São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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CONJUNTURA

Lafer Piva diz que não há razão para BC manter os juros altos

Indústria vai crescer menos sem queda de juro, diz Fiesp

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) criticou duramente ontem a posição do Banco Central de manter a atual taxa básica de juros em 18,5%. A medida deve adiar a retomada da economia e, segundo ele, a previsão de crescimento de 3% da indústria paulista em 2002 cai para 2%. "O país apresenta massa salarial estagnada, o nível de emprego não registra recuperação, estamos com nossas indústrias com baixo nível de utilização da capacidade. Não vejo razão para continuarmos com esses juros", disse. A seguir, trechos da entrevista:

Folha - Como o senhor recebeu a decisão do Copom de manter a taxa de juros em 18,5%?
Horacio Lafer Piva -
Havia uma esperança de uma pequena queda. Certeza não havia, só uma esperança. Eu entendo o perfil conservador do Banco Central, mas é claro que imaginava um viés de baixa ou uma pequena queda de 0,25 ponto percentual. Não tem por que mantermos as taxas atuais. O país apresenta massa salarial estagnada, o nível de emprego não registra recuperação, estamos com nossas indústrias com baixo nível de utilização da capacidade. Não vejo razão para continuarmos com esses juros.

Folha - O BC tem afirmado que as taxas estão sendo mantidas porque a intenção é atingir a meta inflacionária. Como o senhor vê isso?
Piva -
Mas, com a economia como está, por que teríamos inflação? Não há nem espaço para isso. E essas questões em relação ao rating dos bancos e à vulnerabilidade país lá fora, isso vai ser resolvido ao longo do tempo. Acredito mesmo que Banco Central e Armínio Fraga [presidente do BC" têm credibilidade no mercado e poderão alterar as taxas sem serem chamados de populista.

Folha - Ou serem acusados de ter razões eleitorais? Piva - Nem por razões eleitorais.

Folha - A futura equipe econômica do pré-candidato do governo à Presidência da República não seguiria essa mesma política de juros que a Fiesp tem criticado tanto?
Piva -
Não sei, não posso dizer isso. Sei que carregamos a terceira maior taxa do mundo, e isso é muito desconcertante. Não digo que dê para reduzir três pontos assim, de uma hora para outra. Mas como está é impraticável.

Folha - Com a decisão de manter as taxas, podemos esperar uma retração maior no crescimento da indústria paulista neste ano? Piva - As expectativas pioraram. No começo do ano,falávamos num crescimento de 3%. Agora não acho que passamos de 2%.



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