São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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Empresas derrubam preço do leite

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise da Parmalat azedou os negócios dos produtores de leite do país. Cooperativas e produtores independentes de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás, que fornecem à Nestlé e à Danone, dizem que as indústrias estão aproveitando o momento para derrubar os preços pagos pelo leite.
Em Goiás, a Nestlé pagava entre R$ 0,44 e R$ 0,49 pelo litro de leite, em dezembro. Neste mês, o preço caiu para R$ 0,39 a R$ 0,40, segundo Maurivan Siqueira, presidente da comissão de leite da Federação da Agricultura do Estado. "A justificativa é que há excesso de oferta, pois quem fornecia à Parmalat passou a ofertar o leite no mercado", diz Siqueira.
Segundo ele, entretanto, "não há excedente, mas manipulação das indústrias para baixar o preço". Em Goiás, apenas a Centroleite (central das cooperativas do Estado) fornece 800 mil litros por dia à indústria.
Em dezembro, segundo Siqueira, a Nestlé havia acenado com uma melhora nos preços para janeiro. No entanto, os produtores estão perdendo entre R$ 0,04 e R$ 0,06 por litro vendido à indústria.
Em situação pior estão produtores independentes (não vinculados a cooperativas) de Minas Gerais. Fornecedores da Danone dizem estar recebendo R$ 0,29 por litro neste mês, enquanto em dezembro a empresa pagava R$ 0,49 por litro. "A crise da Parmalat vai acabar provocando a redução do plantel leiteiro do país", diz Jamir Menali, pequeno produtor de Ilicínea, na região de Alfenas (MG).
Menali tem 135 vacas, sendo 35 em lactação, e ontem mandou reduzir a ração dos animais. "Recebo R$ 4.000 por mês da Danone e estou gastando quase o dobro para manter o plantel", diz ele.
Procurada pela Folha, a Nestlé informou que "a queda de preços ocorrida no período foi muito inferior ao patamar apontado e seguiu a tendência histórica da redução das cotações que acontece com a chegada da safra e o aumento da oferta de leite fresco".
A Danone informou por meio de sua assessoria não ter ninguém disponível para dar informações.
Desde o início da safra, em novembro, os preços caíram cerca de 19%, segundo a Scot Consultoria. Em relação ao pico de preços de 2003, a queda atinge 36%. Segundo a Scot, o caso Parmalat agravou a situação do mercado que já vinha perdendo sustentação com a queda do consumo.
Alberto Adhemar do Valle Júnior, presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Derivados de Minas Gerais, diz que "todos os anos, os preços do leite caem na época da safra, mas neste ano a queda, aparentemente, foi maior". Segundo ele, além do "efeito Parmalat" os preços sofreram com a redução da demanda.


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