São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2008

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Incentivo a montadoras não barateia o crédito e pode afetar rendimento do CDB

LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O incentivo que o governo deu às montadoras para estimular o setor criou uma distorção no mercado que barateou os empréstimos feitos entre instituições financeiras, mas não se transformou em crédito para a compra de automóveis, principal objetivo da medida. Um outro efeito colateral poderá aparecer na queda do rendimento dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário), vendidos a clientes de instituições financeiras.
O Banco do Brasil opera uma linha de crédito de R$ 4 bilhões que repassa recursos aos bancos ligados a montadoras por meio de operações que têm como garantia a carteira de financiamentos dessas instituições.
Em momentos de calmaria no mercado financeiro, os bancos transferem recursos para que outras instituições fechem seu caixa cobrando um percentual que varia entre 0,01% e 0,02% abaixo da taxa Selic, do BC (Banco Central).
Mas os repasses do BB criaram um excesso de dinheiro no caixa dos bancos das montadoras que fez com que o desconto dado em relação à Selic chegasse a 0,08%, e os bancos conseguiram tomar dinheiro emprestado entre si pagando uma taxa média de 12,87% ao ano. Esse percentual é mais baixo do que vinha sendo cobrado antes da quebra do Lehman Brothers, o banco norte-americano que detonou a crise de liquidez mundial.
No início de outubro, no auge do nervosismo nos mercados, a falta de dinheiro em caixa e a desconfiança fizeram com que os bancos não quisessem emprestar nem mesmo entre eles. No dia 6 de outubro, por exemplo, instituições que precisaram de dinheiro chegaram a pagar até 17,6% ao ano em juros no CDI. Nesse mesmo dia, a taxa média foi de 13,75% ao ano, a mais alta desde o início da crise.
O governo não considera que esse seja um problema duradouro. A avaliação que vem sendo feita é que as taxas do CDI vão subir assim que os bancos retomarem o financiamento de veículos e o dinheiro em excesso sair do caixa dessas instituições.

Efeito colateral
A queda no rendimento dos CDBs dependerá de quanto tempo os juros das operações entre bancos continuarem baixos. Parte desses papéis costuma ter seu rendimento atrelado ao CDI. Dessa forma, com a taxa mais baixa, as aplicações poderão ser afetadas.
Apesar de apostar numa retomada do crédito para a compra de veículos, o governo não vê uma melhora generalizada no curto prazo. A piora nas condições da economia faz com que os bancos sejam ainda mais reticentes em oferecer empréstimos. Temendo quedas no emprego e a inadimplência, a reação das instituições financeiras é reduzir a oferta de financiamentos. Os bancos preferem ficar com dinheiro em caixa ou emprestar a outros bancos a taxas muito mais baixas do que cobrariam dos clientes.


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