São Paulo, terça, 22 de dezembro de 1998

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'Estabilização deve ajudar o crescimento'

Leia a íntegra do discurso do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, durante o ato "Pacto pela Produção e pelo Emprego".

Dou as boas vindas a todos aqui, nesta reunião inédita nos anais da nossa Casa, e agradeço a presença de cada um, empresários, representantes sindicais, e especialmente os parlamentares por São Paulo. Muitos que não vieram mandaram mensagens explicando a sua ausência. De coração, eu digo a todos muito obrigado.
Tendo passado a semana toda explicando à imprensa quais não serão os objetivos desta reunião, cabe neste momento dizer quais são eles. Eles são muito simples, mas importantes e até graves. Para sublinhar essa gravidade, lemos, chocados, neste fim de semana, que 2.800 operários vão ser demitidos em São Bernardo do Campo por uma montadora de veículos. Eles representam 41% da força de trabalho dessa fábrica de automóveis.
Tais notícias intensificam nossa sensação de que é urgente fazer alguma coisa. E de que estamos certos em propor um pacto para defender a produção e o emprego. Singelamente, queremos que a atual política econômica, de excessivo cunho monetário, seja ampliada e reforçada por políticas adicionais, setoriais ou regionais, que atendam às necessidades da produção, para que não se fechem ainda mais postos de trabalho em nossa indústria no ano que vem.
Respeitamos as instituições democráticas. Sabemos que a realidade não é simples. A do presidente da República, a dos parlamentares, a dos empresários e, muito especialmente, a dos trabalhadores desempregados.
Mas lamento informar, algo está errado, e um bom começo é explicitar nosso sentido de urgência em fazer com que uma rota sempre perigosa, mude para o bem do país.
Esta reunião representa o início da montagem desse pacto. Muito além dos interesses dos empresários e dos trabalhadores, que já são uma parcela considerável da sociedade, declaramos que temos por objetivo o interesse do país inteiro. Estamos procurando juntar propostas concretas e objetivas, que sejam consideradas seriamente pelo governo. E todos os setores da sociedade estão convidados a participar com idéias e sugestões.
Para sublinhar a profundidade de nosso compromisso, convidamos para nos ouvir os parlamentares que representam São Paulo nas casas legislativas. A eles me dirijo agora, para pedir que nos ajudem. Por favor, senhores parlamentares, priorizem duas ações principais que a Fiesp/Ciesp tem incessantemente reivindicado nos últimos anos.
Em primeiro lugar, reiteramos nossa insistência de que o Congresso corte rapidamente aquelas variáveis a seu alcance que impactam a despesa pública, tornando possível, a curto prazo, um orçamento federal sem déficit e fazendo uma obrigação legal o rápido saneamento das finanças dos Estados e dos municípios.
Em segundo lugar, pedimos que também urgentemente seja apreciada e votada a reforma tributária, reorganizando de uma vez a verdadeira selva de tributos que está ameaçando acabar com a vida de nossas empresas, e contribuindo para empurrar parte já significativa do setor privado para a informalidade. Nunca os índices de inadimplência estiveram tão altos em São Paulo.
E, finalmente, que nos ajudem nas alternativas para retomarmos o crescimento. O que temos aqui criticado é a falta de avanços da política econômica na direção do desenvolvimento, pois a estabilização não pode ser vista como um objetivo final, mas sim como meio para propiciar o crescimento econômico, com mais produção, mais emprego, educação e justiça social.
Temos consciência das nossas responsabilidades e, se estamos pressionando, o fazemos em favor do Brasil, dos trabalhadores e dos empreendedores, sem, contudo, pregar antagonismo. É nosso dever, como sociedade democrática e consciente de seu papel, avaliar riscos e olhar à frente.
Nada há de populista em nossa ação.
