São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

País precisa voltar a se endividar, diz Lula

Um dia após Banco Central anunciar que país "zerou" dívida externa, presidente defende gastos em infra-estrutura

Em discurso improvisado no Congresso argentino, presidente afirma que momento é positivo para investir em obras

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Um dia depois de o Banco Central anunciar que o país "zerou" a sua dívida externa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem em Buenos Aires que o país deve voltar a se endividar.
"Precisamos aproveitar uma situação, se não privilegiada, melhor, para começar a nos endividar. Não para gastar dinheiro à toa, para gastar em infra-estrutura, para facilitar o desenvolvimento da América do Sul", afirmou Lula em discurso improvisado ao Congresso Nacional da Argentina, como parte da programação de sua visita oficial a Buenos Aires para firmar acordos com o vizinho.
"O Brasil deixou de ser devedor internacional para ser credor internacional", disse Lula em declaração que rendeu aplausos no Congresso. "Ou seja, em 500 anos de história, nós fomos devedores. Apenas a partir de ontem, a gente passou a ter mais reservas que nossa dívida pública e privada."
Lula se referia à informação divulgada anteontem pelo BC de que os ativos do governo e do setor privado registrados no exterior no fim de janeiro superavam em US$ 4 bilhões o valor de todas as dívidas contraídas em outros países.
Na prática, isso significa que o Brasil está mais preparado para enfrentar possíveis turbulências econômicas no mercado internacional e menos dependente dos fluxos internacionais de capital -com isso, ganharia mais confiança do mercado financeiro.
Em seguida, Lula afirmou que o momento é positivo para investir em obras. "Quantas pontes precisamos construir? Quantas hidrelétricas precisamos construir? Quantas ferrovias precisamos construir para que a gente possa acreditar que o século 21 é o século dos países que não tiveram sorte ou oportunidade no século 20?", disse o presidente, após concluir que o endividamento para gerar investimentos em infra-estrutura é benéfico para o país.

Ricos e pobres
No discurso, Lula também falou sobre a questão energética, um problema "mundial e muito delicado", que, segundo ele, tem como uma de suas principais causas o fato de os países ricos não cumprirem com os protocolos assinados nos fóruns multilaterais, como o Protocolo de Kyoto.
Sobre a Rodada Doha, disse que Brasil e Argentina devem trabalhar juntos e que "não há saída individual". "Juntos seremos mais fortes para enfrentar o protecionismo que ameaça um acordo justo na rodada."
Após firmar uma série de acordos com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que visam "superar a inércia burocrática", Lula falou ao Congresso sobre o que motiva o Brasil a investir nas relações com o país vizinho, que "foi uma das principais economias do mundo no começo do século passado", chegou quase ao fundo do poço e se recuperou.
No almoço oferecido ao presidente, Cristina também teceu elogios ao Brasil e ao colega e afirmou que o vínculo com o país e a região ajudou que a Argentina não entrasse em uma crise a partir de uma crise mundial pela primeira vez em muito tempo.


Texto Anterior: César Benjamin: Além da moeda
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.