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OPINIÃO ECONÔMICA
Se Deus quiser!
BENJAMIN STEINBRUCH
Quanto mais penso, mais fico
convencido de que a única opção para o Brasil é a produção.
Só vamos conseguir inverter esse
quadro de crise se viabilizarmos
mais emprego, mais investimento, mais geração de riquezas.
Não vai ser com recessão e juros
altos que conseguiremos pagar
nossa dívida interna e nossa dívida externa. E, muito menos,
abater a nossa dívida social.
É claro que todos sabemos das
dificuldades do momento que
justificam todas as preocupações do governo com relação ao
retorno da inflação e a consequente volta da mortífera indexação. Ninguém quer isso, e tudo se justifica para espantar de
vez esse fantasma.
Acredito que esse receio vai ser
superado rapidamente, transformado em coisa do passado.
Mas, e aí? Como vamos ficar?
Nós, brasileiros, já sabemos,
porque conhecemos o potencial
do nosso país, que o Brasil reage
rápido, que os brasileiros não
são de ficar de braços cruzados,
aguardando a tragédia. Ao contrário, quando desafiado pelas
crises, o país soma trabalho com
criatividade e responde sempre
melhor e mais velozmente que o
esperado, causando espanto
àqueles incrédulos promotores
do fim do mundo.
Agora mesmo, diante das
ameaças de aumento de grandes
fornecedores, vimos as grandes
cadeias de hipermercados buscando novos supridores para
que suas gôndolas continuassem abastecidas de produtos de
qualidade sem repercussões
maiores no valor da cesta básica.
Vimos também fabricantes de
veículos e eletrodomésticos fazendo exercícios destinados a
mudar seus esquemas de financiamentos e formação de preços
para evitar aumentos desnecessários e segurar o índice inflacionário.
Também vimos grandes lanchonetes, de um lado, e um número incrível de cafés e botequins, de outro, mantendo os
preços de seus sanduíches e até
da média com pão e manteiga.
Valeu, como já mostram os índices divulgados nos últimos
dias, bem abaixo das previsões
derrotistas do mês passado... É a
sociedade, mais uma vez, dando
lições aos burocratas, aos políticos, aos empresários, a todos
nós, apostando na vitória contra a crise. Não tenho dúvidas de
que ela virá.
Mas precisamos estar preparados. Alguns estão muito surpresos pelo fato de a inflação não
ter disparado, apesar da fortíssima desvalorização da moeda e
da altíssima taxa de juros decidida pelo Banco Central. A verdade é que o preço pela inversão
da expectativa inflacionária
tem que ser debitado, principalmente, à recessão que se faz dolorosamente presente e vem
cumprindo seu papel. Mas, e aí?
O sacrifício compensa mais 30
dias, 60 dias. E depois?
Iniciamos o segundo mandato
com um grande susto, que fez
com que todos os planos para o
novo quadriênio tivessem que
ser superados ou, até mesmo, esquecidos. Mas o governo e as
forças da economia não podem
esquecer que é preciso apresentar um novo planejamento estratégico, para que os geradores
de riquezas consigam entender
o processo, definir um norte e,
como esperado, dar suas contribuições.
As empresas sérias desse país,
de todos os tamanhos, puseram
de lado seus programas e partiram para planos de emergência
que estão sendo implementados,
mas que poderiam ser melhores
e mais eficazes se o governo trilhasse o mesmo caminho.
Desconfio de que esse plano já
existe. No seu cerne ele terá que
ser a "agenda positiva" que todos esperamos e que precisa se
apoiar no fortalecimento do capital nacional, no fomento às
empresas brasileiras, que precisarão ser fortes e competitivas
em nível global, tornando-as capazes de gerar mais emprego,
proporcionando mais salário,
partindo para o aumento de
produção que gera riquezas. O
plano precisa também incluir as
preliminares do campo social,
nas áreas da saúde, da habitação, da segurança, da educação
e da Previdência.
Temos que conhecer as novas
prioridades que o governo deve
assinalar para devolver este país
à rota do desenvolvimento. Já
sugeri, aqui mesmo neste espaço, que a prioridade máxima
fosse centrada nas áreas de exportação, de turismo, da casa
popular e dos agronegócios, nas
quais é rápida a resposta da economia e é mais forte o potencial
de geração de empregos.
Está na hora de explicar essas
prioridades e convocar parceiros para a nova caminhada. É a
hora também de dizer qual o papel das reformas previdenciária,
fiscal e administrativa nessa luta, para que possamos reduzir o
déficit do Orçamento não só cortando despesas, mas pela definição de um novo e diferente modelo.
Vamos dizer ao povo qual é a
nossa aposta e onde devemos colocar nossas esperanças. A crise
vai passar logo e temos de estar
preparados para lançar nosso
querido Brasil numa nova fase
de notícias, lastreadas em fatos
positivos de uma agenda amplamente discutida e conhecida por
todos, em que todos terão seus
lugares para trabalhar e colaborar.
Vamos devolver o otimismo e
a auto-estima ao brasileiro. Não
teremos vergonha de nossos erros, na hora em que acharmos o
caminho de volta do trabalho e
da produção, que nada mais é
que o caminho do desenvolvimento. Temos que ter metas, temos que ter desafios, temos que
ter mais explicações para estarmos preparados e motivados.
Dessa vez vamos aproveitar a
nova era como se fosse a nossa
última oportunidade de viabilizar este país. O governo está fazendo o certo, diante dos dramas do momento. O povo está
também reagindo e fazendo o
certo, esperando e confiando
que o outono vai passar e que
vamos ter o inverno mais feliz de
nossas vidas. Se Deus quiser!
Benjamin Steinbruch, 45, empresário, graduado em administração de empresas e marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional
e da Companhia Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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