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Morre, no PR, empresário Cecílio do Rego Almeida
Dono de empreiteira será enterrado hoje em Curitiba, onde faleceu aos 78
O empresário foi pivô da cassação do governador paranaense Haroldo Leon Peres, em 1971, ao revelar a Médici cobrança de propina
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreu ontem em Curitiba
(PR), aos 78 anos, o empresário
Cecílio do Rego Almeida, vítima de infarto.
Conhecido como CR Almeida, era dono do grupo que leva
seu nome e reúne mais de 30
empresas que atuam nas áreas
de construção pesada, concessão de rodovias e logística de
transporte e indústria química.
Almeida se sentiu mal na madrugada de sábado e foi internado na UTI do Hospital Santa
Cruz, onde faleceu às 9h30.
O corpo está sendo velado na
capela 4 do Cemitério Parque
Iguaçu, na capital paranaense,
e o enterro está marcado para
as 17h deste domingo.
Almeida deixa a mulher, Ângela Brandão Almeida, seis filhos e 21 netos.
Um de seus filhos é o deputado federal pelo Paraná Marcelo
Almeida (PMDB), ex-secretário de obras do governador do
Estado Roberto Requião
(PMDB) e um dos pretendentes do partido a concorrer à
prefeitura de Curitiba nas eleições deste ano.
Mais rico
Nascido em Óbidos, no Pará,
o empresário mudou-se com a
família para o Paraná aos sete
anos. Aos nove, começou a trabalhar como vendedor de sementes a lavradores, de laranjas e de palmito.
Também foi funcionário dos
Correios, onde ingressou aos 14
anos. Trabalhou como operador de máquina Baudot, que
transmitia em código, parecido
com o Morse, o que lhe valeu o
hábito de dedilhar à mesa durante reuniões.
Aos 16, abriu seu primeiro
negócio, uma loja de calçados,
com um empréstimo bancário.
Aos 19, cursando engenharia,
foi professor de matemática.
Fundou o grupo CR Almeida,
com seu irmão Félix, em 1958, e
na década de 90 foi apontado
como detentor de uma das
maiores fortunas do Brasil.
Em 1992, figurou na lista da
revista norte-americana "Forbes" com um patrimônio avaliado em US$ 1,3 bilhão.
No auge de seus negócios, o
grupo fechou grandes contratos com a União, a partir do governo de Juscelino Kubitschek,
na década de 50, até os anos 70,
no regime militar. A empresa
executou as obras da BR-277
(Curitiba-Paranaguá) e pavimentou as rodovias Belém-Brasília e Rio-Santos.
O patrimônio estimado do
grupo CR Almeida é de R$ 9,4
bilhões. Mas, ao morrer, seu
fundador já não figurava mais
nas listas dos mais ricos.
Denúncias
Em 1971, Cecílio do Rego Almeida foi o pivô da cassação do
governador do Paraná Haroldo
Leon Peres, da Arena.
O empresário enviou ao presidente Emílio Médici uma gravação de conversa com Peres,
em que este pedia uma comissão para liberar verbas devidas
à construtora CR Almeida.
Em entrevista à Folha, publicada em 1993, o empreiteiro
admitiu que se dispunha a pagar uma propina de 4%, mas
que o governador queria cerca
de 30%.
Almeida também acusou o
governo Collor e uma construtora rival de corrupção em licitações de obras públicas.
No final da década de 90,
trouxe à tona novas negociatas
em licitações, desta vez relacionadas à oferta da banda B de telefonia celular no interior paulista e envolvendo sua própria
empresa.
O empresário também foi alvo de acusações, de grupos ambientalistas e do Ministério Público Federal, de ser dono de
vastas extensões de terras no
norte do país por meio de grilagem (apropriação ilegal).
A área ao sudoeste do Pará é
rica em mogno e abriga reservas indígenas.
Almeida sempre negou as
acusações de grilagem.
(DIMITRI DO VALLE E DÉBORA FANTINI)
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