São Paulo, domingo, 23 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Segredo é esticar as prestações para valor ficar menor", afirma doméstica

Alan Marques - 20.mar.08/Folha Imagem
A doméstica Altiva de Souza com a TV que comprou em parcelas, assim como uma moto e um carrinho de cachorro-quente

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com uma renda familiar em torno de R$ 1.000, a empregada doméstica Altiva Fernandes de Souza, 39, vê no financiamento a única forma de ter as coisas que quer.
"Se for esperar juntar dinheiro, não vamos comprar nada, nunca. Já a prestação temos que pagar porque não vamos sujar nosso nome", diz, de forma enfática.
E foi assim que ela conseguiu comprar nos últimos dois anos um carrinho de cachorro-quente para o marido -que ficou impedido de trabalhar na roça por problemas na coluna-, uma moto usada para o filho e uma TV de 29 polegadas, o orgulho da casa.
"Temos uma renda pequena. O segredo é esticar as prestações para ficar um valor mais baixo", diz. Ampliar o número de parcelas nos empréstimos é a estratégia do varejo para atingir um público que prefere "pagar 20 prestações de R$ 12,50 a comprar mais barato pagando 10 de R$ 20", segundo o presidente do Banco Popular do Brasil, Robson Rocha.
"É claro que o BC está preocupado com esse alongamento de prazo. Ao elevar os juros futuros com os alertas da ata do Copom, ele encarece o custo de captação dos bancos, as operações de longo prazo e eles tendem a ser mais restritivos. É uma forma indireta de apertar o crédito", argumenta o economista Jankiel Santos, do banco BES Investimento.
A diarista Gorete dos Santos, 43, comprou a máquina de lavar dos seus sonhos em dez prestações de R$ 113, no cartão de crédito. O valor "cabe perfeitamente no orçamento" dela: um pouco mais de R$ 1.000 por mês, já descontados os gastos com passagem.
Mas o limite são dez parcelas. "Não faço mais do que isso porque não coloco a mão onde meu braço não alcança." Mais empolgado, o vigia Orliam Oliveira, de 38 anos, aventurou-se no financiamento de um carro zero. "Vou pagar em 60 meses", explica, sem querer revelar a renda familiar.
O carro foi seu segundo sonho realizado, o primeiro foi a casa própria -R$ 80 mil, financiada em dez anos.
Os financiamentos de veículos e imóveis são as novidades no segmento do crédito para baixa renda. "As primeiras operações foram de crédito para quitar dívidas. Depois eles começaram a consumir bens mais baratos, e a evolução natural é atingir os segmentos imobiliário e de automóveis", argumenta José Artur Assunção, vice-presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).
Para Luiz Antônio França, presidente da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança), o déficit habitacional no país é de cerca de 8 milhões de unidades e 80% se concentram nas camadas de menor renda. "O setor imobiliário já começa a se preparar para trabalhar com esse público." (SDA)


Texto Anterior: Restrição ao crédito pode atingir baixa renda
Próximo Texto: Morre, no PR, empresário Cecílio do Rego Almeida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.