São Paulo, quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NOS MERCADOS / REAÇÃO AMERICANA

Corte de juros do Fed reduz perdas nos EUA

Expectativa é a de que o banco central norte-americano reduza novamente a taxa na sua reunião da semana que vem

Paulson (Tesouro) diz que decisão "aumenta confiança" na economia e cobra agilidade do Congresso na aprovação de medidas contra recessão

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

O corte histórico do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros, ajudou ontem a entusiasmar os mercados e impedir uma queda drástica nas Bolsas americanas, mas criou ainda mais expectativa sobre uma nova redução na reunião da entidade na semana que vem.
O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, que chegou a operar em queda de até 3,4% pela manhã, recuperou-se e fechou com desvalorização de 1,06% no final da tarde, embalada pela redução, em decisão extraordinária, da taxa de juros de 4,25% para 3,5%. A Nasdaq retrocedeu 2,04%.
O corte foi o maior desde agosto de 1982, quando o Fed promoveu redução de um ponto percentual. Em 1984, o banco central dos EUA chegou ao corte de 1,75 ponto percentual, mas em uma seqüência gradual de cortes menores entre os meses de setembro e outubro.
Ele acontece em um momento em que os EUA tentam evitar entrar em recessão -que seria a primeira desde 2001-, preocupados com os setores imobiliário e financeiro e com os dados de inflação e emprego. Na decisão de ontem, o Fed também cortou em 0,75 ponto percentual, para 4%, a taxa de redesconto -que é a usada pelo BC em empréstimos de curto prazo aos bancos.
"O Fed foi agressivo na hora certa e parece ter pretendido dar o recado de que tem agilidade para lidar com a crise. É claro que agora todo o mercado espera um corte de pelo menos 0,25 ponto para a semana que vem, e devem ser óbvios para o Fed os efeitos de uma possível frustração dessa expectativa. Se mostrar falta de fôlego para cortar mais, as ações deverão cair no mundo todo de novo, o que poderia anular em parte a decisão ousada de hoje", disse à Folha Dana Johnson, economista-chefe do Comerica Bank.
O Fed divulgou em nota que tomou a decisão "tendo em vista o enfraquecimento das perspectivas econômicas e os crescentes riscos quanto a crescimento insuficiente". A carta diz também que "o comitê espera que a inflação se modere nos próximos trimestres, mas será necessário continuar a monitorar cuidadosamente os desdobramentos inflacionários".

Sem unanimidade
A decisão do banco não foi unânime. Em favor dela, votaram oito membros do Fomc (comitê do Fed que define os juros, equivalente ao Copom no Brasil), incluindo o presidente, Ben Bernanke. William Poole votou contra, afirmando não ser necessária uma decisão antecipada do BC antes da reunião da semana que vem. Um outro conselheiro não votou.
Para Georges Yared, estrategista-chefe de investimentos do Yared Investment Research, "ao menos a segunda-feira serviu para deixar bem claro que a China e os emergentes como o Brasil não substituirão os Estados Unidos em caso de uma recessão do país. Isso aumenta a preocupação. Mesmo que o Brasil esteja mais forte, assim como a China, o mundo continua muito interdependente".
"Os americanos devem ficar confiantes de que a saúde da economia americana a longo prazo permanece forte", afirmou Dana Perino, porta-voz da Casa Branca. Em encontro ontem com líderes do Congresso, o presidente George W. Bush disse que "todos querem conseguir algo feito rapidamente", mas que, para ele, o importante "é ter certeza de que o que está feito está certo".
O secretário de Tesouro, Henry Paulson, disse que a decisão do Fed "aumenta a confiança" na economia do país e que o Congresso deve também ser ágil e aprovar medidas que afastem a recessão. "Os benefícios potenciais de uma ação rápida para apoiar nossa economia ficaram claros".
Paulson participou da elaboração do plano divulgado na semana passada por George W. Bush de injetar US$ 150 bilhões na economia do país por meio de isenção fiscal. A visão de que o plano será insuficiente para afastar a possibilidade de recessão teve repercussão na queda das Bolsas anteontem.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Dez maiores bancos dos EUA têm, juntos, prejuízo de US$ 14,1 bi no 4º tri de 2007
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.