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CRISE NOS MERCADOS / REAÇÃO AMERICANA
Corte de juros do Fed reduz perdas nos EUA
Expectativa é a de que o banco central norte-americano reduza novamente a taxa na sua reunião da semana que vem
Paulson (Tesouro) diz que decisão "aumenta confiança"
na economia e cobra agilidade do Congresso na aprovação
de medidas contra recessão
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
O corte histórico do Federal
Reserve (Fed, o banco central
dos Estados Unidos), de 0,75
ponto percentual na taxa básica de juros, ajudou ontem a entusiasmar os mercados e impedir uma queda drástica nas Bolsas americanas, mas criou ainda mais expectativa sobre uma
nova redução na reunião da entidade na semana que vem.
O índice Dow Jones, da Bolsa
de Nova York, que chegou a
operar em queda de até 3,4%
pela manhã, recuperou-se e fechou com desvalorização de
1,06% no final da tarde, embalada pela redução, em decisão
extraordinária, da taxa de juros
de 4,25% para 3,5%. A Nasdaq
retrocedeu 2,04%.
O corte foi o maior desde
agosto de 1982, quando o Fed
promoveu redução de um ponto percentual. Em 1984, o banco central dos EUA chegou ao
corte de 1,75 ponto percentual,
mas em uma seqüência gradual
de cortes menores entre os meses de setembro e outubro.
Ele acontece em um momento em que os EUA tentam evitar entrar em recessão -que
seria a primeira desde 2001-,
preocupados com os setores
imobiliário e financeiro e com
os dados de inflação e emprego.
Na decisão de ontem, o Fed
também cortou em 0,75 ponto
percentual, para 4%, a taxa de
redesconto -que é a usada pelo
BC em empréstimos de curto
prazo aos bancos.
"O Fed foi agressivo na hora
certa e parece ter pretendido
dar o recado de que tem agilidade para lidar com a crise. É claro que agora todo o mercado espera um corte de pelo menos
0,25 ponto para a semana que
vem, e devem ser óbvios para o
Fed os efeitos de uma possível
frustração dessa expectativa.
Se mostrar falta de fôlego para
cortar mais, as ações deverão
cair no mundo todo de novo, o
que poderia anular em parte a
decisão ousada de hoje", disse à
Folha Dana Johnson, economista-chefe do Comerica Bank.
O Fed divulgou em nota que
tomou a decisão "tendo em vista o enfraquecimento das perspectivas econômicas e os crescentes riscos quanto a crescimento insuficiente". A carta diz
também que "o comitê espera
que a inflação se modere nos
próximos trimestres, mas será
necessário continuar a monitorar cuidadosamente os desdobramentos inflacionários".
Sem unanimidade
A decisão do banco não foi
unânime. Em favor dela, votaram oito membros do Fomc
(comitê do Fed que define os
juros, equivalente ao Copom no
Brasil), incluindo o presidente,
Ben Bernanke. William Poole
votou contra, afirmando não
ser necessária uma decisão antecipada do BC antes da reunião da semana que vem. Um
outro conselheiro não votou.
Para Georges Yared, estrategista-chefe de investimentos
do Yared Investment Research,
"ao menos a segunda-feira serviu para deixar bem claro que a
China e os emergentes como o
Brasil não substituirão os Estados Unidos em caso de uma recessão do país. Isso aumenta a
preocupação. Mesmo que o
Brasil esteja mais forte, assim
como a China, o mundo continua muito interdependente".
"Os americanos devem ficar
confiantes de que a saúde da
economia americana a longo
prazo permanece forte", afirmou Dana Perino, porta-voz da
Casa Branca. Em encontro ontem com líderes do Congresso,
o presidente George W. Bush
disse que "todos querem conseguir algo feito rapidamente",
mas que, para ele, o importante
"é ter certeza de que o que está
feito está certo".
O secretário de Tesouro,
Henry Paulson, disse que a decisão do Fed "aumenta a confiança" na economia do país e
que o Congresso deve também
ser ágil e aprovar medidas que
afastem a recessão. "Os benefícios potenciais de uma ação rápida para apoiar nossa economia ficaram claros".
Paulson participou da elaboração do plano divulgado na semana passada por George W.
Bush de injetar US$ 150 bilhões
na economia do país por meio
de isenção fiscal. A visão de que
o plano será insuficiente para
afastar a possibilidade de recessão teve repercussão na queda
das Bolsas anteontem.
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