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ARTIGO
Acordo livra a cara do Merrill, mas não a dos investidores
GRETCHEN MORGENSON
DO "NEW YORK TIMES"
Em seu acordo com Eliot L.
Spitzer, o secretário da Justiça
do Estado de Nova York, o banco
de investimentos Merrill Lynch
certamente se saiu bem em termos institucionais. Mas ainda não
está definido se o resultado será
uma vitória igualmente importante para os investidores que desejam que os analistas de pesquisas do banco falem claro sobre as
ações que estudam.
A cultura do "nós primeiro" que
prevalece em Wall Street criou
profundos conflitos entre os analistas de pesquisas, e esses conflitos contribuíram para bilhões de
dólares em prejuízos dos investidores durante a mania de ações
da virada do século. E culturas tão
duradouras raramente são reformadas de uma vez.
É certo que o acordo está longe
de ser a última batalha que o Merrill terá de lutar sobre a perturbadora simbiose que parece ter surgido entre os departamentos de
análise de pesquisas e as divisões
operacionais dos bancos de investimentos no final dos anos 90. A
empresa continua vulnerável a
numerosos processos de pessoas
que tentam recuperar prejuízos
sofridos depois de comprarem
ações com base em pesquisas oferecidas pelo Merrill, recomendações que a empresa alega não sofrerem quaisquer influências.
Ainda assim, o acordo é bastante atraente para a Merrill, maior
corretora de valores dos Estados
Unidos. Primeiro, a multa de US$
100 milhões não será muito pesada para os seus cofres. Segundo o
mais recente balanço anual da
empresa, US$ 100 milhões é menos de um terço do que o grupo
pagou por materiais de escritório
e despesas postais em 2001. E o
acordo da Merrill para separar a
remuneração dos analistas de
seus honorários como banco de
investimentos em operações de
colocação de ações e bônus e para
criar um novo comitê de supervisão das recomendações de pesquisa permitirá que ela pareça superior aos seus concorrentes em
Wall Street, que continuam a fazer negócios da maneira anterior.
O Merrill Lynch rapidamente
divulgou comunicado alegando
que seu acordo com Spitzer "não
representa prova ou admissão de
culpa ou de responsabilidade",
mas a empresa se desculpou para
com seus clientes pelas "mensagens inapropriadas" reveladas
durante a investigação, e disse lamentar que em certos analistas de
internet do grupo tivessem expressado opiniões que "podem
ter parecido inconsistentes com
as recomendações publicadas pelo Merrill Lynch".
"Eu gostaria de poder dizer que
a direção da empresa está sendo
sincera sobre a mudança de sua
cultura de pesquisa", afirma Gary
Vineberg, ex-analista do Merrill
Lynch que hoje dirige a Cyrano
Equity Research, uma empresa de
pesquisa de Nova York. "As pressões regulatórias externas estão
forçando Wall Street a mudar.
Mas para desenvolver uma verdadeira cultura profissional de pesquisa, sob a qual os interesses dos
investidores venham em primeiro
lugar, as empresas mesmas precisam mudar."
Dirigentes do Merrill declaram
em seu comunicado que a empresa "sempre teve normas e procedimentos em vigor para proteger
a integridade de nossos analistas
de pesquisas". Mas ao concordar
em criar um comitê que revise as
recomendações de seus analistas,
a empresa parecia estar reconhecendo que sua equipe de pesquisas passada não foi vigilante o
bastante. O Merrill afirma que as
negociações com Spitzer fizeram
com que "reforçasse as muralhas
de isolamento entre o departamento de pesquisa e as operações
do banco de investimentos".
Duas mudanças com as quais o
Merrill concordou parecem ter
por objetivo lembrar aos analistas
que os interesses dos investidores
devem ser levados em conta. Ao
separar a remuneração dos analistas das receitas do setor de banco de investimentos na companhia, diz a Merrill, o pagamento
dos analistas agora será determinado apenas com base nas atividades empreendidas em benefício dos investidores.
O presidente do comitê de recomendações será pago primordialmente com base no desempenho
das recomendações de investimento, o que fará com que o foco
esteja no desempenho das ações
recomendadas, e não no potencial de transações para o banco de
investimentos.
Embora a empresa não se admita culpada, advogados especialistas em valores mobiliários dizem
que o Merrill provavelmente terá
de responder a processos judiciais
"Não existe nenhuma admissão
de responsabilidade, e ninguém
conseguirá provar um caso que
não seja justificado", disse Lewis
Lowentels, especialista em lei de
valores, de Nova York. "Mas a atmosfera será favorável aos queixosos devido à publicidade".
Não será possível concluir se o
Merrill cumprirá a promessa de
uma nova abordagem. Isso só se
tornará evidente quando os preços das ações voltarem a esquentar. Só então, quando os honorários por serviços de banco de investimentos estiverem entrando,
os investidores poderão conferir o
que acontece.
Tradução de Paulo Migliacci
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