São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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PÚBLICO X PRIVADO

França cobra "segurança jurídica" para investimento do país no exterior; Suez manterá ação contra Casa Rosada

Reestatização elimina injustiça, diz Kirchner

Natacha Pisarenko - 1º.mar.06/Associated Press
O presidente Néstor Kirchner, que reestatizou serviço de água


FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

"Terminamos com uma ofensa e uma injustiça." Assim o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, definiu ontem a reestatização dos serviços de água e esgoto da Grande Buenos Aires.
A decisão foi tomada anteontem, por decreto, quando o governo reincidiu o contrato com a concessionária do serviço, Aguas Argentinas, controlada pelo grupo francês Suez. O governo argumentou não-cumprimento do acordo e má qualidade da água.
"Faz 15 anos que estão na Argentina, levaram milhares de dólares em lucros e temos que rogar que venha uma gota de água. Terminou. Agora, os argentinos vamos construir o destino como devemos", disse Kirchner em ato popular de entrega de computadores na região metropolitana.
Ontem, representantes da Suez na França afirmaram que a rescisão com a Argentina era esperada e que a empresa manterá a ação contra a Casa Rosada no tribunal de arbítrio internacional do Bird (Banco Mundial). A Suez e sócios na Aguas Argentinas cobram o US$ 1,7 bilhão investido no país.
O rompimento com a Aguas Argentinas gerou reação do governo francês, que pediu "segurança jurídica" para o investimento da França no exterior. O porta-voz da chancelaria francesa solicitou que a saída da Suez seja acompanhada por "medidas apropriadas" do governo de Néstor Kirchner.
Ontem, o governo ainda não havia informado se absorveria o passivo de Aguas Argentinas e detalhes sobre a transferência do serviço ao Estado. Estima-se que haja US$ 300 milhões em dívidas com organismos multilaterais.

Próximo alvo
Para analistas ouvidos pela Folha, a reestatização do serviço de água não é fato isolado. Os economista Aldo Abram, da consultoria Exante, e Luis Espert concordam que o próximo setor que pode voltar às mãos do governo é o de linhas férreas para transporte de passageiros.
Uma linha já foi reestatizada pelo governo, no ano passado. Há também reclamações pelo serviço, e, como no caso da Aguas Argentinas, não haveria interesse privado em adquirir a concessão. "A opção do governo é clara: não renegociar os contratos e forçar a saída do capital estrangeiro. A preferência é para capital local ou estatal", afirma Luis Espert.
De acordo com os analistas, há também na Casa Rosada um setor que prega a reestatização da companhia aérea Aerolíneas Argentinas, hoje controlada por um grupo espanhol.


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