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GASTO PÚBLICO
Sem medidas efetivas para conter suas despesas, governo espera crescimento elevado para cumprir metas
Equilíbrio de contas só vem com PIB de 4,9%
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de abandonar a idéia de
um plano ortodoxo de ajuste fiscal de longo prazo, o governo agora aposta que a prometida aceleração do crescimento econômico
fará o trabalho de equilibrar as
contas públicas.
As novas projeções oficiais para
a evolução das despesas permanentes da União, a partir da meta
de redução de sua proporção em
relação ao Produto Interno Bruto
nos próximos três anos, só são
factíveis se a economia crescer a
um ritmo médio anual de 4,9%,
inédito no país em tempos de inflação baixa.
No projeto de LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) recém-enviado ao Congresso, o governo assume o compromisso de reduzir
em 0,1 ponto percentual do PIB as
chamadas despesas correntes
-pessoal, custeio administrativo
e programas sociais, incluindo
Previdência e assistência.
Trata-se de uma meta bem menos ambiciosa que a anunciada
como uma "revolução" na LDO
proposta no ano passado: fixar
um teto permanente de 17% do
PIB para tais gastos. O ano eleitoral transformou a revolução em
pó e o próprio governo prevê despesas correntes recordes de
17,71% do PIB neste ano.
Agora, como diz o ministro
Paulo Bernardo (Planejamento),
trabalha-se com um objetivo mais
"realista", o de reduzir essa proporção a 17,41% em 2009.
No entanto, as projeções da área
econômica apontam que não se
pretende mexer no numerador
-as despesas- da fração. A conta fecha, isso sim, com um aumento no denominador -o
PIB- acima de todas as previsões
disponíveis no mercado.
Em suas estimativas (ver quadro nesta página), o governo trabalha com um aumento anual das
despesas correntes de cerca de
4,5% acima da inflação, semelhante ao esperado para este ano.
Esses gastos passariam de
R$ 372,8 bilhões, em 2006, para
R$ 481,5 bilhões em 2009.
No papel, a esperada redução
dos valores em relação ao PIB só
se dá com crescimento econômico de 4,5% neste ano, 4,75% em
2007, 5% em 2008 e 5,25% em
2009 -as previsões dos analistas
ficam em torno de 3,5% anuais
para todo o período.
Simulações simples mostram
como a expansão do PIB tem papel fundamental no cenário traçado: se a economia seguir no ritmo
esperado pelo mercado, já superior à media dos primeiros três
anos do governo Luiz Inácio Lula
da Silva, as despesas, em vez de
cair, subirão para 18,35% do PIB
em 2009; a uma velocidade de 4%
ao ano, alta para 18% do produto;
com 4,5%, os gastos praticamente
se estabilizam nos atuais patamares recordes.
Conflito interno
"Nós contamos com o crescimento, sem ele fica tudo mais difícil", diz Paulo Bernardo, defensor
da política de redução gradual das
despesas permanentes em relação
ao PIB. "Nós estudamos um meta
de redução gradual de 0,2 [ponto
percentual do PIB], mas as simulações indicaram que seria quase
impossível."
Difícil ou impossível, qualquer
meta esbarra na ausência de medidas efetivas para o controle de
tais gastos, salvo propostas pontuais na LDO para limitar a concessão de novos benefícios aos
servidores públicos. A tentativa
de aprofundar o ajuste fiscal foi
derrubada após conflitos internos
no governo.
Bernardo e o ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) defendiam a adoção de um programa destinado a atacar essas despesas, todas protegidas por dispositivos constitucionais que levam
a seu aumento progressivo ao
longo do tempo. Politicamente
controversa, a idéia dependeria
de cortes na área social e foi bombardeada pela chefe da Casa Civil,
Dilma Rousseff, que ganhou o
apoio de Lula.
Cumprir a meta
Como Dilma, o sucessor de Palocci, Guido Mantega, repete que
basta cumprir a meta de superávit
primário (a economia de gastos
destinada a abater a dívida pública) de 4,25% do PIB para garantir
o equilíbrio fiscal, com a ajuda da
queda do juro e -mais uma
vez- da expansão econômica.
"O superávit é de 4,25% do PIB,
mas tem gente que gostaria que fizéssemos um superávit maior.
Quem são eles? São os ortodoxos.
Então é bom que se diga. Eu não
sou ortodoxo. Eles são aquelas
pessoas que não gostam dos programas sociais que o governo faz.
Não dizem isso claramente, mas
falam dos gastos sociais, que estariam aumentando", disse Mantega anteontem, nos EUA.
Os assim chamados ortodoxos
-entre os quais se alinham, além
de Bernardo, o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles- avaliam que, sem deter a
expansão das despesas correntes,
a política fiscal prejudicará o crescimento da economia, fundamental na estratégia dos ditos desenvolvimentistas.
Por esse raciocínio, o aumento
do gasto permanente obriga o governo a manter também em alta a
carga tributária, já superior à de
países com renda semelhante à do
Brasil. Torna necessário, ainda,
sacrificar o investimento público
para cumprir a meta de superávit.
Previdência
Os números mostram que são
os benefícios previdenciários os
responsáveis pela elevação contínua das despesas correntes. Desde 1995, os demais componentes
desse gasto estão praticamente estáveis, na casa dos 10% do PIB. Já
a conta do Instituto Nacional do
Seguro Social avançou, no período, de 4,8% para os 7,93% do PIB
previstos para este ano.
Para 2007, estima-se nova alta,
para 8,06% do PIB, mesmo com
todo o otimismo nas projeções de
crescimento econômico.
Não por acaso, já se avalia no
mercado que o conflito entre ortodoxos e desenvolvimentistas
num eventual segundo mandato
de Lula começará pelo debate de
uma nova reforma da Previdência. Neste ano eleitoral, obviamente, o tema é proibido.
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