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Anac libera preço de passagem ao exterior
Agência inicia processo gradual de fim dos preços mínimos para todos os destinos no exterior, apesar de oposição da TAM
Medida deve estimular competição e reduzir tarifas, diz agência; só China e Japão, além de Brasil, mantêm preços mínimos
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
A Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) aprovou o início
da liberação de preços das passagens aéreas emitidas no Brasil para o exterior. A redução
será gradual e, em um ano, deixará de existir preço mínimo.
Pelos exemplos divulgados
ontem pela Anac, a medida tem
potencial de reduzir, ao fim do
período,os preços cobrados hoje em até 40%.
Os preços mínimos que as
empresas podem cobrar serão
reduzidos em 20% imediatamente. Em três meses, os preços mínimos cairão à metade
do que estava em vigor até ontem; em seis meses, a 20%; em
um ano, não haverá piso.
As empresas, porém, não são
obrigadas a reduzir as passagens. A queda dependerá da
concorrência entre as companhias. Hoje, a TAM é a única
empresa brasileira que voa para fora do continente sul-americano.
A Anac diz que a medida, a
ser publicada hoje no "Diário
Oficial", elevará a competição
no setor. A Gol não se opõe à
mudança, mas a TAM diz que
ela prejudicará as empresas
brasileiras.
Como exemplo, o preço mínimo da passagem para os
EUA, antes de US$ 708, cai para
US$ 566 hoje (redução de
20%); US$ 354 em julho (menos 50%); e US$ 142 (menos
80%) em outubro. Em abril de
2010, não haverá preço mínimo. Para Paris, o voo custava
US$ 869 e cai para US$ 695
imediatamente. Em julho e outubro, cairá para US$ 435 e US$
174, respectivamente.
Em setembro do ano passado, a Anac já havia derrubado
os preços mínimos para países
da América do Sul.
O fim dos preços mínimos foi
aprovado em reunião ontem no
escritório da Anac no Rio, por
unanimidade. O Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias) solicitou acesso à
reunião, mas nenhum representante compareceu.
O Snea alegou que a reunião
foi convocada na segunda-feira
"por e-mail, após expediente do
sindicato, em local fora da sede
da agência e do sindicato, em
Brasília", e que estuda que medidas tomar. As empresas aéreas brasileiras alegam que o
fim do piso as exporá à concorrência predatória das empresas
estrangeiras.
A Anac contesta: "TAM e Gol
são extremamente eficientes e
têm custos operacionais que as
colocam entre as melhores do
mundo", disse a presidente da
agência, Solange Vieira.
No fim do ano, o Snea havia
entrado com liminar para suspender o processo de liberação
dos preços das passagens internacionais, alegando que o processo só poderia ocorrer após
realização de audiência pública, o que ocorreu em fevereiro.
Hoje, apenas dois países praticam preços mínimos para
passagens internacionais, além
do Brasil: China e Japão. A expectativa é que o Brasil deixe o
grupo somente daqui a um ano.
Para especialistas, a reclamação das empresas aéreas não
faz sentido. "É chororô da
TAM. A queda dos preços acabará com uma distorção horrível do mercado e vai aumentar
o interesse do brasileiro em
viajar para o exterior", diz Paulo Bittencourt Sampaio, sócio
da Multiplan Consultores em
Aviação. "A TAM chora, mas
vai se adaptar."
A Anac afirma, ainda, que a
medida tem efeito favorável às
empresas em tempos de crise.
"A flexibilidade nos preços é
instrumento importante para
que as empresas consigam gerar caixa em condições adversas", disse Vieira.
Quem tentou comprar ontem, no Brasil, passagens aéreas para três destinos diferentes, na Europa e nos Estados
Unidos, encontrou preços até
85% mais altos do que se estivesse fazendo o caminho inverso.
No caso da American Airlines, onde foi constatada a
maior diferença, um voo São
Paulo-Nova York-São Paulo estava à venda por US$ 786, acima do piso estipulado para os
bilhetes para os Estados Unidos, de US$ 708. Já a passagem
Nova York-São Paulo-Nova
York, que não é sujeita à regulação tarifária, saía por US$ 425.
Os preços não incluem taxas de
embarque.
Na Air France, um voo de ida
e volta de São Paulo para Paris
custava ontem US$ 899, 67% a
mais do que os US$ 538 do trajeto inverso. Já na Lufthansa, a
passagem São Paulo-Frankfurt-São Paulo saía por
US$ 919, ante US$ 608 no sentido oposto. Nesse caso, o bilhete comprado no Brasil é 51%
mais caro do que o comprado
no exterior.
Procurada pela reportagem,
a assessoria de imprensa da
American Airlines disse que a
empresa não comentaria a diferença de preços nas passagens
nem a decisão da Anac. Já a assessoria da Lufthansa afirmou
que precisaria de mais tempo
para se manifestar sobre o assunto, e a da Air France não foi
localizada para comentar.
Colaborou DENISE MENCHEN ,
da Sucursal do Rio
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