São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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LUÍS NASSIF

A novela Cemar

A novela Cemar ainda não foi suficientemente explicada nem pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) nem pela Eletrobrás. A carta de Luiz Pinguelli Rosa, publicada ontem pela coluna, não esclarece pontos centrais da questão.
Anteontem havia recebido e-mail com a posição da Mt. Baker, contestando a carta de Pinguelli. Os argumentos foram encaminhados à Eletrobrás para contra-argumentação.
A não ser uma questão factual -a dívida da Cemar com a Eletronorte, de compra de energia, de R$ 180 milhões, e não R$ 100 milhões-, a carta não esclarece nenhum dos pontos levantados.
Pinguelli informa que o processo foi conduzido pela Aneel, e não pela Eletrobrás. Ora, o ponto central da compra da Cemar era o aval da Eletrobrás para a renegociação das suas dívidas e da Eletronorte. A competição se decidiu em favor da SVM (do grupo GP) quando a Eletrobrás decidiu aceitar sua proposta, em detrimento da segunda proposta, da Mt. Baker.
Em sua carta, Pinguelli, presidente demissionário da Eletrobrás, informa que "a diferença entre as propostas apresentadas pelas empresas SVM Participações e Mt. Baker é tão significativa que a Eletrobrás não tem nenhuma dúvida quanto à sua decisão favorável à SVM". Que a Eletrobrás não tenha, ótimo! Mas gostaria que compartilhasse suas certezas com a coluna. Tom Tribone, o representante da Mt. Baker, escreveu negando que a empresa tivesse proposto qualquer forma de deságio na dívida com a empresa. Pinguelli sustentou que a proposta da Mt. Baker, de pagamento integral da dívida, se referia a apenas 61% do passivo. Tribone afirma que se referia a todo o passivo.
Solicitei à Eletrobrás o histórico das propostas analisadas, mesmo porque a empresa renegociou os termos do acordo com a SVM depois de ela ter sido a escolhida. Se fez isso com a vencedora, por que não explorou as possibilidades de uma disputa entre os dois competidores?
Quando solicitei a análise financeira das duas propostas, a resposta da área financeira da Eletrobrás é que os detalhes só poderiam ser divulgados pela Aneel. A resposta de pessoas da Aneel foi uma pequena risada. A agência confirma que a Mt. Baker não apresentou a proposta de renegociação com os credores no prazo, mas diz que os termos do acordo com a Eletrobrás dependiam apenas das duas partes. Não cabia à Aneel opinar sobre essa matéria. Mesmo porque a informação que recebeu da Eletrobrás foi bastante sucinta, sem conter detalhes da negociação.
Pinguelli diz que a SVM apresentou uma proposta de R$ 30 milhões de recursos novos. Tribone sustenta que a proposta da Mt. Baker era colocar o dobro disso em recursos à vista.
Finalmente, Pinguelli afirma que "é lamentável que o grupo AES não tenha deixado nenhuma lição". A Cemar foi vendida para um fundo de investimento administrado pela GP, mas de quem não se conhecem os titulares. Como fica?
Repito: é importante que as propostas sejam publicamente divulgadas, para que uma decisão dessa monta não fique sujeita a subjetivismos dessa espécie.

E-mail -
Luisnassif@uol.com.br


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