São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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Fila compromete o lucro dos caminhoneiros

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PARANAGUÁ

"Eu sempre encarei essa vida de caminhoneiro como vida de cachorro em beira de estrada, tendo que entrar no mato para tomar banho e fazer necessidades." O desabafo é de Luíza Carneiro, 46, que decidiu acompanhar o marido caminhoneiro, Daniel Carneiro, 50, na viagem de 1.900 km de Campo Verde (MT) a Paranaguá (PR) e completava ontem seis dias na fila a 53 km do destino.
Cerca de 5.000 caminhoneiros (segundo a Polícia Rodoviária Federal) estão parados no acostamento da BR-277, no trecho entre Curitiba e Paranaguá, esperando o fim do protesto de operadores e trabalhadores do porto, para entregar as cargas de grãos da safra 2004 destinadas à exportação. A fila chega a cerca de 70 km, de acordo com a Polícia Rodoviária.
Carneiro, que mora em Toledo (PR), recebeu R$ 3.900 pelo frete de 30 toneladas de soja, mas diz que os dias parados na fila estão inviabilizando seu lucro.
"Isso aqui [a fila] é uma vergonha. Todos temos contas para pagar, temos família e estamos parados à espera da solução de uma briga que não é nossa", diz Arnoldo Jeske, 59, na fila desde terça.
"Estamos sendo tratados como os sem-terra, recebendo alimentação do governo para agüentar aqui", diz o curitibano José Carlos Valente, 50, que ganharia R$ 500 por "uma viagem de fim de semana" de 260 km, de Canoinhas (SC) ao porto, e que se viu forçado a esperar na fila desde quinta-feira.
Valente e os demais caminhoneiros passaram a receber do governo do Estado, desde anteontem, kits de alimentação com um quilo de arroz e um de feijão e 250 gramas de charque para as refeições. Segundo o chefe de Operações da Defesa Civil, tenente Maurício Genero, estão sendo distribuídos aos caminhoneiros 40 mil refeições. Vinte banheiros móveis e uma dezena de caixas d'água potável foram espalhados nos pontos mais críticos da rodovia. (MARI TORTATO)


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