em relação à Selic chegasse a 0,08%, e os bancos conseguiram tomar dinheiro emprestado entre si pagando uma
taxa média de 12,87% ao ano.
Esse percentual é mais baixo do
que vinha sendo cobrado antes
da quebra do Lehman Brothers, o banco norte-americano que detonou a crise de liquidez mundial.
No início de outubro, no auge
do nervosismo nos mercados, a
falta de dinheiro em caixa e a
desconfiança fizeram com que
os bancos não quisessem emprestar nem mesmo entre eles.
No dia 6 de outubro, por exemplo, instituições que precisaram de dinheiro chegaram a pagar até 17,6% ao ano em juros
no CDI. Nesse mesmo dia, a taxa média foi de 13,75% ao ano, a
mais alta desde o início da crise.
O governo não considera que
esse seja um problema duradouro. A avaliação que vem
sendo feita é que as taxas do
CDI vão subir assim que os
bancos retomarem o financiamento de veículos e o dinheiro
em excesso sair do caixa dessas
instituições.
Efeito colateral
A queda no rendimento dos
CDBs dependerá de quanto
tempo os juros das operações
entre bancos continuarem baixos. Parte desses papéis costuma ter seu rendimento atrelado ao CDI. Dessa forma, com a
taxa mais baixa, as aplicações
poderão ser afetadas.
Apesar de apostar numa retomada do crédito para a compra de veículos, o governo não
vê uma melhora generalizada
no curto prazo. A piora nas condições da economia faz com
que os bancos sejam ainda mais
reticentes em oferecer empréstimos. Temendo quedas no emprego e a inadimplência, a reação das instituições financeiras
é reduzir a oferta de financiamentos. Os bancos preferem ficar com dinheiro em caixa ou
emprestar a outros bancos a taxas muito mais baixas do que
cobrariam dos clientes.
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