São Paulo, domingo, 22 de novembro de 2009

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CHINA

Crédito ilimitado agrava desequilíbrio chinês

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China, terceira maior economia do mundo, deve superar os 8% de crescimento do PIB em 2009. Mas a dúvida entre economistas é até quando o sistema bancário do país vai continuar concedendo crédito ilimitado para manter esse crescimento -e se isso não está aumentando ainda mais os desequilíbrios do modelo chinês.
De janeiro a setembro, o PIB cresceu 7,7% (7,3 pontos percentuais foram por investimento em ativos fixos e 4 pontos por consumo; a queda nas exportações teve impacto negativo de 3,6 pontos).
Um pacote de estímulo de US$ 580 bilhões foi lançado em novembro do ano passado e, apenas entre janeiro e outubro deste ano, os bancos concederam empréstimos de US$ 1,3 trilhão (para comparação, o PIB do Brasil é US$ 1,6 trilhão).
O aumento do crédito foi 143,6% superior ao do mesmo período de 2008. Críticos afirmam que a maior parte dele foi parar nas grandes empresas estatais e nos governos locais, sobrando pouco crédito para pequenas e médias empresas.
"A questão é até quando os bancos chineses continuarão emprestando para criar esse crescimento", questiona o economista americano Michael Pettis, professor da Universidade de Pequim. "Eles precisariam contar com um retorno da demanda americana para promover as exportações chinesas em queda. Se isso não acontecer, o crescimento chinês vai continuar dependente de investimentos", completa.
"Mas, com 10,2% de desemprego nos EUA, não acredito que vá haver uma grande retomada de consumo lá."
Para o economista-chefe do Escritório Nacional de Estatísticas, Yao Jingyuan, o desafio para a economia é ajustar a sua estrutura. "Precisamos estimular o consumo doméstico como fator de crescimento: 95% do crescimento do nosso PIB neste ano depende de investimento em ativos fixos", disse, em um fórum em Pequim.
O consumo doméstico representa menos de 30% do PIB -era 50% há 20 anos. Boa parte dos empréstimos foi parar nas estatais, que continuam a investir em mais capacidade: mais fábricas, mais equipamentos, mais tecnologias.
Como a renda das famílias chinesas não cresceu, esse excedente deve continuar a se espalhar pelo mundo inteiro em forma de produtos baratos.
"O modelo dos últimos anos tira da poupança familiar chinesa para subsidiar o setor produtivo, que tem todas as vantagens: acesso a crédito barato, mão de obra barata, pode poluir sem medo e ainda tem uma moeda subvalorizada [o yuan]", analisa Pettis.
"O problema não é que os chineses poupam demais por não terem previdência ou saúde gratuita, a questão é que a renda é pequena", completa.
Outros números revelam ceticismo quanto à qualidade do crescimento do país em 2009. Apesar da expansão do PIB, o consumo de eletricidade e mesmo o de gasolina estão estagnados neste ano -mesmo com a venda recorde de 10 milhões de veículos entre janeiro e outubro de 2009. "Ou é o governo que está comprando ou o consumidor aproveita os incentivos, mas o deixa na garagem."
A China terá o maior crescimento entre as 15 maiores economias globais -mas registra a segunda pior renda per capita entre elas, à frente da Índia.


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