São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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Banco recomenda megatroca ao Brasil

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O banco de investimentos Lehman Brothers propôs ao governo brasileiro reestruturar amigavelmente a dívida interna do país, "antes que seja tarde demais".
A idéia foi lançada na sexta-feira como sendo a única alternativa do governo brasileiro para escapar do círculo vicioso dos juros altos e do crescimento da dívida pública.
"O governo tem que negociar com seus credores locais, de forma secreta e sem declarar moratória unilateral, a redução voluntária nas taxas de juros e a extensão dos prazos de pagamento", diz o documento, assinado, entre outros analistas do banco, pelo brasileiro Paulo Vieira da Cunha.
A proposta leva em consideração três pressupostos básicos: o risco de uma reestruturação forçada da dívida pública nos próximos dois anos seria de 50%, seja quem for o próximo presidente; o maior problema das finanças públicas do governo seria sua dívida doméstica, que equivale a 72% do total do passivo público; a dívida doméstica estaria nas mãos de um punhado de credores locais dispostos a trocar seus papéis para não sofrer um calote.
O banco diz que a reestruturação voluntária da dívida interna seria uma opção obrigatória à reestruturação da dívida externa do país -esta sim, segundo a instituição, um desastre.
"Seria um desastre reestruturar a dívida externa, mas também o seria não reestruturar a dívida pública doméstica", diz relatório da Lehman Brothers.
Segundo o banco, essa transação seria simples e atraente a todos os investidores, que, temerosos de um calote, aceitariam uma perda pactuada com o governo.
"O governo ofereceria trocar todos os instrumentos de dívida existentes (que são de curto prazo, altamente ilíquidos e indexados a taxas de juros do overnight ou ao câmbio) por novos instrumentos (com prazos mais longos, altamente líquidos, indexados ao IPC e carregando taxas reais de juros de 7% a 8%)."
Para o banco, a medida acalmaria os mercados externos porque a alta do risco-país decorre do endividamento público doméstico. "Se a dívida externa é de apenas 15% do PIB, por que os investidores internacionais estão tão preocupados? O medo é que, se as condições políticas se deteriorarem, seria mais difícil rolar a duração da dívida doméstica, que, então, teria que ser monetizada. Se isso ocorresse, o câmbio brasileiro se desvalorizaria, elevando o peso da dívida externa -daí, a probabilidade de um "default" (calote)."
O banco reconhece que a medida foi tentada sem sucesso na Argentina em 2001, mas acha que ela daria certo no Brasil. "Felizmente para o Brasil, o real não está sobrevalorizado, os bancos comerciais não quebrariam com a reestruturação combinada da dívida doméstica e a fuga de depósitos seria muito improvável. "Essas são razões poderosas para que o Tesouro e o Banco Central considerem a reestruturação doméstica. Antes que seja tarde demais."


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