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País precisa voltar a se endividar, diz Lula
Um dia após Banco Central anunciar que país "zerou" dívida externa, presidente defende gastos em infra-estrutura
Em discurso improvisado no Congresso argentino, presidente afirma que
momento é positivo para investir em obras
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Um dia depois de o Banco
Central anunciar que o país
"zerou" a sua dívida externa, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou ontem em Buenos Aires que o país deve voltar
a se endividar.
"Precisamos aproveitar uma
situação, se não privilegiada,
melhor, para começar a nos endividar. Não para gastar dinheiro à toa, para gastar em infra-estrutura, para facilitar o desenvolvimento da América do
Sul", afirmou Lula em discurso
improvisado ao Congresso Nacional da Argentina, como parte da programação de sua visita
oficial a Buenos Aires para firmar acordos com o vizinho.
"O Brasil deixou de ser devedor internacional para ser credor internacional", disse Lula
em declaração que rendeu
aplausos no Congresso. "Ou seja, em 500 anos de história, nós
fomos devedores. Apenas a partir de ontem, a gente passou a
ter mais reservas que nossa dívida pública e privada."
Lula se referia à informação
divulgada anteontem pelo BC
de que os ativos do governo e do
setor privado registrados no
exterior no fim de janeiro superavam em US$ 4 bilhões o valor
de todas as dívidas contraídas
em outros países.
Na prática, isso significa que
o Brasil está mais preparado
para enfrentar possíveis turbulências econômicas no mercado internacional e menos dependente dos fluxos internacionais de capital -com isso,
ganharia mais confiança do
mercado financeiro.
Em seguida, Lula afirmou
que o momento é positivo para
investir em obras. "Quantas
pontes precisamos construir?
Quantas hidrelétricas precisamos construir? Quantas ferrovias precisamos construir para
que a gente possa acreditar que
o século 21 é o século dos países
que não tiveram sorte ou oportunidade no século 20?", disse
o presidente, após concluir que
o endividamento para gerar investimentos em infra-estrutura é benéfico para o país.
Ricos e pobres
No discurso, Lula também
falou sobre a questão energética, um problema "mundial e
muito delicado", que, segundo
ele, tem como uma de suas
principais causas o fato de os
países ricos não cumprirem
com os protocolos assinados
nos fóruns multilaterais, como
o Protocolo de Kyoto.
Sobre a Rodada Doha, disse
que Brasil e Argentina devem
trabalhar juntos e que "não há
saída individual". "Juntos seremos mais fortes para enfrentar
o protecionismo que ameaça
um acordo justo na rodada."
Após firmar uma série de
acordos com a presidente da
Argentina, Cristina Kirchner,
que visam "superar a inércia
burocrática", Lula falou ao
Congresso sobre o que motiva o
Brasil a investir nas relações
com o país vizinho, que "foi
uma das principais economias
do mundo no começo do século
passado", chegou quase ao fundo do poço e se recuperou.
No almoço oferecido ao presidente, Cristina também teceu
elogios ao Brasil e ao colega e
afirmou que o vínculo com o
país e a região ajudou que a Argentina não entrasse em uma
crise a partir de uma crise mundial pela primeira vez em muito
tempo.
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