São Paulo, domingo, 22 de novembro de 2009

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Jogo de tabuleiro se renova, volta à moda e ganha mercado

Forma de entretenimento, antes ameaçada pelos videogames, amplia presença no setor de brinquedos no Brasil e no exterior

"Nova onda" começa na Alemanha, a terra dos jogos em família, com produto de regras mais simples e menor duração, mas com estratégia

ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO

Uma renovação nos jogos de mesa está salvando esse mercado e aumentando sua participação no segmento de brinquedos e jogos. Essa forma de entretenimento, até então ameaçada de extinção pelos jogos eletrônicos, ganha espaço no Brasil e já ostenta lançamentos da "nova onda" -chamada de "era dos jogos alemães".
Há 14 anos, foi lançado na Alemanha "Die Siedler von Catan" (Os Colonos de Catan). Propunha regras simples, mas com estratégia, e menor duração da partida. Outros sucessos, como "Carcassonne", serviram para renovar noitadas familiares e alterar o catálogo de produtos nas lojas de brinquedos europeias e, nesta década, norte-americanas.
Neste ano, as empresas esperam vender 500 milhões, ante 450 milhões em 2008. Nos EUA, onde a nova onda de jogos de sociedade é mais recente e fez reagirem marcas estabelecidas (como a Hasbro, de "Monopoly"), calcula-se em mais de 20% o crescimento das vendas no ano passado.
No Brasil, os jogos de sociedade representaram 7,8% do mercado de brinquedos em 2008, ante 7,1% em 2007, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos. Mas criações inovadoras chegam às lojas sem alarde (e com problemas de direitos autorais -leia texto nesta página).

Sociabilidade
O argumento básico de todo entusiasta dos jogos de sociedade é justamente que têm a vantagem de reunir pessoas numa ocasião de sociabilidade, algo que o entretenimento on-line não permite com a mesma intensidade. Os jogos eletrônicos, em geral, também não conseguem, já que apostam na habilidade manual e quase sempre são concebidos para apenas dois jogadores simultâneos.
Mais do que restabelecer as vendas de um segmento, a nova onda conseguiu fazer diversos profissionais migrarem dos computadores para os dados, as cartas e os peões.
O americano Mark Kaufmann trabalhava com computação até fundar, há sete anos, a Days of Wonder, uma das responsáveis por levar "diversão para toda a família" -mas ao estilo europeu- para os EUA.
Reiner Knizia, a maior celebridade mundial entre os criadores de jogos, tem produtos adaptados para versão eletrônica, mas insiste num caminho oposto: na feira de Essen (leia texto ao lado) deste ano, um de seus mais badalados lançamentos é uma adaptação "social" de "Tetris", o onipresente jogo eletrônico russo.
Seu nome valoriza ainda a embalagem de um novo produto da Lego -a marca investe em tabuleiros formados por suas peças de encaixe.
À Folha Knizia repete o mote de que "os jogos sociais sempre existirão", mas ressalva que a cultura lúdica de cada país é determinante para o mercado.
A Alemanha é a terra dos jogos em família: a participação dos jogos de sociedade, de 13% no mercado de brinquedos e jogos, é a maior do mundo. A fama de jogadores não é nova: a "Enciclopédia" francesa do século 18 citava Tácito (século 1º), segundo quem os germanos apostavam a própria vida em jogos de azar, para explicar: "Se hoje consideramos a dívida do jogo uma das mais sagradas, é talvez uma herança da antiga exatidão dos germanos em cumprir esses compromissos".
Bernd Dietrich, empresário alemão que está lançando a versão europeia do brasileiro "Riquezas do Sultão", cita motivos econômicos para explicar o sucesso dos jogos no seu país. Para ele, jogar "requer tempo livre; e, para isso, é preciso já estarem resolvidas as questões de comer e beber. Os alemães tiveram melhores condições na industrialização, que se refletem nesse comportamento".
Entretenimento mais barato que o videogame, o jogo de sociedade cresce em momentos de crise econômica. Mas a crise de 2008 já passou. Fica a questão sobre o potencial das novidade contra as velhas marcas.
Dados da luderia Ludus -lanchonete com uma vitrine de centenas de jogos e instrutores para explicar as regras-, em São Paulo, apontam crescimento do interesse. Apesar de manter jogos conhecidos, a casa verifica que os importados ganharam a preferência de seu público (cerca de 52% a 48%).

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