São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍTICA MONETÁRIA

Banco Central decide, pela segunda vez seguida, deixar taxa na mesma, mesmo com inflação em baixa

BC mantém juro alto e crescimento baixo

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central decidiu ontem, pelo segundo mês consecutivo, manter inalterada a meta da taxa básica de juros da economia em 18,5% ao ano. Trata-se da taxa de juros pela qual o governo procura tomar dinheiro emprestado para financiar seu déficit, isto é, o que gasta a mais do que arrecada.
O BC justificou a imobilidade com o argumento de que incertezas na economia impedem por ora novo corte dos juros, mesmo com a tendência de queda da inflação. Entre as incertezas podem estar fatores como a alta do dólar, provocada pela deterioração das condições econômicas e pelo aumento do risco de investir no país associado a anos eleitorais.
"Embora existam sinais de que os preços livres estejam convergindo para a trajetória desejada, o balanço dos riscos ainda não permite uma redução dos juros", informou o BC em nota divulgada após a reunião.
A alta ou baixa do juro básico orienta a flutuação das demais taxas de juros da economia. Com a decisão de ontem do BC, os juros -do crediário ao financiamento de investimentos- tendem a permanecer altos e a limitar o crescimento econômico. Assim, a produção de bens e serviços da economia não deve crescer mais que 2% neste ano, e o desemprego deve permanecer estável.

Sem surpresa
A manutenção dos juros não surpreendeu o mercado. Desde a sexta-feira passada, quando o presidente do BC, Armínio Fraga, disse que o Comitê de Política Monetária (diretores do BC) não levaria em consideração apenas o nível da atividade econômica para definir a meta da taxa Selic, os economistas das instituições financeiras passaram a avaliar que o BC não cortaria os juros.
Até então, havia expectativa de juro menor. Em entrevistas, Fraga e o diretor de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn, deram a impressão de que os juros poderiam cair porque a economia apresentava sinais de "arrefecimento", no dizer de Fraga.
Mas vários sinais de pressão sobre a inflação surgiram desde a última reunião do Copom. Depois de ter chegado em março ao piso de R$ 2,30 no ano, o dólar disparou até R$ 2,50. Com a moeda americana mais alta, os produtos e insumos importados ficam mais caros em reais.
Uma das principais razões para a elevação da cotação da moeda americana foi a decisão de vários bancos estrangeiros de reduzir a recomendação de investimento em títulos de dívida brasileira negociados no exterior.
No ano passado, quando a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ultrapassou a meta (cujo limite superior era de 6%), tendo ficado em 7,67%, o principal motivo apontado pelo BC para o descumprimento foi a alta do dólar. O IPCA é usado para medir o cumprimento da meta de inflação.
A meta da inflação prevista para este ano é de 3,5%, com margem de tolerância de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo.
Outro fator de pressão sobre a inflação de abril para cá foi o aumento do preço do petróleo no mercado internacional.

Objetivos desejados
Quando o BC informa que a inflação converge para os objetivos desejados, não quer dizer necessariamente que é em direção à meta deste ano. Na ata do Copom de fevereiro, o BC destacou que passaria a conduzir a política monetária olhando não mais para o calendário gregoriano (12 meses), mas para um prazo mais longo, de 18 a 24 meses. Ou seja, se a tendência da inflação for de queda dentro desse prazo, estaria na direção desejada. Segundo enquete do BC da sexta-feira da semana passada, a média das projeções de inflação do mercado financeiro para 2002 é de 5,46% -perto do limite superior da meta.
De janeiro a abril, o IPCA já acumula alta de 2,30%. Em tese, a queda dos juros pode estimular o crescimento econômico e abrir espaço para alta dos preços.



Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Placar foi apertado, mas opção por segurar os 18,5% venceu por 5 a 3
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.