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CHINA
Crédito ilimitado agrava desequilíbrio chinês
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A China, terceira maior economia do mundo, deve superar
os 8% de crescimento do PIB
em 2009. Mas a dúvida entre
economistas é até quando o sistema bancário do país vai continuar concedendo crédito ilimitado para manter esse crescimento -e se isso não está aumentando ainda mais os desequilíbrios do modelo chinês.
De janeiro a setembro, o PIB
cresceu 7,7% (7,3 pontos percentuais foram por investimento em ativos fixos e 4 pontos por consumo; a queda nas
exportações teve impacto negativo de 3,6 pontos).
Um pacote de estímulo de
US$ 580 bilhões foi lançado em
novembro do ano passado e,
apenas entre janeiro e outubro
deste ano, os bancos concederam empréstimos de US$ 1,3
trilhão (para comparação, o
PIB do Brasil é US$ 1,6 trilhão).
O aumento do crédito foi
143,6% superior ao do mesmo
período de 2008. Críticos afirmam que a maior parte dele foi
parar nas grandes empresas estatais e nos governos locais, sobrando pouco crédito para pequenas e médias empresas.
"A questão é até quando os
bancos chineses continuarão
emprestando para criar esse
crescimento", questiona o economista americano Michael
Pettis, professor da Universidade de Pequim. "Eles precisariam contar com um retorno da
demanda americana para promover as exportações chinesas
em queda. Se isso não acontecer, o crescimento chinês vai
continuar dependente de investimentos", completa.
"Mas, com 10,2% de desemprego nos EUA, não acredito
que vá haver uma grande retomada de consumo lá."
Para o economista-chefe do
Escritório Nacional de Estatísticas, Yao Jingyuan, o desafio
para a economia é ajustar a sua
estrutura. "Precisamos estimular o consumo doméstico como
fator de crescimento: 95% do
crescimento do nosso PIB neste ano depende de investimento em ativos fixos", disse, em
um fórum em Pequim.
O consumo doméstico representa menos de 30% do PIB
-era 50% há 20 anos. Boa parte dos empréstimos foi parar
nas estatais, que continuam a
investir em mais capacidade:
mais fábricas, mais equipamentos, mais tecnologias.
Como a renda das famílias
chinesas não cresceu, esse excedente deve continuar a se espalhar pelo mundo inteiro em
forma de produtos baratos.
"O modelo dos últimos anos
tira da poupança familiar chinesa para subsidiar o setor produtivo, que tem todas as vantagens: acesso a crédito barato,
mão de obra barata, pode poluir
sem medo e ainda tem uma
moeda subvalorizada [o yuan]",
analisa Pettis.
"O problema não é que os
chineses poupam demais por
não terem previdência ou saúde gratuita, a questão é que a
renda é pequena", completa.
Outros números revelam ceticismo quanto à qualidade do
crescimento do país em 2009.
Apesar da expansão do PIB, o
consumo de eletricidade e mesmo o de gasolina estão estagnados neste ano -mesmo com a
venda recorde de 10 milhões de
veículos entre janeiro e outubro de 2009. "Ou é o governo
que está comprando ou o consumidor aproveita os incentivos, mas o deixa na garagem."
A China terá o maior crescimento entre as 15 maiores economias globais -mas registra a
segunda pior renda per capita
entre elas, à frente da Índia.
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