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Diversas tentativas de reestruturação falharam
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A adesão da Varig à nova lei de
recuperação judicial foi o ápice de
uma série de tentativas de reestruturação da companhia. No passado, ela chegou a negociar uma fusão com a TAM e uma capitalização do BNDES, entre outras alternativas malsucedidas.
Para analistas e ex-dirigentes
ouvidos pela Folha, invariavelmente as propostas caíam por terra quando significavam uma alteração no controle da companhia
ou no seu modelo de gestão.
"Não existe empresa no Brasil
com mais diagnósticos feitos do
que a Varig. Esses diagnósticos
têm um nível de discrepância pequeno entre si, pois são sempre
muito parecidos. O problema
sempre foi o paciente tomar o remédio", diz Nelson Bastos, da
consultoria em reestruturação Integra e ex-membro do conselho
de administração da Varig.
Segundo Carlos Albano, analista do Unibanco, alternativas encontradas pela Varig no passado
tiveram efeito positivo, mas momentâneo. "Nenhuma das tentativas resolveu de fato a situação
[financeira] da empresa."
Na avaliação de credores ouvidos pela Folha, a companhia não
conseguiu aproveitar bem o período em que estava livre de execuções. As dificuldades para
aprovar o novo plano de recuperação e contentar todas as classes
de credores, que incluem funcionários, empresas de leasing e estatais, entre outros, são apontadas
como os principais entraves.
A Varig pediu à Justiça do Estado do Rio que iniciasse o processo
de recuperação judicial no dia 17
de junho do ano passado. Foi a
forma que a empresa encontrou
para impedir que uma das principais arrendadoras de aviões, a
ILFC, retomasse as aeronaves.
A ação de recuperação judicial
foi criada para que empresas viáveis, mas que atravessam dificuldades, consigam evitar a falência.
Com isso, a Varig ganhou um fôlego extra de seis meses, período
em que ficaram suspensas todas
as execuções judiciais.
Sem acesso
O administrador judicial designado pela Justiça para acompanhar o caso, João Vianna, afirma
nunca ter tido acesso aos dados
referentes ao caixa da companhia.
Substituído posteriormente no
cargo pela consultoria Deloitte,
Vianna afirma hoje que tenta apagar a Varig da memória.
"Cansei de engolir sapo. Nunca
consegui saber qual era a real situação do caixa", diz Vianna.
Ao longo desse período, a Varig
contratou consultorias e empresas especializadas para que pudessem orientar o processo de recuperação, como a Lufthansa
Consulting, o UBS e, mais recentemente, a Alvarez & Marsal, mas
não conseguiu atrair dinheiro novo para a empresa.
"Você pode desenhar o plano
mais maravilhoso do mundo. Se
não aparecer investidor, [o plano]
não serve para nada", afirmou
Márcia Cunha, juíza da 2ª Vara
Empresarial do Rio de Janeiro e
que cuida do processo de recuperação da companhia.
"Nunca se fez nada porque as
consultorias determinavam que
teria de haver uma enorme demissão de pessoas. Mesmo agora
ficam falando em 11 mil empregos", afirma Arnim Lore, ex-presidente da Varig.
Até o fim do ano passado, a Varig mantinha conversações com a
portuguesa TAP e com o fundo de
investimentos norte-americano
Matlin Patterson, que acabaram
comprando as ex-subsidiárias da
companhia, a VEM (Varig Engenharia e Manutenção) e a Varig
Log, respectivamente. O Matlin
Patterson insiste e representa hoje
a única proposta de compra da
companhia, por US$ 400 milhões,
por meio da Volo do Brasil.
Segundo o ex-presidente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) Carlos Lessa, o banco desistiu de negociar uma capitalização
na companhia depois que a FRB
(Fundação Ruben Berta) rejeitou
um acordo com credores. Sem
mudanças, a Fazenda não aceitou
participar da operação.
Fusão
Uma das principais soluções negociadas no passado para a Varig
foi uma fusão com a TAM. Como
fase preliminar antes da união,
ambas, em dificuldades financeiras, passaram a operar em "code
share" (compartilhamento de
vôos) no início de 2003.
Mas dificuldades foram surgindo. Uma série de liminares concedidas a pedido de funcionários da
FRB contrários à fusão atrapalharam as negociações.
Em agosto, o executivo Daniel
Mandelli Martin, um dos principais articuladores da união, deixou a presidência da TAM. A situação financeira de ambas, ajudada pelo "code share", melhorou. As companhias passaram então a rejeitar o modelo de fusão,
querendo condições melhores na
empresa que surgiria. Além disso,
diz-se nos bastidores que auditorias teriam revelado à TAM que o
passivo da Varig era maior do que
o imaginado a princípio, o que
também travou o processo.
(JANAINA LAGE E MAELI PRADO)
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