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Aumento na taxa pode encarecer crédito ao Brasil e
pressionar Selic
DA REPORTAGEM LOCAL
Financiar o crescimento brasileiro ficará mais difícil ou mais caro nos próximos meses caso os juros nos EUA comecem a subir
mais rápido. Durante algumas
horas no final do dia de ontem, a
avaliação no mercado financeiro
era que o recado do Fed era justamente este: os juros, em algum
momento não muito distante, vão
subir de forma mais acentuada.
Foi essa avaliação que trouxe
um pouco de pânico ao mercado
financeiro , principalmente para
os operadores dos mercados de títulos de empresas e de governos
emergentes. A ordem, no final do
dia, era "fugir para a qualidade",
ou seja, sair de Bolsa e de títulos
arriscados e comprar papéis do
governo dos EUA.
Por enquanto, a piora ou melhora das condições de financiamento para países e empresas
emergentes vai depender do
quanto durará esse pânico e da
mudança do teor das declarações
do Banco Central dos EUA.
Quanto o pânico vai durar? Difícil dizer. Pode simplesmente desaparecer hoje, com operadores
digerindo melhor a decisão do
banco central norte-americano,
ou durar mais algumas semanas e
antecipar o problema que governos e empresas esperavam mais
para meados do ano: o encarecimento do financiamento externo
e a fuga de capitais para portos
mais seguros.
"Está muito exagerada", comentava ontem, sobre a reação
do mercado, Luis Fernando Lopes, economista do Banco Pátria.
Apesar de avaliar que o susto não
era para tanto, ele não descarta
que, nos próximos dias, o movimento de manada para fora dos
emergentes continue. "Eu realmente espero que [a reação de ontem] seja um ponto fora da curva", avalia Lopes.
Até agora, não parecia haver sinais de que o apetite por papéis
arriscados havia caído de forma
drástica.
Mesmo depois das quedas que
papéis de emergentes sofreram na
semana passada, vários operadores saíram em defesa dos títulos
de países como o Brasil. Mohamed El-Erian, o maior operador
individual de títulos de emergentes no mundo, tem afirmado que
era justamente o momento para
comprar títulos. O motivo: os
fundamentos de economias como a mexicana e a brasileira estão
melhores e os retornos de seus papéis ainda são altos.
A expectativa é que, em 2005, os
títulos de países emergentes rendam, em média, 10% ao ano, contra um rendimento previsto de
menos de 3% no caso dos papéis
do governo dos EUA.
O problema é saber se o diferencial de juros ainda é suficiente para convencer investidores a manter seus investimentos nestes papéis. Outro problema: o diferencial vai diminuir à medida que o
Fed suba os juros.
O mercado para emergentes deve continuar hipersensível quanto
às perspectivas em relação aos juros nos EUA. Lopes, do Pátria,
lembra que a última alta forte dos
juros norte-americanos, em 1994,
causou nada mais nada menos do
que a bancarrota mexicana.
Para o Brasil, além da piora nas
condições de financiamento externo, o impacto adicional do aumento da instabilidade externa
pode significar ainda mais aperto
monetário: frente à instabilidade,
o BC brasileiro pode optar por aumentar ou manter a taxa de juros
(Selic) alta por mais tempo do que
o previsto até agora.
O cenário externo mais conturbado, ainda que já esperado, pode
comprometer parte do crescimento esperado para o segundo
semestre. O quão brusca será a
mudança de cenário dependerá
da reação dos mercados nos próximos dias e semanas.
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