São Paulo, domingo, 23 de março de 2008

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Morre, no PR, empresário Cecílio do Rego Almeida

Dono de empreiteira será enterrado hoje em Curitiba, onde faleceu aos 78

O empresário foi pivô da cassação do governador paranaense Haroldo Leon Peres, em 1971, ao revelar a Médici cobrança de propina

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu ontem em Curitiba (PR), aos 78 anos, o empresário Cecílio do Rego Almeida, vítima de infarto.
Conhecido como CR Almeida, era dono do grupo que leva seu nome e reúne mais de 30 empresas que atuam nas áreas de construção pesada, concessão de rodovias e logística de transporte e indústria química.
Almeida se sentiu mal na madrugada de sábado e foi internado na UTI do Hospital Santa Cruz, onde faleceu às 9h30.
O corpo está sendo velado na capela 4 do Cemitério Parque Iguaçu, na capital paranaense, e o enterro está marcado para as 17h deste domingo.
Almeida deixa a mulher, Ângela Brandão Almeida, seis filhos e 21 netos.
Um de seus filhos é o deputado federal pelo Paraná Marcelo Almeida (PMDB), ex-secretário de obras do governador do Estado Roberto Requião (PMDB) e um dos pretendentes do partido a concorrer à prefeitura de Curitiba nas eleições deste ano.

Mais rico
Nascido em Óbidos, no Pará, o empresário mudou-se com a família para o Paraná aos sete anos. Aos nove, começou a trabalhar como vendedor de sementes a lavradores, de laranjas e de palmito.
Também foi funcionário dos Correios, onde ingressou aos 14 anos. Trabalhou como operador de máquina Baudot, que transmitia em código, parecido com o Morse, o que lhe valeu o hábito de dedilhar à mesa durante reuniões.
Aos 16, abriu seu primeiro negócio, uma loja de calçados, com um empréstimo bancário. Aos 19, cursando engenharia, foi professor de matemática.
Fundou o grupo CR Almeida, com seu irmão Félix, em 1958, e na década de 90 foi apontado como detentor de uma das maiores fortunas do Brasil.
Em 1992, figurou na lista da revista norte-americana "Forbes" com um patrimônio avaliado em US$ 1,3 bilhão.
No auge de seus negócios, o grupo fechou grandes contratos com a União, a partir do governo de Juscelino Kubitschek, na década de 50, até os anos 70, no regime militar. A empresa executou as obras da BR-277 (Curitiba-Paranaguá) e pavimentou as rodovias Belém-Brasília e Rio-Santos.
O patrimônio estimado do grupo CR Almeida é de R$ 9,4 bilhões. Mas, ao morrer, seu fundador já não figurava mais nas listas dos mais ricos.

Denúncias
Em 1971, Cecílio do Rego Almeida foi o pivô da cassação do governador do Paraná Haroldo Leon Peres, da Arena.
O empresário enviou ao presidente Emílio Médici uma gravação de conversa com Peres, em que este pedia uma comissão para liberar verbas devidas à construtora CR Almeida.
Em entrevista à Folha, publicada em 1993, o empreiteiro admitiu que se dispunha a pagar uma propina de 4%, mas que o governador queria cerca de 30%.
Almeida também acusou o governo Collor e uma construtora rival de corrupção em licitações de obras públicas.
No final da década de 90, trouxe à tona novas negociatas em licitações, desta vez relacionadas à oferta da banda B de telefonia celular no interior paulista e envolvendo sua própria empresa.
O empresário também foi alvo de acusações, de grupos ambientalistas e do Ministério Público Federal, de ser dono de vastas extensões de terras no norte do país por meio de grilagem (apropriação ilegal).
A área ao sudoeste do Pará é rica em mogno e abriga reservas indígenas.
Almeida sempre negou as acusações de grilagem.
(DIMITRI DO VALLE E DÉBORA FANTINI)


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