São Paulo, sexta-feira, 23 de junho de 2006

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Renda do trabalhador tem alta de 7,7%

Reajuste do salário mínimo, inflação em queda e aumento das contratações com carteira assinada explicam melhora

Desemprego contrariou expectativas e cedeu pouco; para o IBGE, mercado de trabalho ainda está em "compasso de espera"


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A renda média real do trabalhador cresceu 1,3% em maio na comparação com abril e 7,7% em relação ao mesmo mês no ano passado -a maior alta da série histórica da nova Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), iniciada em março de 2003. Reajuste real do salário mínimo, inflação em queda e aumento das contratações com carteira assinada garantiram mais dinheiro no bolso do trabalhador.
Na comparação mensal, a renda subiu pelo quarto mês consecutivo. Com aumento de R$ 13,57 de abril para maio e de R$ 60,18 em relação a maio de 2005, o rendimento médio bateu em R$ 1.027,80.
Ainda que a renda e a formalidade tenham aumentado em maio, nem todos os indicadores foram positivos: a taxa de desemprego caiu apenas 0,2 ponto percentual (variação estatisticamente estável para o IBGE). Passou de 10,4% em abril para 10,2% em maio.
Segundo o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Sabóia, o reajuste real de 12% do salário mínimo teve um "impacto generalizado" no mercado de trabalho, atingindo mesmo aqueles que recebem mais do que o piso de referência ou estão na informalidade.
A inflação, avalia, não teve efeito, já que está controlada há vários meses. Marcelo de Ávila, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e Cimar Azeredo Pereira, gerente da pesquisa do IBGE, discordam. Dizem que o menor custo de vida também contribuiu para a recuperação da renda. Em abril, a inflação na seis áreas pesquisadas foi de 0,17%.
Para Sabóia, a tendência é a de que a renda continue em expansão em razão das eleições e de medidas como a intenção de reajustar o salário dos funcionários públicos. "Há o interesse do governo em botar renda na mão das pessoas neste ano."

Poucas contratações
Contrariando as expectativas de redução, a taxa de desemprego igualou o patamar registrado em maio de 2005.
"Esperávamos uma queda da taxa de desocupação, que não aconteceu. Isso mostra que o mercado de trabalho está em compasso de espera. Os empresários não vêem ainda estímulo na conjuntura econômica para contratar", disse Azeredo Pereira, do IBGE.
De acordo com Azeredo, a queda dos juros e os maiores gastos do governo em ano eleitoral ainda não se refletiram no mercado de trabalho, que mostra por enquanto apenas uma "tímida recuperação", tendência sinalizada pelo avanço (tido como estatisticamente estável) da ocupação.
O número de pessoas empregadas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador) cresceu 0,6%, com acréscimo de 113 mil pessoas de abril para maio. Foi o primeiro dado positivo desde dezembro de 2005. Na comparação com maio do ano passado, a expansão da população ocupada foi de 0,8% -ou 151 mil pessoas a mais.
Na avaliação de Marcelo de Ávila, do Ipea, há um ganho de produtividade na economia, com aumento das horas trabalhadas na produção de bens e serviços, o que impede um avanço mais significativo do emprego. O "compasso de espera" dos empresários está relacionado, segundo ele, com o câmbio valorizado, que reduz a rentabilidade de vários setores.
Pelos cálculos do Ipea, será necessária a abertura de 190 mil postos de trabalho em junho para que a taxa de desemprego fique abaixo da registrada em junho de 2005 -9,4%.
João Sabóia, da UFRJ, diz que, ainda que estatisticamente estável, o recuo de 0,2 ponto na taxa de desemprego de abril para maio já indica uma tendência de declínio do desemprego, que deve se acelerar a partir deste mês e cair continuamente até o final do ano.

Formalidade
Mais uma vez, as contratações com carteira superaram as formas informais de inserção no mercado de trabalho, contribuindo também para o aumento da renda do trabalhador. Isso porque o rendimento dos formais é mais alto.
O emprego com carteira cresceu 0,4% em comparação com abril e 3,8% na comparação com maio. Já o sem-carteira subiu 0,1% de abril para maio e cedeu 6,8% ante maio de 2005. No caso do trabalho por conta própria, houve alta de 1,9% na comparação com abril e de 1% ante maio de 2005.


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