São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2004

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PÉ NO FREIO

Queda é sobre os primeiros três meses de 2003, período considerado fraco; consumo menor elimina vagas no setor

Venda de alimentos cai 2,4% no trimestre

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O ano de 2003 foi o pior para o varejo de alimentos desde 1991. As vendas despencaram e a indústria do setor amargava ociosidade de 30% em dezembro. Neste início de 2004, a recuperação não veio: dados publicados ontem mostram que, de janeiro a março, as vendas reais dos supermercados (descontada a inflação) caíram 2,38% em relação a igual período do ano passado.
Os números foram apresentados pela Abras (Associação Brasileira dos Supermercados). Em março, informa a entidade, a queda nas vendas foi de 2,86% sobre o mesmo mês de 2003. Na outra ponta da cadeia, informa a Abia, a associação que representa as indústrias da área, a ociosidade das empresas subiu para 32% hoje -de cada 10 máquinas nas fábricas, 3 estão paradas.
"A exportação evitou resultado pior", afirma Amílcar Lacerda de Almeida, economista da Abia.
Essa redução na demanda teve efeito desigual: um estudo obtido pela Folha mostra que o corte na lista de compras promovido pelo brasileiro atingiu mais os itens alimentícios do que os de higiene e beleza, bebidas ou limpeza.

Produção e vaga em queda
Esses números sobre vendas dos supermercados apresentados ontem mostram, portanto, que o varejo registrou até agora só retrações no desempenho em cima de um resultado, apurado em 2003, que já era muito ruim. Esse cenário tem efeito direto na mão-de-obra do setor de alimentos. Houve retração de 16% no nível de ocupação das empresas alimentícias na Grande São Paulo, disse ontem a Fundação Seade.
Esse cenário mostra que as lojas faturam menos, a indústria fabrica pouco e demite -a produção cresceu 0,4% de janeiro a fevereiro de 2004 sobre 2003- e a população, portanto, come menos.
É possível fazer essa afirmação de que o brasileiro compra menos itens alimentícios, com base em um cálculo da Abia feito a pedido da Folha. A idéia desse cálculo é saber como está o consumo desses itens. O que existe hoje são análises do consumo com base na receita das lojas.

Os piores e os melhores
Dados da Abia mostram que em 2003 a quantidade de alimentos vendidos no país caiu 3,4% em relação a 2002 -isso inclui diversos canais de distribuição como bares, restaurantes, lojas.
Foi excluída dessa conta a exportação e somada a importação. Só nos supermercados, a queda no volume foi de 4%. Não há dados de 2004, mas a associação não detectou recuperação.
A demanda por alimentos no país gira em torno de 170 milhões de toneladas ao ano.
"Tomamos um tombo muito grande", diz João Carlos de Oliveira, presidente da Abras, ao comentar os dados de queda nas vendas dos supermercados. "Foi um desastre", afirma Amílcar Lacerda de Almeida, da Abia, após ser informado dos resultados.
A retração na demanda tende a atingir mais determinados produtos do que outros. Os mais ou menos atingidos variam de acordo com necessidades e as preferências do consumidor.
Números do instituto de pesquisa ACNielsen, obtidos pela Folha e fornecidos pela empresa apenas a seus clientes, mostram que o brasileiro cortou mais da lista os itens alimentícios (como iogurte e bolachas) do que os de higiene e beleza e bebidas.
Essa pesquisa, realizada no início deste ano pela consultoria, mostra que entre mil pessoas ouvidas -em seis cidades do país- 87% decidiram mudar a sua lista de compras recentemente.
Desses 87%, 35% deixaram de comprar determinados itens. Na sua maioria, foram alimentos. São eles: queijo, refrigerante, bolacha e iogurte. Ainda entre as mil pessoas entrevistadas, 47% optaram por diminuir o volume comprado. As mercadorias que foram atingidas por essa redução foram arroz, feijão, carnes frescas e sabão em pó.


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