São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2007

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86% dos acordos salariais batem inflação

Dado é o melhor desde início da pesquisa do Dieese, em 1996, mas salários ainda estão longe de recuperar perdas passadas

Inflação baixa, crescimento da economia, formalização de vagas e aumento do salário mínimo ajudam negociações em 2006


CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os trabalhadores obtiveram aumento real acima da inflação em 86% das negociações salariais realizadas no ano passado. O resultado é o melhor obtido nos últimos 11 anos, segundo informa o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), ao analisar 656 acordos salariais em 22 Estados.
Em 2005, 72% dos acordos haviam superado as perdas causadas pela inflação.
Os ganhos reais foram concedidos em todos os setores -indústria, comércio e serviços- e ficaram concentrados na faixa até 2% acima da inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). O indicador, calculado pelo IBGE, é o mais usado nas negociações. Fechou 2006 em 2,81%.
O crescimento da economia pelo terceiro ano consecutivo, a baixa pressão da inflação sobre os salários e a melhora no mercado de trabalho, com a criação de empregos com carteira assinada, foram "determinantes" para as negociações salariais, na análise de economistas, sindicalistas e técnicos do Dieese.
Os trabalhadores conseguiram superar ou zerar as perdas acumuladas pela inflação nos 12 meses anteriores a cada data-base em 96% (632 acordos) das negociações feitas em 2006. O percentual também é o melhor desde 1996, quando o Dieese iniciou o estudo sobre os reajustes. Em 2005, 88% dos 640 acordos foram iguais ou superiores à inflação.
"A baixa inflação acumulada no ano passado explica esse resultado. Em 2003, quando o PIB cresceu apenas 0,5% [pela antiga metodologia do IBGE] e a inflação chegou ao patamar de 20%, quase 60% das negociações ficaram abaixo da inflação. Foi o pior ano para as negociações", afirma José Silvestre de Oliveira, supervisor do Dieese em São Paulo.
Em 2006, quando a economia cresceu 2,9% e a inflação não superou 3%, diz ele, só 3,7% dos acordos não conseguiram repor as perdas salariais.
Para o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, a criação de postos formais de trabalho e as taxas de desemprego em declínio também permitiram a conquista de reajustes melhores. No ano passado, foi criado 1,2 milhão de vagas com carteira assinada, segundo o governo federal.
"O aumento da formalização, que vem ocorrendo desde 2004, e do nível de ocupação [cresceu 2,67% em 2006 sobre o ano anterior, segundo projeção da LCA] contribuíram para melhorar as negociações feitas pelos sindicatos. Os empregos formais pagam salários melhores", afirma Romão.
O reajuste concedido ao salário mínimo (descontada a inflação, o ganho real foi de 13%) também teve impacto nas negociações salariais. "As categorias com mais dificuldade em se organizar buscam o aumento do salário mínimo como referência, principalmente nos pisos profissionais", afirma Anselmo Luís dos Santos, professor da Unicamp.
Apesar dos resultados positivos, os especialistas ressaltam que os salários estão "longe" de recuperar as perdas entre 1997 e 2003. O rendimento de um assalariado da região metropolitana de São Paulo corresponde a 76,5% do que valia em 1995. "O que houve foi um estancamento das perdas salariais. É preciso que o desemprego caia e o país cresça acima de 5% para recuperar o poder de compra dos salários", afirma Santos. Arnaldo Nogueira, professor da PUC-SP, ressalva ainda que os reajustes acima da inflação refletem só parte do mercado formal.


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