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'Estabilização deve ajudar o crescimento'
Leia a íntegra do discurso do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio
Lafer Piva, durante o ato "Pacto pela
Produção e pelo Emprego".
Dou as boas vindas a todos aqui, nesta
reunião inédita nos anais da nossa Casa, e agradeço a presença de cada um,
empresários, representantes sindicais,
e especialmente os parlamentares por
São Paulo. Muitos que não vieram
mandaram mensagens explicando a
sua ausência. De coração, eu digo a todos muito obrigado.
Tendo passado a semana toda explicando à imprensa quais não serão os
objetivos desta reunião, cabe neste
momento dizer quais são eles. Eles são
muito simples, mas importantes e até
graves. Para sublinhar essa gravidade,
lemos, chocados, neste fim de semana,
que 2.800 operários vão ser demitidos
em São Bernardo do Campo por uma
montadora de veículos. Eles representam 41% da força de trabalho dessa fábrica de automóveis.
Tais notícias intensificam nossa sensação de que é urgente fazer alguma
coisa. E de que estamos certos em propor um pacto para defender a produção e o emprego. Singelamente, queremos que a atual política econômica, de
excessivo cunho monetário, seja ampliada e reforçada por políticas adicionais, setoriais ou regionais, que atendam às necessidades da produção, para que não se fechem ainda mais postos
de trabalho em nossa indústria no ano
que vem.
Respeitamos as instituições democráticas. Sabemos que a realidade não é
simples. A do presidente da República,
a dos parlamentares, a dos empresários e, muito especialmente, a dos trabalhadores desempregados.
Mas lamento informar, algo está errado, e um bom começo é explicitar
nosso sentido de urgência em fazer
com que uma rota sempre perigosa,
mude para o bem do país.
Esta reunião representa o início da
montagem desse pacto. Muito além
dos interesses dos empresários e dos
trabalhadores, que já são uma parcela
considerável da sociedade, declaramos
que temos por objetivo o interesse do
país inteiro. Estamos procurando juntar propostas concretas e objetivas,
que sejam consideradas seriamente
pelo governo. E todos os setores da sociedade estão convidados a participar
com idéias e sugestões.
Para sublinhar a profundidade de
nosso compromisso, convidamos para
nos ouvir os parlamentares que representam São Paulo nas casas legislativas. A eles me dirijo agora, para pedir
que nos ajudem. Por favor, senhores
parlamentares, priorizem duas ações
principais que a Fiesp/Ciesp tem incessantemente reivindicado nos últimos
anos.
Em primeiro lugar, reiteramos nossa
insistência de que o Congresso corte
rapidamente aquelas variáveis a seu alcance que impactam a despesa pública,
tornando possível, a curto prazo, um
orçamento federal sem déficit e fazendo uma obrigação legal o rápido saneamento das finanças dos Estados e dos
municípios.
Em segundo lugar, pedimos que
também urgentemente seja apreciada
e votada a reforma tributária, reorganizando de uma vez a verdadeira selva
de tributos que está ameaçando acabar
com a vida de nossas empresas, e contribuindo para empurrar parte já significativa do setor privado para a informalidade. Nunca os índices de inadimplência estiveram tão altos em São
Paulo.
E, finalmente, que nos ajudem nas alternativas para retomarmos o crescimento. O que temos aqui criticado é a
falta de avanços da política econômica
na direção do desenvolvimento, pois a
estabilização não pode ser vista como
um objetivo final, mas sim como meio
para propiciar o crescimento econômico, com mais produção, mais emprego, educação e justiça social.
Temos consciência das nossas responsabilidades e, se estamos pressionando, o fazemos em favor do Brasil,
dos trabalhadores e dos empreendedores, sem, contudo, pregar antagonismo. É nosso dever, como sociedade democrática e consciente de seu papel,
avaliar riscos e olhar à frente.
Nada há de populista em nossa ação.
Ao discutir com os líderes sindicais,
a Fiesp não procura a obtenção de vantagens corporativas. Não se trata de
uma câmara setorial ampliada. Não faremos acordos à custa de consumidores. Nem buscaremos vantagens no velho estilo dos anos 70. Queremos isonomia com nossos competidores, o
que é lógico e determinante para uma
economia que quer manter seu vigor.
