São Paulo, quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS / REAÇÃO GLOBAL

Bovespa responde com alta de 4,45%

Investidores estrangeiros voltam à Bolsa, que acumula perda de 12,19% no ano; dólar recua 2,08% e fecha a R$ 1,79

Apesar de recuperação registrada ontem, analistas acham que a turbulência nos mercados financeiros deve continuar

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O corte emergencial promovido pelo Fed (o banco central dos EUA) nos juros americanos deteve ontem o processo de depreciação do mercado acionário brasileiro. A Bovespa registrou valorização de 4,45%, em sua maior alta diária desde 6 de março de 2007.
Mas ainda há muito o que ser recuperado: no ano, a queda da Bovespa ainda é elevada, de 12,19%. Somente na segunda, o índice caiu 6,6%.
A virada do mercado ontem também foi notada no câmbio, no qual o processo de saída de dólares foi interrompido. Isso permitiu que o real se apreciasse. No fim do dia, a moeda americana marcava queda de 2,08%, vendida a R$ 1,792.
Todavia, a recuperação e a melhora de ânimo dos investidores ontem não significam que a atual crise foi superada. Os analistas esperam mais turbulências.
"Uma decisão como a tomada pelo Fed anima o mercado no curto prazo. Mas, enquanto a probabilidade de recessão nos EUA não diminuir com relevância, pode se esperar muita volatilidade no mercado financeiro", afirma Ivo Chermont, economista do Modal Asset Management.
Ontem os dirigentes do Fed reduziram os juros básicos de 4,25% para 3,50% anuais. Na próxima semana, o mercado espera pela reunião de política monetária do BC americano, agendada para os dias 29 e 30, quando mais uma redução pode ser anunciada.

Situação crítica
"A situação estava muito crítica. E o Fed percebeu que tinha um espaço para evitar uma crise mais ampla. Se não tivesse agido agora, poderia estar reforçando o problema", disse Roberto Padovani, estrategista de investimentos sênior para a América Latina do WestLB.
A parcela de estrangeiros nas operações da Bovespa, que representam cerca de 37% do total movimentado, eleva a importância do cenário internacional para o desempenho do mercado acionário local. No caso do câmbio, a saída pesada de capital externo da Bolsa verificada neste ano vinha pressionando a cotação do dólar.
O saldo dos negócios feitos pelos estrangeiros na Bolsa em 2008 estava negativo em R$ 3,97 bilhões até o dia 18. Ontem, operadores de corretoras notaram o retorno de investidores estrangeiros para ações de companhias brasileiras.
Para o mercado brasileiro, o arrefecimento dos temores em relação a uma recessão nos EUA deve representar uma entrada mais expressiva de capital externo. A elevação na diferença dos juros praticados nos EUA (que estão em processo de queda) e a taxa básica Selic (que não deve cair tão cedo) eleva a atratividade dos investimentos no Brasil.

Risco-país
Além disso, apesar da alta do risco-país brasileiro nesses tempos de crise, o indicador está muito longe de seus piores momentos. Quanto mais alto o risco, maior o potencial de o governo dar calote em sua dívida externa, o que costuma assustar os investidores internacionais. Em 2002, no período da crise pré-eleitoral, o risco brasileiro ficou acima dos 2.400 pontos. No fim das operações de ontem, o indicador estava em 269 pontos.
Entradas mais expressivas de recursos externos podem voltar a derrubar o dólar a seus mais baixos níveis. Ao menos por enquanto, o mercado está cauteloso e prevê que a moeda esteja em R$ 1,80 no fim de 2008. "É necessário um cenário externo mais positivo para contar com uma retomada de apreciação [do câmbio]", avalia Padovani.

Recuperação
Os investidores tiveram motivos para comemorar ontem, pois houve valorizações bem expressivas registradas por diferentes ações. No índice Ibovespa, as altas mais fortes ficaram com: Ipiranga Petróleo PN (13,13%), Petrobras ON (10,58%), CSN ON (10,42%), e Klabin PN (9,10%).
Hoje o Copom anuncia como fica a taxa básica Selic, que está em 11,25% anuais. A expectativa é que a taxa seja mantida.


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