São Paulo, terça, 22 de dezembro de 1998

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Metalúrgicos do ABC ameaçam reagir contra demissão na Ford

da Reportagem Local

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC enviou ontem uma carta para a direção da Ford exigindo a suspensão das demissões e a abertura imediata de negociações para evitar as dispensas.
No final da tarde de sexta-feira, a Ford divulgou nota informando que vai demitir 2.800 trabalhadores de sua fábrica de São Bernardo a partir do dia 4 de janeiro, quando os funcionários retornam das férias coletivas.
Esse número representa cerca de 40% do total de empregados na fábrica de São Bernardo.
Se a montadora não quiser negociar as demissões anunciadas na semana passada, o sindicato do ABC promete reagir.
"Foi um absurdo e para isso greve é muito pouco", disse o presidente da entidade, Luiz Marinho. "Não estamos pregando a violência, mas existe muita coisa além da greve", acrescentou o dirigente.
"Tem trabalhador que já está recebendo a carta de demissão em casa", disse Marinho. A montadora não se manifestou ontem.
O motivo alegado pela empresa para anunciar as demissões, que surpreendeu o sindicato, foi a queda das vendas. A montadora vinha operando em um só turno.
No entanto, não é segredo que a Ford está perdendo mercado para outras montadoras, agravando ainda mais a crise, segundo dirigentes sindicais do ABC.
Em novembro, a Ford registrou participação de mercado de 9,7%, atrás da GM, Fiat e Volks.
Ontem, durante o ato pelo emprego e pela produção organizado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Marinho pediu ao presidente da federação, Horacio Lafer Piva, que intercedesse junto à Ford para forçar uma negociação.
Ao final do evento, Piva afirmou que irá telefonar para o presidente da Ford, Ivan Fonseca e Silva.
Para Marinho, as demissões na Ford são um prenúncio do que vai ocorrer em 99 se o governo não der uma sinalização de mudança na política econômica.
A indústria automotiva espera produzir, em 98, cerca de 1,45 milhão de unidades, cerca de 25% a menos do que em 97. O setor prevê produção de 1,4 milhão de unidades em 99, mas existem estimativas de produção de 1,1 milhão de unidades, segundo Marinho.
O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, Heiguiberto "Guiba" Navarro, que já foi presidente do sindicato do ABC, acredita que a empresa não pretende demitir os 2.800, mas forçar uma negociação para desligar cerca de 1.000 funcionários.
Em 90, o anúncio de demissões na Ford provocou uma greve na montadora. No mesmo ano, para protestar contra demissões, metalúrgicos ocuparam a fábrica, danificando veículos de diretores e gerentes, em um episódio que envolveu até a Polícia Militar. (ME)



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