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Vencedor quer mudar projeto de Belo Monte
Consórcio Norte Energia tem estudo que prevê alterações nas escavações dos dois canais, reduzindo preço em ao menos R$ 2 bi
Para otimizar ainda mais as obras nos canais, consórcio deverá ganhar em breve um integrante de peso: a Vale, especialista em escavações
LEILA COIMBRA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O consórcio Norte Energia,
que arrematou em leilão a concessão da hidrelétrica de Belo
Monte, no Pará, tem estudos
que mudam o projeto de construção da usina e devem reduzir os custos da obra em pelo
menos R$ 2 bilhões.
A Folha apurou que as mudanças serão principalmente
nas escavações dos dois canais,
cada um com cerca de 30 quilômetros de extensão, e cujo volume de terra a ser retirado (de
230 milhões de m3) é maior do
que o retirado na construção
do canal do Panamá.
Para otimizar ainda mais as
obras nos canais, o consórcio
deverá ganhar em breve um integrante de peso: a Vale, que
estava associada ao grupo perdedor e possui larga experiência em escavações.
Estudos feitos pela mineradora apontam a possibilidade
de fazer as obras da usina com
um preço próximo dos R$ 25
bilhões, sem contar os incentivos concedidos pela União, o
que reduz o valor para algo perto dos R$ 19 bilhões calculados
pelo governo. As grandes empreiteiras estimavam a obra
em R$ 30 bilhões.
A Vale pode integrar o Norte
Energia numa terceira etapa
(após setembro), quando o edital permite esse tipo de mudança societária. Nessa primeira fase, até a outorga da concessão, isso não é possível.
Além da Vale, negociam entrada no projeto outros autoprodutores (indústrias interessadas na energia da usina para
consumo próprio), como CSN,
Alcoa, Gerdau e Braskem.
Pagamento de garantia
Integrantes do consórcio se
reúnem hoje para tentar definir quem fica, a entrada de novos sócios e a parcela de cada
um no pagamento da garantia
de R$ 1,4 bilhão (5,5% do investimento), chamada de "depósito de fiel cumprimento", que
terá de ser feito até o dia 17 de
agosto. A documentação deve
ser entregue até 10 de maio.
A Queiroz Galvão agora quer
permanecer no grupo, mas devido aos atritos com os outros
sócios ainda não se sabe se ela
permanecerá no consórcio. Há
dúvidas sobre a capacidade financeira da J. Malucelli de permanecer no Norte Energia.
Cálculos iniciais apontavam
os custos de construção dos canais em torno de R$ 6 bilhões,
mas as empreiteiras estimavam que esse valor poderia subir devido às incertezas geológicas. Se os custos com as escavações saírem aquém do esperado, a usina poderá sair por até
menos de R$ 19 bilhões, segundo relato à Folha de técnicos
envolvidos nas negociações.
Se for feita, não é a primeira
vez que há mudanças no projeto que reduzem os custos das
obras de uma hidrelétrica. No
leilão de Jirau, no rio Madeira,
a própria Chesf saiu vencedora,
em parceria com a Suez, mudando no projeto o eixo da usina e conseguindo com isso uma
redução de R$ 1 bilhão na obra.
O ministro Márcio Zimmermann (Minas e Energia) disse à
Folha que os grupos vencedores do leilão "não são amadores" e "vão cumprir o compromisso assumido" na disputa da
concessão da usina.
Segundo ele, o governo está
tranquilo com o resultado do
leilão. "Conseguimos uma das
tarifas mais baixas de energia
do país, o que vai beneficiar os
consumidores e dar competitividade ao setor privado."
"Novos sócios"
O ministro diz não temer um
recuo do consórcio Norte
Energia devido ao preço ofertado, que o mercado estaria considerando muito baixo. Setores
do próprio governo têm essa
preocupação, mas avaliam que
o resultado será um lucro menor para os ganhadores.
"Digo que a Chesf é a maior
geradora do Brasil, as empresas
parceiras são grupos fortes. Então, estamos tranquilos quanto
ao futuro da usina."
Ele afirmou ainda que o consórcio está passando por uma
fase "normal de acomodação" e
que há espaço para outros sócios. "É natural que uma obra
desse tamanho abra possibilidade para participação de muitas empresas."
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