Além disto, queremos que se forme
um ambiente amigável e de encorajamento para o empreendimento privado, começando pela microempresa.
Acabar com a conspiração da burocracia, com a perseguição fiscal, carimbo,
multas. Queremos fluxo de crédito
mais fácil, liberdade para trabalhar.
Uma ação pelo desenvolvimento do
país, pulverizando nosso capitalismo.
Mas não é só isso. Queremos pedir
hoje aos parlamentares paulistas que
ajudem a Fiesp/Ciesp e os sindicatos
operários a tornar bem-sucedido esse
pacto que estamos propondo, pela via
de um apoio sólido e concreto em Brasília, tanto no Congresso quanto nos
edifícios do Executivo. Precisamos da
sabedoria política dos senhores, de sua
experiência prática, de seu know how
dos meandros do poder desta nossa
República. E em suas bases, no interior
do Estado, nossas representações regionais, aqui presentes, vão juntar-se
aos sindicatos dos trabalhadores para
multiplicar contatos com as lideranças
políticas locais, procurando encontrar
soluções para os problemas da produção e do emprego.
Vamos nos declarar em estado de
atenção, elegendo a produção e o emprego como prioritários em nosso Estado. Vamos examinar cada notícia de
fechamento de fábrica, cada notícia de
demissão de trabalhadores, como itens
de interesse para nós todos, a exigir
nossos cuidados e nossas providências.
Empresários, trabalhadores, parlamentares, ao lado dos Executivos dos
três níveis, todos trabalhando por São
Paulo, certamente conseguirão defender a economia deste grande Estado e
de sua incansável população de pequenos e grandes empreendedores que em
70 anos construiu o maior e mais avançado parque industrial desta parte do
hemisfério. E que outros Estados façam o mesmo, um Brasil que avança
unido.
Finalmente, digamos aqui com todas
as letras que este é um pacto aberto a
todos, em favor de todos, sem hostilidade a ninguém, um pacto em favor do
Brasil. Ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, e que merece nosso respeito, dizemos que apoiamos a sua defesa da estabilidade da
moeda e que nada faremos para ameaçá-la. Mas dizemos também não ser
possível que a política econômica se limite a assistir a produção industrial diminuir e desaparecem os empregos de
milhares de trabalhadores industriais.
Temos consciência das desconfianças que nutre uma parte da sociedade
em relação aos industriais. Mas é uma
percepção tendenciosa, pois nós mudamos, eu garanto. Somos parte da solução, não do problema. E vamos provar, como provaram os fundadores
desta entidade há 70 anos, que este país
tem vocação industrial, espaço natural
e uma lógica contemporânea. E vamos
fazer isso com propostas que se criarão
a partir deste encontro.
Sejamos mais sofisticados neste país.
Nos telefones celulares, nos aviões de
sucesso, na tecnologia de automação.
Mas principalmente no pensamento
econômico e na agilidade que o mercado, implacável, nos impõe.
É um momento de oportunidade!
Aproveitemo-lo! Construtivamente,
propositivamente, trazendo o Brasil do
futuro para o presente. Mas sem medo
de elogiar o certo e criticar o errado.
A agenda da Fiesp não é esta, a de
apenas discutir juros, câmbios e tributos. Estamos nos organizando para
metas específicas, que façam dos temas
aqui presentes meios para um fim
maior. Vida justa, economia eficiente,
ética e oportunidade. Cidadania. Trabalho. Lucro, por que não?
Caros Marinho, Paulinho, meus colegas e srs. parlamentares. Ouso anunciar que a hora é agora. Vamos levar
nossas teses ao Executivo, convencendo-os para ajudá-los nas mudanças.
Com vontade política, desprendimento e atenção, com esta inteligência que
aqui se encontra, o país vai mudar mais
depressa, com mais auto-estima, e certamente mais respeito pelo mundo
afora.
E sabemos que, se pudermos participar, poderemos cumprir.
Obrigado.
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