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CONFLITO DO IRAQUE
Secretário americano diz que país ficou desapontado com a posição brasileira, mas respeita decisão
Guerra não gera retaliação dos EUA ao Brasil
LEONARDO SOUZA
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário do Tesouro americano, John Snow, disse ontem que
os Estados Unidos ficaram "desapontados" com a posição do governo brasileiro contra a Guerra
do Iraque, mas descartou retaliações comerciais ao Brasil.
"Nós ficamos desapontados,
mas respeitamos a posição do
Brasil. As questões que nós enfrentamos [no campo comercial]
são inteiramente separadas, distintas", afirmou Snow, ao lado do
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda), em entrevista a jornalistas no Ministério da Fazenda.
Snow, mais uma vez, elogiou a
administração do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e a condução
da economia. "Eu acho que a economia brasileira, graças à liderança do ministro Palocci, do Banco
Central e do presidente Lula, está
seguindo um caminho muito positivo. E a melhor evidência disso
foi a redução recente do risco-país. Essa é uma notícia muito positiva para nós", disse ele.
Duas semanas atrás, Palocci esteve em Washington e foi recebido por Snow na sede do Tesouro
americano. Na ocasião, o secretário dos EUA havia feito elogios semelhantes ao Brasil.
"Toma lá dá cá"
Snow trouxe um recado do representante comercial do governo americano, Robert Zoellick.
"Ele me pediu que transmitisse o
compromisso firme [dos EUA]
no sentido de abrir o comércio em
todas as áreas. Estamos dispostos
a colocar tudo na mesa", afirmou.
Ele ressaltou, no entanto, que todas as questões envolvendo barreiras comerciais serão tratadas
no âmbito da OMC (Organização
Mundial do Comércio).
"Evidentemente, a questão das
barreiras comerciais é uma questão de negociação, é toma lá dá cá
[tradução oficial]", disse.
Snow deu a entender que sugeriu ao ministro Palocci a adoção
de CACs (cláusulas de ação coletiva) -também conhecidas como
"cláusulas de calote"- nos títulos de dívida externa do Brasil.
"O ministro Palocci e eu tivemos uma excelente discussão tanto hoje como há algumas semanas
sobre o tema das CACs. Nós dois
acreditamos que o uso dessas
cláusulas é uma característica desejável da dívida soberana. E nós
estimularemos todos os países
que quiserem participar do mercado a utilizar essas cláusulas."
Palocci ressaltou que o governo
é favorável à adoção do mecanismo (que permite aos países reestruturar suas dívidas externas
contando apenas com a anuência
da maioria dos credores) mas que
isso não significa que a próxima
emissão de títulos do governo no
exterior contará com a cláusula.
Na parte da manhã, Snow foi recebido pelo presidente do BC,
Henrique Meirelles. Segundo a
assessoria da instituição, a conversa girou em torno do sistema
de metas de inflação adotado pelo
Brasil. Meirelles teve de explicar
que o Brasil não cumpriu as metas
por dois anos seguidos, em 2001 e
em 2002.
Depois, Snow almoçou com um
grupo de oito congressistas, entre
os quais o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo
no Congresso, e a deputada Yeda
Crusius (PSDB-RS), convidados
pela embaixadora americana no
Brasil, Donna Hrinak. Segundo
Yeda, o secretário americano estava interessado, entre outros assuntos, em saber se as reformas
estruturais (da Previdência e tributária) passarão no Congresso.
"Eu disse que eles [os americanos] não têm de se preocupar
com isso, pois a oposição, que no
passado não queria as reformas,
hoje é governo", disse a deputada.
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