São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 2005

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Aumento na taxa pode encarecer crédito ao Brasil e pressionar Selic

DA REPORTAGEM LOCAL

Financiar o crescimento brasileiro ficará mais difícil ou mais caro nos próximos meses caso os juros nos EUA comecem a subir mais rápido. Durante algumas horas no final do dia de ontem, a avaliação no mercado financeiro era que o recado do Fed era justamente este: os juros, em algum momento não muito distante, vão subir de forma mais acentuada.
Foi essa avaliação que trouxe um pouco de pânico ao mercado financeiro , principalmente para os operadores dos mercados de títulos de empresas e de governos emergentes. A ordem, no final do dia, era "fugir para a qualidade", ou seja, sair de Bolsa e de títulos arriscados e comprar papéis do governo dos EUA.
Por enquanto, a piora ou melhora das condições de financiamento para países e empresas emergentes vai depender do quanto durará esse pânico e da mudança do teor das declarações do Banco Central dos EUA.
Quanto o pânico vai durar? Difícil dizer. Pode simplesmente desaparecer hoje, com operadores digerindo melhor a decisão do banco central norte-americano, ou durar mais algumas semanas e antecipar o problema que governos e empresas esperavam mais para meados do ano: o encarecimento do financiamento externo e a fuga de capitais para portos mais seguros.
"Está muito exagerada", comentava ontem, sobre a reação do mercado, Luis Fernando Lopes, economista do Banco Pátria. Apesar de avaliar que o susto não era para tanto, ele não descarta que, nos próximos dias, o movimento de manada para fora dos emergentes continue. "Eu realmente espero que [a reação de ontem] seja um ponto fora da curva", avalia Lopes.
Até agora, não parecia haver sinais de que o apetite por papéis arriscados havia caído de forma drástica.
Mesmo depois das quedas que papéis de emergentes sofreram na semana passada, vários operadores saíram em defesa dos títulos de países como o Brasil. Mohamed El-Erian, o maior operador individual de títulos de emergentes no mundo, tem afirmado que era justamente o momento para comprar títulos. O motivo: os fundamentos de economias como a mexicana e a brasileira estão melhores e os retornos de seus papéis ainda são altos.
A expectativa é que, em 2005, os títulos de países emergentes rendam, em média, 10% ao ano, contra um rendimento previsto de menos de 3% no caso dos papéis do governo dos EUA.
O problema é saber se o diferencial de juros ainda é suficiente para convencer investidores a manter seus investimentos nestes papéis. Outro problema: o diferencial vai diminuir à medida que o Fed suba os juros.
O mercado para emergentes deve continuar hipersensível quanto às perspectivas em relação aos juros nos EUA. Lopes, do Pátria, lembra que a última alta forte dos juros norte-americanos, em 1994, causou nada mais nada menos do que a bancarrota mexicana.
Para o Brasil, além da piora nas condições de financiamento externo, o impacto adicional do aumento da instabilidade externa pode significar ainda mais aperto monetário: frente à instabilidade, o BC brasileiro pode optar por aumentar ou manter a taxa de juros (Selic) alta por mais tempo do que o previsto até agora.
O cenário externo mais conturbado, ainda que já esperado, pode comprometer parte do crescimento esperado para o segundo semestre. O quão brusca será a mudança de cenário dependerá da reação dos mercados nos próximos dias e semanas.


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