Ao discutir com os líderes sindicais, a Fiesp não procura a obtenção de vantagens corporativas. Não se trata de uma câmara setorial ampliada. Não faremos acordos à custa de consumidores. Nem buscaremos vantagens no velho estilo dos anos 70. Queremos isonomia com nossos competidores, o que é lógico e determinante para uma economia que quer manter seu vigor.
Além disto, queremos que se forme um ambiente amigável e de encorajamento para o empreendimento privado, começando pela microempresa. Acabar com a conspiração da burocracia, com a perseguição fiscal, carimbo, multas. Queremos fluxo de crédito mais fácil, liberdade para trabalhar. Uma ação pelo desenvolvimento do país, pulverizando nosso capitalismo.
Mas não é só isso. Queremos pedir hoje aos parlamentares paulistas que ajudem a Fiesp/Ciesp e os sindicatos operários a tornar bem-sucedido esse pacto que estamos propondo, pela via de um apoio sólido e concreto em Brasília, tanto no Congresso quanto nos edifícios do Executivo. Precisamos da sabedoria política dos senhores, de sua experiência prática, de seu know how dos meandros do poder desta nossa República. E em suas bases, no interior do Estado, nossas representações regionais, aqui presentes, vão juntar-se aos sindicatos dos trabalhadores para multiplicar contatos com as lideranças políticas locais, procurando encontrar soluções para os problemas da produção e do emprego.
Vamos nos declarar em estado de atenção, elegendo a produção e o emprego como prioritários em nosso Estado. Vamos examinar cada notícia de fechamento de fábrica, cada notícia de demissão de trabalhadores, como itens de interesse para nós todos, a exigir nossos cuidados e nossas providências.
Empresários, trabalhadores, parlamentares, ao lado dos Executivos dos três níveis, todos trabalhando por São Paulo, certamente conseguirão defender a economia deste grande Estado e de sua incansável população de pequenos e grandes empreendedores que em 70 anos construiu o maior e mais avançado parque industrial desta parte do hemisfério. E que outros Estados façam o mesmo, um Brasil que avança unido.
Finalmente, digamos aqui com todas as letras que este é um pacto aberto a todos, em favor de todos, sem hostilidade a ninguém, um pacto em favor do Brasil. Ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, e que merece nosso respeito, dizemos que apoiamos a sua defesa da estabilidade da moeda e que nada faremos para ameaçá-la. Mas dizemos também não ser possível que a política econômica se limite a assistir a produção industrial diminuir e desaparecem os empregos de milhares de trabalhadores industriais.
Temos consciência das desconfianças que nutre uma parte da sociedade em relação aos industriais. Mas é uma percepção tendenciosa, pois nós mudamos, eu garanto. Somos parte da solução, não do problema. E vamos provar, como provaram os fundadores desta entidade há 70 anos, que este país tem vocação industrial, espaço natural e uma lógica contemporânea. E vamos fazer isso com propostas que se criarão a partir deste encontro.
Sejamos mais sofisticados neste país. Nos telefones celulares, nos aviões de sucesso, na tecnologia de automação. Mas principalmente no pensamento econômico e na agilidade que o mercado, implacável, nos impõe.
É um momento de oportunidade! Aproveitemo-lo! Construtivamente, propositivamente, trazendo o Brasil do futuro para o presente. Mas sem medo de elogiar o certo e criticar o errado.
A agenda da Fiesp não é esta, a de apenas discutir juros, câmbios e tributos. Estamos nos organizando para metas específicas, que façam dos temas aqui presentes meios para um fim maior. Vida justa, economia eficiente, ética e oportunidade. Cidadania. Trabalho. Lucro, por que não?
Caros Marinho, Paulinho, meus colegas e srs. parlamentares. Ouso anunciar que a hora é agora. Vamos levar nossas teses ao Executivo, convencendo-os para ajudá-los nas mudanças. Com vontade política, desprendimento e atenção, com esta inteligência que aqui se encontra, o país vai mudar mais depressa, com mais auto-estima, e certamente mais respeito pelo mundo afora.
E sabemos que, se pudermos participar, poderemos cumprir.
Obrigado.



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