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Leilão da Cesp exibe gargalos na energia
Risco regulatório e incertezas sobre formação de preços ameaçam sucesso de leilão da geradora, marcado para quarta
Governo do Estado de SP minimiza problema da
renovação das concessões e vê pressão para venda sair
pelo menor valor possível
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Marcado para a próxima
quarta-feira, o leilão de privatização da Cesp, a terceira maior
geradora brasileira, reabriu as
discussões em torno do modelo
de comercialização de energia e
de regulação do setor no Brasil,
país em que um crescimento
robusto pode esbarrar na falta
de eletricidade.
Além de gargalos regulatórios, como as regras deficientes
para renovação das concessões, as elétricas
enfrentam ainda um sistema de
formação de de preços que dificulta o planejamento de fornecedores e dos consumidores,
entre eles indústrias intensivas
em energia, como as siderúrgicas. Parte dos preços é regulada, e o restante, em tese, livre,
formado nos leilões de energia,
que têm preços máximos.
O resultado dessas incertezas pode redundar no fracasso
da venda da Cesp. Se concretizado, será o maior leilão de privatização desde a venda do Banespa, em 2000. Os concorrentes não confirmam sua participação no leilão, sob a alegação
de que o preço pode não compensar os riscos assumidos.
Não está claro, porém, se esses riscos afastarão realmente
os competidores da Cesp ou se
a desqualificação faz parte de
uma estratégia para diminuir a
concorrência e comprá-la pelo
menor valor possível. Na disputa, estão a franco-belga Suez/
Tractebel e a brasileira CPFL.
"Isso acontece em todos os
leilões. É uma estratégia para
comprar da forma mais barata
possível. Nós fixamos um preço
mínimo pelo qual vale a pena o
Estado se desfazer da Cesp",
disse Mauro Ricardo Costa, secretário da Fazenda, que minimiza o problema das concessões. "Todas serão renovadas."
Com a oferta de energia apertada em relação à demanda nos
próximos quatro anos, a tendência clara é de alta nos preços
do setor. O mercado brasileiro
de energia cresce 5% ao ano, e
as maiores elétricas do mundo
passam por uma consolidação
sem precedentes, que as impele
a explorar mercados novos, como o Brasil. No caso, os riscos
regulatórios e de preços representam também oportunidades de entrada em negócios
com um preço mais baixo.
Prevendo pouca concorrência, o governo paulista fixou o
preço da Cesp em patamar considerado alto, a R$ 49,75 por
ação -na quinta, as ações terminaram a R$ 43,40. O custo
total de investimento na aquisição da Cesp chega a R$ 22 bilhões, incluindo a oferta obrigatória aos minoritários, dívidas e investimentos.
O preço enfureceu os concorrentes, que desde sua fixação
têm pressionado para diminuir
o valor da aquisição. No mercado, comenta-se que alguns bancos fizeram operações financeiras sofisticadas de "aluguel
de ações", com o objetivo de
derrubar o preço dos papéis.
O governo paulista afirma
que decidiu vender a Cesp não
por uma necessidade de caixa,
mas para viabilizar seu programa de investimentos em infra-estrutura de transporte, uma
vez que o setor privado tem interesse em explorar e em investir em energia.
"Dá para esperar mais cinco
anos até resolver o problema
das concessões? Pergunte ao
usuário de metrô se ele pode
esperar mais cinco anos para
ter uma nova linha. Pergunte
ao passageiro da CPTM se ele
pode esperar cinco anos para
converter o trem de superfície
em metrô. Pergunte à população se dá para esperar dois ou
três anos para ter coleta e tratamento de esgoto", diz Costa.
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