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LUÍS NASSIF
Uma instituição nacional
O aniversário de 50 anos
da Cemig não deve ser motivo de comemoração apenas de
seus funcionários ou de Minas
Gerais. A Cemig é patrimônio
brasileiro.
Nos anos 50 coube a ela papel
de vanguarda na implantação
dos novos conceitos gerenciais
no país. O Brasil saíra da Segunda Guerra tomado pelo desejo
de se industrializar. A Segunda
Guerra disseminou conceitos como o planejamento estratégico e
a gestão. O esforço de guerra
produziu uma pedagogia do
planejamento que foi fundamental na reconstrução da economia mundial após o conflito.
No Brasil, esses conceitos foram trazidos inicialmente pelo
Plano Salte, que exigia projetos
para a liberação de recursos das
instituições internacionais ao
Brasil e para a contrapartida do
governo brasileiro. Os recursos
não saíram, mas os conceitos
frutificaram. E, dentre os órgãos
públicos e privados brasileiros,
ninguém levou esse conceito tão
longe quanto a Cemig.
Fundada e organizada por
Lucas Lopes, sua primeira diretoria era um ministério. Compunham-na, entre outros, Mário Bhering, João Camilo Penna
e Mauro Thibau.
Seus técnicos ajudaram JK no
governo de Minas. Depois, trouxeram a metodologia de planejamento estratégico para o governo federal, por meio do Plano de Metas, que marcou o governo JK e o início da industrialização moderna no país. Pela
primeira vez definiam-se começo, meio e fim de projetos, prazos, responsáveis, recursos orçamentários.
O governo JK foi um descalabro fiscal, quebrando uma longa tradição de cuidado com as
contas públicas. Mas a culpa
maior foi a decisão de construir
Brasília, o que arrebentou com
todo tipo de controle orçamentário e permitiu a JK manter
coesa sua base de apoio política,
por meio de concessões das mais
variadas.
Seu governo se consagrou nas
frentes que estavam subordinadas ao planejamento dos técnicos da Cemig, liderados por Lucas Lopes. Os planos de ação foram tocados por comissões independentes da máquina pública,
trabalhando o conceito de processo.
Essa tecnologia, depois, foi
transferida para o recém-criado
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que, a partir dessa base sólida, se tornaria o grande agente
público de planejamento privado no país, fundamental para a
modernização da planta industrial brasileira, em que pesem os
equívocos nos primeiros anos da
década de 1980.
É curioso que certo pensamento econômico raso teime em diferenciar planejadores e liberais,
incluindo no segundo grupo Roberto Campos e Octávio Gouvêa
de Bulhões, como se o planejamento fosse um conceito ideológico, e não uma ferramenta de
trabalho das mais relevantes.
Mais do que sábios, eram pessoas que corriam atrás de resultados e suas idéias somente se
concretizaram quando organizadas pela metodologia de planejamento implantada pelos
técnicos da época, a maioria
proveniente do setor elétrico.
Sistematicamente alguns desses gladiadores do "neoliberalismo" confundem planejamento
com planificação e toda forma
de organização de ações como
intervencionismo. São pessoas
que jamais frequentaram ambientes empresariais, especialmente das grandes corporações,
nos quais a visão de futuro precisa ser desdobrada em planos
de ação, com quantificação de
metas, acompanhamento, previsão de recursos, reavaliações.
O que seriam das idéias do mais
visionário dos brasileiros, Eliezer Baptista, sem as ferramentas
do planejamento estratégico
trazidas pelos pioneiros da Cemig?
Pragmáticos, objetivos e visionários, simultaneamente, a geração do pós-guerra, a mais relevante da história do Brasil,
lançou as bases da moderna
economia brasileira. Por trás de
tudo isso estava o conhecimento
acumulado dos técnicos da Cemig, os pioneiros que espalharam energia por Minas, e suas
luzes pelo Brasil.
Por isso mesmo, os 50 anos da
companhia não são apenas um
evento mineiro, mas nacional.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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