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86% dos acordos salariais batem inflação
Dado é o melhor desde início da pesquisa do Dieese, em 1996, mas salários ainda estão longe de recuperar perdas passadas
Inflação baixa, crescimento da economia, formalização de vagas e aumento do salário mínimo ajudam negociações em 2006
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os trabalhadores obtiveram
aumento real acima da inflação
em 86% das negociações salariais realizadas no ano passado.
O resultado é o melhor obtido
nos últimos 11 anos, segundo
informa o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), ao analisar 656 acordos
salariais em 22 Estados.
Em 2005, 72% dos acordos
haviam superado as perdas
causadas pela inflação.
Os ganhos reais foram concedidos em todos os setores -indústria, comércio e serviços- e
ficaram concentrados na faixa
até 2% acima da inflação medida pelo INPC (Índice Nacional
de Preços ao Consumidor). O
indicador, calculado pelo IBGE, é o mais usado nas negociações. Fechou 2006 em 2,81%.
O crescimento da economia
pelo terceiro ano consecutivo, a
baixa pressão da inflação sobre
os salários e a melhora no mercado de trabalho, com a criação
de empregos com carteira assinada, foram "determinantes"
para as negociações salariais,
na análise de economistas, sindicalistas e técnicos do Dieese.
Os trabalhadores conseguiram superar ou zerar as perdas
acumuladas pela inflação nos
12 meses anteriores a cada data-base em 96% (632 acordos)
das negociações feitas em
2006. O percentual também é o
melhor desde 1996, quando o
Dieese iniciou o estudo sobre
os reajustes. Em 2005, 88% dos
640 acordos foram iguais ou
superiores à inflação.
"A baixa inflação acumulada
no ano passado explica esse resultado. Em 2003, quando o
PIB cresceu apenas 0,5% [pela
antiga metodologia do IBGE] e
a inflação chegou ao patamar
de 20%, quase 60% das negociações ficaram abaixo da inflação. Foi o pior ano para as negociações", afirma José Silvestre
de Oliveira, supervisor do Dieese em São Paulo.
Em 2006, quando a economia cresceu 2,9% e a inflação
não superou 3%, diz ele, só
3,7% dos acordos não conseguiram repor as perdas salariais.
Para o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, a
criação de postos formais de
trabalho e as taxas de desemprego em declínio também permitiram a conquista de reajustes melhores. No ano passado,
foi criado 1,2 milhão de vagas
com carteira assinada, segundo
o governo federal.
"O aumento da formalização,
que vem ocorrendo desde
2004, e do nível de ocupação
[cresceu 2,67% em 2006 sobre
o ano anterior, segundo projeção da LCA] contribuíram para
melhorar as negociações feitas
pelos sindicatos. Os empregos
formais pagam salários melhores", afirma Romão.
O reajuste concedido ao salário mínimo (descontada a inflação, o ganho real foi de 13%)
também teve impacto nas negociações salariais. "As categorias com mais dificuldade em se
organizar buscam o aumento
do salário mínimo como referência, principalmente nos pisos profissionais", afirma Anselmo Luís dos Santos, professor da Unicamp.
Apesar dos resultados positivos, os especialistas ressaltam
que os salários estão "longe" de
recuperar as perdas entre 1997
e 2003. O rendimento de um
assalariado da região metropolitana de São Paulo corresponde a 76,5% do que valia em
1995. "O que houve foi um estancamento das perdas salariais. É preciso que o desemprego caia e o país cresça acima
de 5% para recuperar o poder
de compra dos salários", afirma
Santos. Arnaldo Nogueira, professor da PUC-SP, ressalva ainda que os reajustes acima da inflação refletem só parte do
mercado formal.
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