São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

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Sem o socorro oferecido pelo Estado, grandes grupos já teriam quebrado

DE NOVA YORK

Além de já terem recebido US$ 90 bilhões em injeções diretas de dinheiro público, os dois maiores bancos dos EUA, Citigroup e Bank of America, só sobrevivem porque se beneficiam de uma outra linha de crédito criada pelo governo.
Desde o final de 2008, bancos "problemáticos" foram autorizados a emitir títulos 100% garantidos pelo Tesouro dos EUA de forma a atrair investidores e levantar recursos. Só o BofA já fez 11 dessas operações, somando US$ 35,5 bilhões. As do Citi, US$ 24 bilhões. No total, houve 91 operações do tipo feitas por vários bancos, que levantaram US$ 168 bilhões.
Na prática, é como se esses bancos agissem como o Tesouro dos EUA (pois o órgão garante as dívidas), só que o dinheiro é usado por eles sem uma estreita supervisão federal.
Embora os bancos tenham declarado até aqui perdas bem menores com os ativos "tóxicos", algumas estimativas apontam que elas podem chegar a US$ 1,8 trilhão, como a da RGE Monitor, consultoria do economista Nouriel Roubini, um dos que previram com mais exatidão a atual crise.
Diante desses números, Edward Yingling, presidente da American Bankers Association (a Febraban americana), respondeu afirmando que "são previsões de quem não tem conhecimentos específicos sobre a situação dos bancos".
Há duas semanas, o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, anunciou que fará "testes de estresse" em vários bancos para julgar quem continua viável. "Não é sua intenção, mas Geithner confirmará a insolvência de vários bancos. Conhecida a verdade, não há mais muito a fazer, a não ser estatizar", escreveu Roubini na semana passada no "The Wall Street Journal".
Chris Whalen, economista da Institutional Risk Analytics, afirma que, mesmo que os "testes de estresse" do Tesouro não sejam feitos em breve, os balanços trimestrais que os bancos terão de publicar no início de abril provocarão o "fim da festa". "É quando o que está óbvio virá à tona", disse.
Nesta crise, além da Islândia, outros países já estatizaram bancos, como Irlanda (Anglo Irish Bank) e Reino Unido (Northern Rock). Na semana passada, a Alemanha também aprovou lei que abre o caminho para a esperada estatização do Hypo Real Estate.
Os próprios EUA já estatizaram bancos no passado, no final da década de 1980, quando foi criada a Resolution Trust Corporation. Ela assumiu as carteiras "tóxicas" dos chamados bancos "zumbis", impôs perdas totais aos acionistas e afastou os administradores.
Depois de limpos, os bancos foram vendidos. Na época, o plano consumiu US$ 130 bilhões e foi aplicado em bancos bem menores dos que os que estão no centro desta crise. (FCZ)


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