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Garimpos e olarias do rio Xingu podem desaparecer com construção da usina
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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O comprador Jair Alves Né, índio da etnia Xipaia, pesa o ouro extraído do Garimpo do Galo (no rio Xingu), que será afetado pela construção de Belo Monte
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A ALTAMIRA (PA)
Dois quilos de ouro puro por
mês. A produção no Garimpo
do Galo já foi melhor, mas é
ainda a única atividade que
sustenta 60 famílias naquela
localidade. Uma vila isolada
entre a floresta amazônica e o
rio Xingu, a cerca de 70 quilômetros de Altamira, no Pará, e
a pouco mais de dez quilômetros rio acima da barragem de
Belo Monte, a obra que vai mudar a história da região.
A preocupação ali é a hidrelétrica. Pelo projeto, o paredão
de Belo Monte vai comprometer a logística de abastecimento do garimpo. "O governo
acha que atingido por barragem é só quem fica no alagamento. Aqui embaixo vai ficar
seco e isso ninguém diz nada.
Como se navega com o rio seco? Aliás, como se produz ouro
sem água?", questiona Josué
de Sousa Pinto, um ex-garimpeiro e vereador de Altamira.
Por enquanto, a rotina segue
no Garimpo do Galo. Para tirar
ouro, é preciso dinamitar a rocha, formando buraco de até
300 metros de profundidade. A
rocha bruta é partida para a extração do pó de ouro. "Já passei
por muitos garimpos. Então, se
fraquejar esse, parto para outro. Trabalhar na obra de Belo
Monte é que não vou", diz Misca, ou Aldacir Ribeiro, 46.
Na vila do Galo, Pexada, apelido de Jair Alves Né, 47, índio
da etnia Xipaia, acha que o futuro ficou mais incerto. Pexada
é um dos compradores do ouro, além de dono de um armazém-boteco ponto de encontro
de garimpeiros. "O problema é
o transporte. Estrada não tem,
e sem o rio vai todo mundo ficar ilhado", diz. A produção de
ouro tem caído, mas é a única
moeda da região. Ao pesar o
ouro comprado há pouco, Pexada diz: "É nosso dinheiro.
Sem ouro, isso vai acabar".
É o que vai ocorrer com a atividade oleira, na produção de
tijolos. No estudo de impacto
ambiental, a previsão é que a
atividade seja transferida para
outro local e os proprietários
das áreas, indenizados. O local,
ninguém sabe. Para os oleiros,
não existe outra área.
A argila renovada pelo rio
Xingu durante o inverno para ser explorada no verão só
é encontrada nesses alagados. "Dizem que vão transferir a gente, mas não existe
outro lugar onde encontrar
esse tipo de barro. O caso vai
ser mudar de ramo. Para
qual? Não sei", diz Ruivan
Ribeiro dos Santos, 39.
No caso dos oleiros, a situação é pior. A atividade
não é regulamentada, embora um projeto de lei que
resolve essa questão esteja
no Congresso. O problema é
que o reconhecimento dessa atividade, tão antiga, poderá vir quando o lado da
usina de Belo Monte invadir
a reserva de argila.
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