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POLÍTICA MONETÁRIA
Banco Central decide, pela segunda vez seguida, deixar taxa na mesma, mesmo com inflação em baixa
BC mantém juro alto e crescimento baixo
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central decidiu ontem,
pelo segundo mês consecutivo,
manter inalterada a meta da taxa
básica de juros da economia em
18,5% ao ano. Trata-se da taxa de
juros pela qual o governo procura
tomar dinheiro emprestado para
financiar seu déficit, isto é, o que
gasta a mais do que arrecada.
O BC justificou a imobilidade
com o argumento de que incertezas na economia impedem por
ora novo corte dos juros, mesmo
com a tendência de queda da inflação. Entre as incertezas podem
estar fatores como a alta do dólar,
provocada pela deterioração das
condições econômicas e pelo aumento do risco de investir no país
associado a anos eleitorais.
"Embora existam sinais de que
os preços livres estejam convergindo para a trajetória desejada, o
balanço dos riscos ainda não permite uma redução dos juros", informou o BC em nota divulgada
após a reunião.
A alta ou baixa do juro básico
orienta a flutuação das demais taxas de juros da economia. Com a
decisão de ontem do BC, os juros
-do crediário ao financiamento
de investimentos- tendem a
permanecer altos e a limitar o
crescimento econômico. Assim, a
produção de bens e serviços da
economia não deve crescer mais
que 2% neste ano, e o desemprego
deve permanecer estável.
Sem surpresa
A manutenção dos juros não
surpreendeu o mercado. Desde a
sexta-feira passada, quando o
presidente do BC, Armínio Fraga,
disse que o Comitê de Política
Monetária (diretores do BC) não
levaria em consideração apenas o
nível da atividade econômica para
definir a meta da taxa Selic, os
economistas das instituições financeiras passaram a avaliar que
o BC não cortaria os juros.
Até então, havia expectativa de
juro menor. Em entrevistas, Fraga
e o diretor de Política Econômica
do BC, Ilan Goldfajn, deram a impressão de que os juros poderiam
cair porque a economia apresentava sinais de "arrefecimento", no
dizer de Fraga.
Mas vários sinais de pressão sobre a inflação surgiram desde a última reunião do Copom. Depois
de ter chegado em março ao piso
de R$ 2,30 no ano, o dólar disparou até R$ 2,50. Com a moeda
americana mais alta, os produtos
e insumos importados ficam mais
caros em reais.
Uma das principais razões para
a elevação da cotação da moeda
americana foi a decisão de vários
bancos estrangeiros de reduzir a
recomendação de investimento
em títulos de dívida brasileira negociados no exterior.
No ano passado, quando a inflação medida pelo IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo)
ultrapassou a meta (cujo limite
superior era de 6%), tendo ficado
em 7,67%, o principal motivo
apontado pelo BC para o descumprimento foi a alta do dólar. O
IPCA é usado para medir o cumprimento da meta de inflação.
A meta da inflação prevista para
este ano é de 3,5%, com margem
de tolerância de dois pontos percentuais, para cima ou para baixo.
Outro fator de pressão sobre a
inflação de abril para cá foi o aumento do preço do petróleo no
mercado internacional.
Objetivos desejados
Quando o BC informa que a inflação converge para os objetivos
desejados, não quer dizer necessariamente que é em direção à
meta deste ano. Na ata do Copom
de fevereiro, o BC destacou que
passaria a conduzir a política monetária olhando não mais para o
calendário gregoriano (12 meses),
mas para um prazo mais longo,
de 18 a 24 meses. Ou seja, se a tendência da inflação for de queda
dentro desse prazo, estaria na direção desejada. Segundo enquete
do BC da sexta-feira da semana
passada, a média das projeções de
inflação do mercado financeiro
para 2002 é de 5,46% -perto do
limite superior da meta.
De janeiro a abril, o IPCA já acumula alta de 2,30%. Em tese, a
queda dos juros pode estimular o
crescimento econômico e abrir
espaço para alta dos preços.
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