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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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CONFLITO DO IRAQUE

Secretário americano diz que país ficou desapontado com a posição brasileira, mas respeita decisão

Guerra não gera retaliação dos EUA ao Brasil

LEONARDO SOUZA
SÍLVIA MUGNATTO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário do Tesouro americano, John Snow, disse ontem que os Estados Unidos ficaram "desapontados" com a posição do governo brasileiro contra a Guerra do Iraque, mas descartou retaliações comerciais ao Brasil.
"Nós ficamos desapontados, mas respeitamos a posição do Brasil. As questões que nós enfrentamos [no campo comercial] são inteiramente separadas, distintas", afirmou Snow, ao lado do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), em entrevista a jornalistas no Ministério da Fazenda.
Snow, mais uma vez, elogiou a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a condução da economia. "Eu acho que a economia brasileira, graças à liderança do ministro Palocci, do Banco Central e do presidente Lula, está seguindo um caminho muito positivo. E a melhor evidência disso foi a redução recente do risco-país. Essa é uma notícia muito positiva para nós", disse ele.
Duas semanas atrás, Palocci esteve em Washington e foi recebido por Snow na sede do Tesouro americano. Na ocasião, o secretário dos EUA havia feito elogios semelhantes ao Brasil.

"Toma lá dá cá"

Snow trouxe um recado do representante comercial do governo americano, Robert Zoellick. "Ele me pediu que transmitisse o compromisso firme [dos EUA] no sentido de abrir o comércio em todas as áreas. Estamos dispostos a colocar tudo na mesa", afirmou. Ele ressaltou, no entanto, que todas as questões envolvendo barreiras comerciais serão tratadas no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio).
"Evidentemente, a questão das barreiras comerciais é uma questão de negociação, é toma lá dá cá [tradução oficial]", disse.
Snow deu a entender que sugeriu ao ministro Palocci a adoção de CACs (cláusulas de ação coletiva) -também conhecidas como "cláusulas de calote"- nos títulos de dívida externa do Brasil.
"O ministro Palocci e eu tivemos uma excelente discussão tanto hoje como há algumas semanas sobre o tema das CACs. Nós dois acreditamos que o uso dessas cláusulas é uma característica desejável da dívida soberana. E nós estimularemos todos os países que quiserem participar do mercado a utilizar essas cláusulas."
Palocci ressaltou que o governo é favorável à adoção do mecanismo (que permite aos países reestruturar suas dívidas externas contando apenas com a anuência da maioria dos credores) mas que isso não significa que a próxima emissão de títulos do governo no exterior contará com a cláusula.
Na parte da manhã, Snow foi recebido pelo presidente do BC, Henrique Meirelles. Segundo a assessoria da instituição, a conversa girou em torno do sistema de metas de inflação adotado pelo Brasil. Meirelles teve de explicar que o Brasil não cumpriu as metas por dois anos seguidos, em 2001 e em 2002.
Depois, Snow almoçou com um grupo de oito congressistas, entre os quais o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Congresso, e a deputada Yeda Crusius (PSDB-RS), convidados pela embaixadora americana no Brasil, Donna Hrinak. Segundo Yeda, o secretário americano estava interessado, entre outros assuntos, em saber se as reformas estruturais (da Previdência e tributária) passarão no Congresso.
"Eu disse que eles [os americanos] não têm de se preocupar com isso, pois a oposição, que no passado não queria as reformas, hoje é governo", disse a deputada.


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