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LUÍS NASSIF
Os sinais do mercado
Em sua coluna de ontem, o ex-
ministro João Sayad assume um ar
quase súplice, sem saber o que fazer para que o governo abra os
olhos para romper com a inércia
da política econômica atual, e promete passar a noite de Natal rezando para que algo ocorra.
Sayad não está só nessa impotência. Chegou-se a uma situação
inédita na vida do país, algo que
-segundo outro economista renomado- supera as tragédias
gregas. Naquelas, o público sabia
do final; os personagens, não. Agora, personagens, público e crítica
já sabem qual o resultado final, se
nada for feito para romper com essa armadilha de câmbio e juros,
mas não se rompe com a inércia.
A não-ação se baseia em princípios supostamente racionais.
1) De fato, errou-se na política
cambial, mas agora se está no caminho correto.
2) O momento de mudar a política cambial era seis meses atrás (independentemente do momento em
que se esteja falando).
3) O momento de mudar a política cambial é daqui a seis meses
(independentemente do momento
em que se esteja falando).
4) O câmbio está alinhado pelas
desvalorizações progressivas.
Desde 95, todos os argumentos
foram utilizados para não se enfrentar um problema que é inevitável. De início, quando o Brasil
dispunha de reservas em abundância, apresentaram-se exemplos
de países que mudaram o câmbio
sem dispor de reservas, para dramatizar os riscos, e não ter de enfrentar o problema. Depois, apostou-se na reestruturação industrial interna -que estava apenas
se iniciando- como se fosse a alternativa para enfrentar o problema cambial. E se fez a aposta de
que as exportações cresceriam a
mais que 12% ao ano.
Quando estourou a crise da Ásia
e o comércio internacional refluiu,
apostou-se que os países que desvalorizaram suas moedas não recuperariam o dinamismo devido
ao encarecimento do componente
importado de sua produção. Só
que ajustes cambiais são neutros,
quando componentes importados
se destinam à exportação.
Em todos os momentos, todos os
atos de política econômica foram
tomados visando os chamados "sinais de mercado". Fazendo o que o
mercado quer para o dia seguinte,
o futuro estará assegurado.
Também essa aposta se perdeu.
A pretexto de defender a moeda a
qualquer custo, produziu-se um
custo tão extraordinário que a
moeda se enfraqueceu. Conseguiu-
se a situação de maior fragilidade
para uma economia: uma moeda
artificialmente valorizada.
Alegou-se que o câmbio estava
alinhado usando os mesmos argumentos que eram combatidos pelos defensores do ajuste: a comparação com o preço de paridade da
moeda.
É difícil saber, hoje em dia, o que
se passa na cabeça do presidente,
quando exercita o discurso otimista de quem considera que o país
encontrou o rumo, que basta o
ajuste fiscal para, no segundo semestre, o fênix emergir das cinzas.
Às vezes bate a esperança de que
há um discurso otimista para fora,
mas uma visão realista para dentro. Às vezes, vêm informações diferentes, de que o presidente de fato acredita naquilo que diz.
Por aí, é possível entender o desespero do professor Sayad, e de
tantos outros que sabem que o prazo está se esgotando. Analistas que
sabem que os membros da equipe
econômica sabem que não há saída fora o enfrentamento da questão cambial. Mas vão-se pela janela as derradeiras oportunidades de
o país superar o desafio, pelo medo
de enfrentar a hora da verdade.
Falta um estadista para garantir
o segundo governo FHC.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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