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LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Blindagem do setor externo
ALOIZIO MERCADANTE
O resgate antecipado de
US$ 6,5 bilhões em bônus
"bradies", realizado há dias, se
insere na estratégia adotada pelo
atual governo de alongamento do
perfil da dívida externa e redução
da fragilidade fiscal e da vulnerabilidade externa do país, ambas
notavelmente agravadas pela dinâmica do modelo econômico
adotado na administração anterior. Com esse resgate, o abatimento da dívida pública externa,
no corrente ano, já é da ordem de
US$ 10,2 bilhões.
No total, incluindo a liquidação
antecipada do empréstimo do
FMI e outros pagamentos realizados anteriormente, a dívida externa pública (setor não financeiro), de dezembro de 2002 até o
presente, teve diminuição líquida
de US$ 33 bilhões, situando-se na
atualidade na casa dos US$ 77 bilhões. Deduzindo desse montante
nossas reservas em divisas -US$
55,4 bilhões- a dívida externa líquida do setor público cai para
aproximadamente US$ 22 bilhões, ou seja, menos de 3% do
PIB. Um avanço substancial em
relação ao quadro existente em
2002, quando representava cerca
de 21% do PIB.
Esse processo de fortalecimento
financeiro do setor externo da
economia beneficiou-se também,
nesses pouco mais de três anos, de
diminuição similar da dívida privada, estimulada pela evolução
favorável da taxa de câmbio.
Conseqüentemente, a redução total da dívida bruta externa foi da
ordem de US$ 68 bilhões, um corte de 30% em relação aos valores
de 2002.
Os avanços obtidos nessa esfera
somente foram possíveis porque
as exportações brasileiras, alavancadas pela nova política comercial do país e pelas medidas
internas de apoio ao setor exportador, aumentaram espetacularmente, duplicando seu valor e gerando, no triênio 2003/5, superávit de US$ 103,3 bilhões.
A redução da dívida externa, a
geração de saldos positivos na balança comercial, capazes de financiar, com folga, o déficit estrutural na conta de serviços e rendas do balanço de pagamentos, e,
não menos importante, o aumento das reservas internacionais do
país, da ordem de US$ 40 bilhões
nesse período, constituem o núcleo da estratégia do governo de
consolidação do equilíbrio externo da economia e diminuição de
sua fragilidade face a eventuais
turbulências nos mercados financeiros internos ou internacionais.
A convergência desses três elementos é essencial para avançar
em direção a uma verdadeira estabilidade econômica, que sirva
de suporte para a aceleração do
crescimento econômico com distribuição de renda e inclusão social, que constitui o objetivo fundamental do governo Lula.
Evidentemente, essa estratégia,
como qualquer outra, não é isenta de custos e dificuldades. O aumento e a manutenção de reservas internacionais, por exemplo,
têm um custo de carregamento
tanto maior quanto maior for o
diferencial entre as taxas interna
e externa de juros. No entanto essas políticas fazem parte de um
esforço de construção das condições para dar sustentabilidade ao
desenvolvimento nacional. É em
relação aos avanços objetivos que
se obtenham nesse âmbito que
seus custos devem ser avaliados.
Aloizio Mercadante, 51, é economista e
professor licenciado da PUC e da Unicamp, senador por São Paulo e líder do
governo no Senado Federal.
Internet: www.mercadante.com.br
E-mail -
mercadante@mercadante.com.br
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