São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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FINANÇAS

Agentes levam computadores de agência do Credit Suisse investigada sob suspeita de remessa ilegal e lavagem de dinheiro

PF faz apreensão em banco suíço em SP

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal realizou anteontem uma operação de busca e apreensão em uma agência de "private banking" do Credit Suisse em São Paulo. Essa agência do banco, um dos maiores da Suíça, é investigada pela PF sob suspeita de remessa ilegal de dólares e lavagem de dinheiro, entre outras.
A operação foi realizada com policiais federais armados com metralhadora e durou das 10h às 18h. Foram apreendidos discos rígidos de computadores que podem conter informações sobre as remessas que teriam sido feitas pela agência do Credit Suisse.
A agência fica num dos prédios mais refinados da avenida Faria Lima, na zona oeste de São Paulo. No final dos anos 1990, essa agência só aceitava clientes com no mínimo US$ 10 milhões na conta, segundo a Folha apurou.
"Private banking" é um ramo do mercado financeiro voltado para a administração de grandes fortunas.
A Delegacia de Investigações de Crimes Financeiros da PF iniciou no ano passado as investigações sobre as supostas remessas do Credit Suisse a partir de informações de ex-funcionários da própria agência.
A PF confirmou a realização da operação, mas não deu detalhes sobre a investigação. Ela pode ter como foco clientes do banco ou o próprio banco. O mais provável é que ambos estejam sob investigação policial. O banco disse apenas que está colaborando com a Polícia Federal (leia abaixo).
Ontem, o delegado que preside o inquérito sobre o Credit Suisse, Ricardo Saadi, requisitou à Justiça Federal a quebra de sigilo de uma série de clientes dessa agência do banco. Uma das suspeitas é que alguns desses clientes sejam doleiros. O Ministério Público Federal ainda não se manifestou sobre o pedido. Todos os documentos sobre a operação estão protegidos por segredo de Justiça.
A agência de "private banking" do Credit não tem relação com esse banco no Brasil. Tanto que é subordinada na hierarquia internacional à divisão de "private banking" do Credit nos EUA.
O Credit atua no Brasil como banco de investimentos, com escritórios no Rio e em São Paulo. Tem 270 funcionários e, em dezembro do ano passado, tinha um patrimônio líquido de US$ 343 milhões (o equivalente hoje a cerca de R$ 744 milhões). Em seu site, ele se diz "o maior banco de investimento do Brasil".
A agência do Credit da Faria Lima é investigada também sob a suspeita de desrespeitar os limites que o Banco Central impõe aos "private banking". O Banco Central permite que esses bancos só operem como representantes no país por meio de uma licença especial.
Eles não podem captar recursos nem fazer empréstimos. Podem, por exemplo, captar clientes para sua agências nos EUA ou na Suíça. Na prática, quase todos os escritórios de "private banking" fazem remessas para o exterior.
Segundo dois advogados especializados no mercado financeiro ouvidos pela Folha, o "private banking" atua justamente no segmento de remessas de divisas para o exterior. Um dos especialistas, que não quiseram se identificar, ironizou a operação da Polícia Federal. Se a intenção da polícia é combater remessas feitas pelos "private", segundo ele, a operação não deveria atingir uma agência da Faria Lima, mas as mais de 20 que operam nessa avenida.

18 investigados
A Folha noticiou em fevereiro que a PF abriu inquérito para apurar a participação de 18 bancos em operações sistemáticas de remessas de dólares para dentro e fora do país com a utilização de doleiros. A polícia chegou aos bancos a partir de investigações sobre doleiros. O Credit Suisse não estava entre os 18 citados.
As remessas, diz a PF, eram quase sempre feitas com a participação das áreas de "private banking" das instituições financeiras.
A PF pretende indiciar os administradores dos bancos para que sejam apontados os responsáveis por essas áreas quando as operações ocorreram.


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