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LUÍS NASSIF
As agências de risco
e o manual
David T. Beers, presidente
da Standard & Poor's, empresa de "rating", esteve no Brasil nesta semana para tentar esclarecer os critérios de avaliação
da economia pela empresa.
Esteve aqui um pouco antes
da crise da Argentina. Sua preocupação, nas conversas que teve, foi explicar que o papel de
uma agência de risco é analisar
a solvência dos países e empresas -não necessariamente o
que é melhor ou pior para o país
e seu povo.
A explicação foi relevante para pôr os pingos nos is.
Mas tomemos a explicação de
mr. Beers ao pé da letra. Suponha um investidor de risco. Ele
traz seu capital em dólares, aplica por aqui e gera receita em
reais. Depois, tem de converter
os reais em dólares para remeter
para a matriz.
Quando o real se desvaloriza
-como no ano passado-, o
que ocorre com seus investimentos? Primeiro, reduz o valor da
remessa dos lucros e dividendos,
porque eles terão de ser convertidos por um dólar mais caro.
Depois, deprecia todos os seus
ativos no Brasil, porque eles
também serão convertidos em
dólares pela paridade do fechamento do balanço.
Logo, a volatilidade do câmbio é um enorme fator de risco
para ele.
Agora avalie-se a situação
brasileira, à luz das eleições do
ano passado. De repente, criou-se um clima catastrofista no
mercado internacional que cortou as linhas de financiamento.
Sem oferta de dólares, o câmbio
explodiu. O investidor direto teve enormes prejuízos com a desvalorização cambial, e seu risco
foi proporcional à vulnerabilidade externa brasileira. Em cima do risco Brasil entrou o risco
manada -a possibilidade de os
bancos cortarem suas linhas de
crédito ao Brasil, mesmo aqueles que acreditavam que Lula
não iria botar lenha na fogueira, mas por não saberem se os
demais bancos sabiam disso. É
risco para iraquiano nenhum
botar defeito.
Se o país fosse menos vulnerável, tivesse menos necessidade
de dólares, obviamente o efeito
eleições provocaria muito menor volatilidade no câmbio,
porque haveria fluxo estável garantido de dólares.
A desvalorização cambial permite o aparecimento de um
enorme superávit e aumenta a
oferta de dólares no país por
conta da melhoria das contas
externas. Melhorou ou piorou a
percepção sobre o país por parte
do investidor direto? É óbvio
que melhorou.
No entanto quando se indaga
de mr. Beers qual a importância
que ele dá à redução da vulnerabilidade externa, que é função
da melhoria do superávit comercial e do balanço de pagamentos, que é função do dólar, o
que ele diz? Que as contas externas não têm importância, o importante é apenas o superávit
fiscal do governo. E não há santo que o demova dessa posição.
Quando se cobra uma definição dele sobre superávit comercial, limita-se a dizer que as economias que se abriram completamente ao fluxo financeiro internacional estão crescendo
mais do que o Brasil. Nem
adiante argumentar que, nelas,
a proporção comércio exterior/
PIB é muito maior do que no
Brasil, sujeitando a economia a
muito menor volatilidade no
câmbio.
As agências parecem mais empenhadas em serem propagandistas da liberdade de capitais
do que analistas de risco.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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