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"Segredo é esticar as prestações para valor ficar menor", afirma doméstica
Alan Marques - 20.mar.08/Folha Imagem
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A doméstica Altiva de Souza com a TV que comprou em parcelas, assim como uma moto e um carrinho de cachorro-quente
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com uma renda familiar em
torno de R$ 1.000, a empregada doméstica Altiva Fernandes de Souza, 39, vê no financiamento a única forma de ter
as coisas que quer.
"Se for esperar juntar dinheiro, não vamos comprar
nada, nunca. Já a prestação temos que pagar porque não vamos sujar nosso nome", diz, de
forma enfática.
E foi assim que ela conseguiu comprar nos últimos dois
anos um carrinho de cachorro-quente para o marido -que ficou impedido de trabalhar na
roça por problemas na coluna-, uma moto usada para o
filho e uma TV de 29 polegadas, o orgulho da casa.
"Temos uma renda pequena. O segredo é esticar as prestações para ficar um valor mais
baixo", diz. Ampliar o número
de parcelas nos empréstimos é
a estratégia do varejo para
atingir um público que prefere
"pagar 20 prestações de R$
12,50 a comprar mais barato
pagando 10 de R$ 20", segundo
o presidente do Banco Popular
do Brasil, Robson Rocha.
"É claro que o BC está preocupado com esse alongamento
de prazo. Ao elevar os juros futuros com os alertas da ata do
Copom, ele encarece o custo
de captação dos bancos, as
operações de longo prazo e
eles tendem a ser mais restritivos. É uma forma indireta de
apertar o crédito", argumenta
o economista Jankiel Santos,
do banco BES Investimento.
A diarista Gorete dos Santos,
43, comprou a máquina de lavar dos seus sonhos em dez
prestações de R$ 113, no cartão
de crédito. O valor "cabe perfeitamente no orçamento" dela: um pouco mais de R$ 1.000
por mês, já descontados os gastos com passagem.
Mas o limite são dez parcelas. "Não faço mais do que isso
porque não coloco a mão onde
meu braço não alcança." Mais
empolgado, o vigia Orliam Oliveira, de 38 anos, aventurou-se
no financiamento de um carro
zero. "Vou pagar em 60 meses", explica, sem querer revelar a renda familiar.
O carro foi seu segundo sonho realizado, o primeiro foi a
casa própria -R$ 80 mil, financiada em dez anos.
Os financiamentos de veículos e imóveis são as novidades
no segmento do crédito para
baixa renda. "As primeiras
operações foram de crédito para quitar dívidas. Depois eles
começaram a consumir bens
mais baratos, e a evolução natural é atingir os segmentos
imobiliário e de automóveis",
argumenta José Artur Assunção, vice-presidente da Acrefi
(Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).
Para Luiz Antônio França,
presidente da Abecip (Associação Brasileira das Entidades
de Crédito Imobiliário e Poupança), o déficit habitacional
no país é de cerca de 8 milhões
de unidades e 80% se concentram nas camadas de menor
renda. "O setor imobiliário já
começa a se preparar para trabalhar com esse público."
(SDA)
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