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Inflação pode forçar BC a elevar os juros
JOSÉ MÁRCIO CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nesta semana, os mercados finalmente colocaram
nos preços dos ativos uma
recessão na economia americana. A derrocada das Bolsas
de Valores, a queda dos preços das commodities, inclusive do petróleo, o aumento
da aversão ao risco nos mercados de câmbio, a redução
de 0,75 ponto percentual da
taxa de juros nos Estados
Unidos, tudo aponta para
uma recessão na maior economia do mundo.
A recessão nos Estados
Unidos terá, fatalmente,
efeitos negativos não apenas
para as economias desenvolvidas mas também para as
emergentes, inclusive o Brasil. Qual o cenário mais provável para a economia brasileira?
A queda dos preços das
commodities metálicas deverá gerar uma redução do
superávit comercial brasileiro. Como o crescimento da
demanda interna (consumo,
gastos do governo e investimentos) é maior que o crescimento da oferta de bens e
serviços, a diferença está
sendo coberta por forte crescimento das importações
(40% ao ano). Esse desequilíbrio entre oferta e demanda
ainda não gerou pressão inflacionária devido à forte valorização do real ante ao dólar nos últimos anos.
A redução do superávit comercial e o aumento da aversão ao risco muito provavelmente irão reverter a trajetória da taxa de câmbio. Em
lugar da forte valorização dos
últimos quatro anos, devemos observar estabilidade ou
até mesmo alguma desvalorização cambial. Como resultado, os preços das importações e de produtos que competem com as importações
passarão a mostrar pressão
de alta, explicitando o desequilíbrio entre oferta e procura.
O resultado é que devemos
ter maiores pressões inflacionárias em 2008, o que poderá forçar o Banco Central a
aumentar a taxa de juros ao
longo do ano, reduzindo a taxa de crescimento do PIB dos
projetados 4,5% para 3,5%
em 2008.
Ainda que esse não seja um
cenário particularmente otimista, não se deve exagerar
no pessimismo. Em primeiro
lugar, o Brasil está mais resistente do que em crises anteriores. Tem uma situação
fiscal mais sólida, com quedas sistemáticas da relação
dívida/Produto Interno Bruto, superávits na balança comercial e em conta corrente
e US$ 185 bilhões de reservas
acumuladas.
Por ouro lado, os processos de urbanização na China
e na Índia e o deslocamento
da produção de alimentos
para a geração de energia
manterão os preços das commodities agrícolas, das quais
somos grandes exportadores, em níveis elevados, reduzindo o efeito da queda dos
preços das commodities metálicas sobre as contas externas brasileiras.
Medidas
Em um cenário internacional difícil como esse, cortar os gastos públicos e gerar
um superávit fiscal capaz de
manter a trajetória da relação dívida/PIB em queda é
fundamental. Além de diminuir o excesso de demanda e
minimizar o aumento de juros necessário para colocar a
inflação dentro da meta, essa
decisão teria o efeito de manter a confiança dos investidores nacionais e internacionais nos títulos públicos brasileiros, evitando uma reversão mais forte do fluxo de capitais. Essa é a variável decisiva para que um cenário internacional negativo tenha
impacto relativamente pequeno para a economia brasileira. E, felizmente, ela está
dentro do controle do governo brasileiro.
JOSÉ MÁRCIO CAMARGO é professor do
Departamento de Economia da PUC-RJ e sócio da Tendências Consultoria Integrada.
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