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YOSHIAKI NAKANO
No auge do ciclo
A redução dos preços das commodities terá impactos sobre as exportações e
o nosso crescimento
NOS PRÓXIMOS meses a economia brasileira atingirá o auge
do ciclo de recuperação. Tudo indica que perderemos uma
oportunidade histórica de transitar
para crescimento acelerado e sustentado por longo prazo. Vários indicadores e eventos internacionais
sinalizam que uma economia dependente de fatores externos para
crescer, como a nossa, está chegando ao auge do crescimento. Da mesma forma, a recuperação do mercado interno está também chegando a
seu limite com as restrições impostas pela política macroeconômica.
Com a crise financeira americana,
o crescimento da economia mundial
previsto pelo FMI em 5,2% foi revisto para 4,8%, depois para 4,1%, e nova revisão para baixo será anunciada. A economia americana deverá
crescer menos de 1%, e a européia
também desacelerará. A China, com
a taxa de inflação atingindo 8,7% em
fevereiro, fará esforços para desacelerar o crescimento. Eles anunciaram a meta de crescimento de 8%
para este ano e, para atingi-la, será
necessário desacelerar o crescimento em 3,4 pontos percentuais em relação ao ano passado. Os mercados
de commodities já dão sinais de estar atingindo o pico -a queda dos
preços vem ocorrendo pela recessão
e pela saída dos afetados pela crise
financeira. Estamos assistindo, simultaneamente, a desaceleração da
economia global e o esfriamento dos
preços de commodities com óbvios
impactos sobre nossas exportações
e nosso crescimento.
A metástase da crise financeira
norte americana vem se mostrando
com uma extensão maior e mais
profunda do que se imaginava, podendo provocar uma reviravolta no
fluxo de capitais, levando à depreciação do real e com impacto imediato sobre a taxa de inflação.
Enquanto isso, a política de taxa
de juros elevadas do Banco Central e
a forte apreciação da taxa de cambial, desde 2004, vêm manifestando
seus efeitos defasados, acelerando o
aumento de importações, mês a
mês, de forma que, em fevereiro passado, comparado com o mesmo mês
do ano anterior, elas crescessem à
taxa de 64,8%! Isso é insustentável,
pois já no final do ano teremos um
megadéficit nas transações correntes -e o desfecho desse quadro é
bastante conhecido. Com a taxa de
câmbio tão apreciada, não é à toa
que o consumo doméstico cresça a
9% enquanto a produção doméstica
cresça pouco mais de 5%. Obviamente, só uma explosão nas importações fecha as contas.
As condições das experiências
bem-sucedidas de transição para
crescimento acelerado por longo
prazo são conhecidas: maior abertura da economia, ampliando de forma
sustentável o fluxo de comércio externo, evitando para isso que a taxa
de câmbio se aprecie; ampliação da
taxa de investimento produtivo -no
nosso caso, em pelo menos 5% em
relação ao PIB, para que este possa
crescer sustentadamente 5% ao ano;
redução relativa do consumo do governo, para abrir espaço para a ampliação da taxa de investimento; e
fazer as reformas institucionais necessárias no prazo de até cinco anos
depois de iniciada a aceleração.
Infelizmente, fizemos importantes avanços em algumas áreas, mas
nem de longe construímos as condições acima.
YOSHIAKI NAKANO, 62, diretor da Escola de Economia de
São Paulo da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario
Covas (1995-2001).
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