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RECEITA ORTODOXA
Segundo projeto-piloto, país poderá abater do esforço fiscal gastos em infra-estrutura de até US$ 3 bi em 3 anos
Brasil obtém aval do FMI para investimento
FABIANO MAISONNAVE
DE WASHINGTON
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Fundo Monetário Internacional anunciou ontem a aprovação
do projeto-piloto pelo qual o Brasil poderá abater até US$ 3 bilhões
de investimentos em infra-estrutura do esforço fiscal feito para o
pagamento de juros da dívida pública nos próximos três anos.
Na prática, conforme a Folha
antecipou em dezembro, o governo poderá perseguir meta de superávit primário menor, na proporção desses investimentos. "O
projeto-piloto do Brasil proporciona recursos adicionais para
um conjunto de projetos que tem
forte potencial para gerar retornos macroeconômicos e fiscais no
médio prazo, no contexto de um
regime fiscal sustentável e consistente do ponto de vista macroeconômico", disse em nota a diretora
do Departamento Fiscal do Fundo, Teresa Ter-Minassian.
De acordo com a nota, o Brasil
pode abater anualmente, entre
2005 e 2007, até US$ 1 bilhão da
meta do superávit primário. Isso
dá cerca de R$ 2,6 bilhões hoje,
mas membros do FMI dizem que
o valor em reais seria de R$ 2,8 bilhões, conforme o câmbio da época do acordo.
Numa situação hipotética, se o
Brasil tiver de economizar nominalmente R$ 80 bilhões para o superávit primário -a meta deste
ano é 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto)-, até R$ 2,8 bilhões
gastos em infra-estrutura seriam,
com o aval do Fundo, abatidos
desse valor. Com isso, a economia
de receitas para o pagamento de
juros, na prática, cairia para R$
77,2 bilhões, mas o Fundo consideraria a meta como cumprida.
O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, chamou essa
redução na economia de receitas
de "espaço na meta [de superávit]
que poderá ser usado" a critério
do governo.
"O programa-piloto não implica mudanças metodológicas na
forma de calcular o resultado nem
implica excluírem-se despesas
das contas do Orçamento primário", afirma a nota do FMI.
Já na expectativa de que o acordo fosse aprovado, o governo havia separado, no Orçamento de
2005, R$ 2,9 bilhões de investimentos em infra-estrutura.
A nota diz que "o corpo técnico
também aplaude a intenção do
governo de publicar relatório sobre os investimentos incluídos no
projeto-piloto".
De acordo com Levy, a idéia do
projeto-piloto é "acelerar investimentos" que seriam feitos no futuro, de modo a "acelerar seus benefícios". Ele afirmou que entre
esta semana e a próxima o governo divulgará estimativas do custo/benefício de cada projeto selecionado. No resultado do Tesouro, disse, serão informados mês a
mês o superávit primário alcançado e os valores dos investimentos
relacionados ao projeto-piloto.
Levy afirmou que o acordo fechado com o Fundo para a implantação do projeto-piloto é "a
manifestação da credibilidade"
que o Brasil tem com a instituição.
Cerca de 15 outros países também negociam projetos-piloto semelhantes, mas o Brasil foi o primeiro a conseguir o aval técnico
do FMI. O tema será discutido de
forma mais ampla pela diretoria
do Fundo logo após o encontro
do órgão em abril.
O governo diz que o projeto-piloto independe da renovação do
atual programa de ajuda ao Brasil.
O acordo termina no mês que
vem, quando o governo deve comunicar se irá renová-lo ou não.
"O objetivo do projeto-piloto é
que esses investimentos em infra-estrutura sejam realizados em
qualquer circunstância", disse à
Folha Murilo Portugal, representante do Brasil no Fundo. Ele afirmou que diversos países interessados no projeto-piloto, como o
Reino Unido, não têm acordo
com o FMI.
Esses recursos estarão contabilizados nas contas públicas, mas
não impedirão o cumprimento da
meta de superávit primário (economia de receitas para o pagamento de juros).
Desde que os estudos para a implantação do projeto-piloto foram anunciados, em abril do ano
passado, não estava muito claro
como esses investimentos em infra-estrutura seriam contabilizados para efeitos de cálculo do superávit primário.
Havia entendimento equivocado de que, numa meta de superávit nominal de R$ 80 bilhões, por
exemplo, os R$ 2,8 bilhões estariam fora desse valor. Seria como
se o governo obtivesse superávit
de R$ 80 bilhões e recebesse uma
autorização do Fundo para gastar
mais R$ 2,8 bilhões sem que isso
impactasse no cálculo da meta.
É justamente o contrário, os R$
2,8 bilhões poderão estar incluídos nos R$ 80 bilhões e, ainda assim, a meta será cumprida. Ou seja, como investimentos são gastos, a meta na verdade seria de R$
77,2 bilhões. O superávit primário
é o resultado obtido descontando-se as despesas das receitas,
sem incluir o pagamento de juros.
O governo quer utilizar esse dinheiro sobretudo para recuperar
estradas e portos para evitar gargalos para o escoamento da produção no futuro próximo. A escolha e a fiscalização das obras serão
responsabilidade do governo brasileiro.
Colaborou Janaína Leite, da Reportagem Local
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