São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

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Bancos ainda financiam pouco, diz estudo do FMI

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os lucros cada vez maiores das instituições financeiras estão longe de ser um reflexo da expansão de oferta de crédito aos brasileiros. Se comparados aos de outros países da América Latina, dos EUA e do Japão, os bancos do Brasil são os que obtêm maior rentabilidade com menor compromisso com financiamentos.
A conclusão consta em pesquisa da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), feita a partir de dados do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Dados de vários países, com diferentes características econômicas -Argentina, Chile, México, Colômbia, Peru, Estados Unidos e Japão, além do Brasil-, foram cruzados. Os números mostram que, em todos eles, com exceção do Brasil, a participação dos empréstimos nos ativos bancários totais gira em torno de dois terços (66,7%). Por aqui, essa relação é de apenas um terço (33,3%).
Em contrapartida, quando os ativos dos bancos são comparados com os juros recebidos, os brasileiros despontam na liderança. A proporção é que os juros correspondem a 5,2% dos ativos bancários no país. Para os demais latinos, o percentual é 4,2%, ante 3,1% dos bancos dos Estados Unidos e 1,2% dos do Japão.
Para o FMI, os bancos investem cerca de 30% de seus ativos em títulos públicos, para ganhar com os altos juros. Como não há muita concorrência, pois o mercado é concentrado, os empréstimos tornam-se raros e caros.
"A maior parte da receita dos bancos advém de atividades envolvendo juros", afirmam os técnicos do FMI no texto "Estabilização e Reforma na América Latina - Uma perspectiva macroeconômica desde o início de 1990".
Conforme o relatório, divulgado no dia 8, o rendimento dos bancos é particularmente insensível à oscilação de custos. Ou seja, o aumento de gastos por parte dos bancos não abala a margem de ganho dessas instituições.
"O sistema bancário brasileiro é grande, pois tem um total de ativos como proporção do Produto Interno Bruto comparável ao dos Estados Unidos, porém os empréstimos concedidos no Brasil equivalem proporcionalmente a menos da metade", diz o texto.
O FMI foi além e colocou em dúvida a competitividade dos bancos no Brasil.
"A alta concentração das atividades bancárias e as grandes margens de juros sugerem a possibilidade da atuação de forças não-concorrenciais no setor financeiro do Brasil", dizem os economistas. "Também há evidências de comportamento não-concorrencial por parte dos bancos públicos, os maiores do sistema."
Segundo as projeções da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), em 2005 deverá haver um crescimento de 17,78% na oferta de crédito registrada em 2004. Isso significa um aumento real (deflacionado) de 12%. Os banqueiros também se defendem da cobrança de juros. Segundo eles, tributação e recolhimentos compulsórios representam 29,4% do custo de um empréstimo.


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