São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2010

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entrevista

Falta de poupança acentua riscos, diz especialista

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização), Luis Afonso Lima, afirma que a situação das contas externas hoje não é tão preocupante como em 2001, quando o país saía de uma sequência de seis anos de deficit.
Ele diz, porém, que a falta de poupança nacional para cobrir os investimentos necessários no país pode agravar a dependência de capital externo nos próximos anos. A entidade continua prevendo ingresso de US$ 40 bilhões em investimento direto estrangeiro no ano, menos do que os US$ 45 bilhões estimados pelo Banco Central.
Em relação ao câmbio, diz Lima, o efeito do deficit nas contas externas deve ser o de "depreciação da moeda nacional no longo prazo".

 

FOLHA - Pela primeira vez desde 2001, o deficit em transações correntes vai superar o investimento estrangeiro direto. O fato de o país estar sendo financiado por capital de curto prazo é ruim?
LUIS AFONSO LIMA -
Não é algo positivo você ter um deficit em transações correntes financiado por investimento em carteira [ações e títulos públicos]. Hoje, no entanto, as remessas são retornos de investimentos diretos no país. É uma situação mais confortável, porque você remete aquilo que você gera em reais. Se a economia reduz a velocidade, as remessas também caem. No passado, o passivo externo era formado por dívidas, e você tinha de pagar os juros independentemente da sua situação econômica.

FOLHA - Pesquisa semanal do BC já projeta um deficit de US$ 60 bilhões para 2011. Mesmo com esse crescimento nos próximos anos será possível manter o equilíbrio dessas contas?
LIMA -
O deficit em transações correntes é um reflexo da falta de poupança nacional e é isso que deveria ser combatido. A gente tem um deficit nominal elevado [nas contas públicas], que impede o país de crescer sem abrir mão de poupança externa. O problema é que não temos alternativa para financiar esse crescimento, uma poupança nacional do setor público e privado.

FOLHA - Qual é o impacto desses resultados sobre o câmbio?
LIMA -
No longo prazo, não prevemos apreciação do real. Pelo contrário, a expectativa é de depreciação da moeda nacional no longo prazo, por conta desses deficit.

FOLHA - Essa depreciação deve ajudar na recuperação da balança comercial? O mercado já prevê um resultado comercial próximo de zero em 2011 por conta do aumento das importações.
LIMA -
Isso não é automático, é um ajuste de longo prazo. Em 1999, a moeda se depreciou, mas só após dois anos é que a balança comercial começou a responder.

FOLHA - O ingresso de investimentos diretos ainda está fraco e o BC aposta em uma recuperação no segundo semestre para chegar a US$ 45 bilhões. O cenário internacional colabora para isso?
LIMA -
Este começo de ano ainda não é um reflexo do que vai acontecer daqui para a frente. Há uma recuperação gradual da atividade econômica mundial, e isso também deve se refletir no investimento para o Brasil. Mas ainda não tenho convicção sobre os US$ 45 bilhões que o BC está estimando. A nossa previsão é de US$ 40 bilhões.


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