São Paulo, quinta-feira, 23 de abril de 2009

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Anac libera preço de passagem ao exterior

Agência inicia processo gradual de fim dos preços mínimos para todos os destinos no exterior, apesar de oposição da TAM

Medida deve estimular competição e reduzir tarifas, diz agência; só China e Japão, além de Brasil, mantêm preços mínimos


SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) aprovou o início da liberação de preços das passagens aéreas emitidas no Brasil para o exterior. A redução será gradual e, em um ano, deixará de existir preço mínimo. Pelos exemplos divulgados ontem pela Anac, a medida tem potencial de reduzir, ao fim do período,os preços cobrados hoje em até 40%.
Os preços mínimos que as empresas podem cobrar serão reduzidos em 20% imediatamente. Em três meses, os preços mínimos cairão à metade do que estava em vigor até ontem; em seis meses, a 20%; em um ano, não haverá piso.
As empresas, porém, não são obrigadas a reduzir as passagens. A queda dependerá da concorrência entre as companhias. Hoje, a TAM é a única empresa brasileira que voa para fora do continente sul-americano.
A Anac diz que a medida, a ser publicada hoje no "Diário Oficial", elevará a competição no setor. A Gol não se opõe à mudança, mas a TAM diz que ela prejudicará as empresas brasileiras.
Como exemplo, o preço mínimo da passagem para os EUA, antes de US$ 708, cai para US$ 566 hoje (redução de 20%); US$ 354 em julho (menos 50%); e US$ 142 (menos 80%) em outubro. Em abril de 2010, não haverá preço mínimo. Para Paris, o voo custava US$ 869 e cai para US$ 695 imediatamente. Em julho e outubro, cairá para US$ 435 e US$ 174, respectivamente.
Em setembro do ano passado, a Anac já havia derrubado os preços mínimos para países da América do Sul.
O fim dos preços mínimos foi aprovado em reunião ontem no escritório da Anac no Rio, por unanimidade. O Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias) solicitou acesso à reunião, mas nenhum representante compareceu.
O Snea alegou que a reunião foi convocada na segunda-feira "por e-mail, após expediente do sindicato, em local fora da sede da agência e do sindicato, em Brasília", e que estuda que medidas tomar. As empresas aéreas brasileiras alegam que o fim do piso as exporá à concorrência predatória das empresas estrangeiras.
A Anac contesta: "TAM e Gol são extremamente eficientes e têm custos operacionais que as colocam entre as melhores do mundo", disse a presidente da agência, Solange Vieira.
No fim do ano, o Snea havia entrado com liminar para suspender o processo de liberação dos preços das passagens internacionais, alegando que o processo só poderia ocorrer após realização de audiência pública, o que ocorreu em fevereiro.
Hoje, apenas dois países praticam preços mínimos para passagens internacionais, além do Brasil: China e Japão. A expectativa é que o Brasil deixe o grupo somente daqui a um ano.
Para especialistas, a reclamação das empresas aéreas não faz sentido. "É chororô da TAM. A queda dos preços acabará com uma distorção horrível do mercado e vai aumentar o interesse do brasileiro em viajar para o exterior", diz Paulo Bittencourt Sampaio, sócio da Multiplan Consultores em Aviação. "A TAM chora, mas vai se adaptar."
A Anac afirma, ainda, que a medida tem efeito favorável às empresas em tempos de crise. "A flexibilidade nos preços é instrumento importante para que as empresas consigam gerar caixa em condições adversas", disse Vieira.
Quem tentou comprar ontem, no Brasil, passagens aéreas para três destinos diferentes, na Europa e nos Estados Unidos, encontrou preços até 85% mais altos do que se estivesse fazendo o caminho inverso.
No caso da American Airlines, onde foi constatada a maior diferença, um voo São Paulo-Nova York-São Paulo estava à venda por US$ 786, acima do piso estipulado para os bilhetes para os Estados Unidos, de US$ 708. Já a passagem Nova York-São Paulo-Nova York, que não é sujeita à regulação tarifária, saía por US$ 425. Os preços não incluem taxas de embarque.
Na Air France, um voo de ida e volta de São Paulo para Paris custava ontem US$ 899, 67% a mais do que os US$ 538 do trajeto inverso. Já na Lufthansa, a passagem São Paulo-Frankfurt-São Paulo saía por US$ 919, ante US$ 608 no sentido oposto. Nesse caso, o bilhete comprado no Brasil é 51% mais caro do que o comprado no exterior.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da American Airlines disse que a empresa não comentaria a diferença de preços nas passagens nem a decisão da Anac. Já a assessoria da Lufthansa afirmou que precisaria de mais tempo para se manifestar sobre o assunto, e a da Air France não foi localizada para comentar.


Colaborou DENISE MENCHEN , da Sucursal do Rio


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