São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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GANÂNCIA INFECCIOSA

Ações de bancos dos EUA são afetadas pela WorldCom e por acusação de envolvimento com a Enron

Quebras e fraudes atingem bancos e Bolsas

DA REDAÇÃO

O curto-circuito entre escândalos financeiros e a maior concordata da história dos EUA, a da empresa de telecomunicações WorldCom, afetaram as ações de teles e dos maiores bancos europeus e norte-americanos e provocaram nova onda de devastação nas principais Bolsas do mundo.
A concordata da WorldCom e o escândalo da Enron foram os pivôs da história. A gigante de telecomunicações americana declarou-se oficialmente insolvente na noite de domingo. As ações de bancos credores da empresa despencaram, entre eles os americanos JP Morgan (6%) e Citibank (11%) e o alemão Deutsche Bank (6%). O Citi e o JP Morgan foram envolvidos ainda na concordata fraudulenta da gigante em negócios de energia Enron.
"Certas instituições financeiras se envolveram, e até auxiliaram, nas transações que a Enron usou para esconder sua dívida, e, assim, fizeram com que a situação financeira da companhia parecesse mais sólida do que era", afirmou ontem a senadora republicana Susan Collins.
A BellSouth, outra tele dos EUA, avisou ontem que seus lucros caíram 66% e vão continuar ruins para o resto do ano. Suas ações tombaram 18% em Nova York. Sua concorrente Verizon perdeu 12% de seu valor na Bolsa.
Pela primeira vez desde 1998 o índice Dow Jones caiu abaixo de 8.000 pontos (nível tido como "barreira de pânico" pelos investidores). De nada adiantou mais um discurso do presidente George W. Bush em defesa das corporações e da economia do país.

Conivência
O Citigroup e o JP Morgan Chase estão sendo acusados de terem ajudado a Enron nas fraudulentas transações contábeis que movimentavam bilhões de dólares e faziam os balanços da negociadora de energia parecerem melhores do que realmente eram.
Os bancos concederam empréstimos que a Enron registrou em seus balanços como se fossem receitas de venda de energia. Assim, ao se observar os relatórios financeiros, a dívida da companhia aparecia artificialmente reduzida, enquanto o faturamento, em contrapartida, estava inflado.
Segundo investigações do Senado norte-americano, a Enron conseguiu levantar US$ 8,5 bilhões com o Citi e o JP Morgan, sempre utilizando transações que eram classificadas como venda ou compra de energia. O esquema envolvia subsidiárias em paraísos fiscais, como as Ilhas Cayman.
As transações ocorreram entre 1992 e 2001, segundo os senadores. De acordo com os parlamentares envolvidos nas investigações do colapso da Enron, a empresa deveria ter registrado as operações como "dívidas", não como entrada de capital. Novas revelações deverão ser apresentadas hoje pelos congressistas, durante uma sessão da subcomissão de investigações do Senado.
Além do Citi e o JP, outros bancos também estariam envolvidos no esquema, totalizando outro US$ 1 bilhão. Os bancos citados são: Crédit Suisse, FleetBoston, Barclays, Royal Bank of Scotland e Toronto-Dominion Bank. Todos viram o preços de suas ações cair ontem.
Tentando se reerguer, a Enron passou a cooperar com o trabalho dos investigadores do governo norte-americano e do Congresso. Por isso, existe a expectativa de que surjam novas revelações ao longo dos inquéritos.
A maior parte dos bancos não se pronunciou sobre as acusações. O JP Morgan disse ao jornal "The Washington Post" que as transações seguiam a legislação contábil. O Citi disse ao "The New York Times" que os negócios eram "totalmente apropriados" e que não tinha conhecimento das fraudes.
Segundo estimativa da comissão do Senado que investiga o colapso da Enron, no ano de 2000 as dívidas da empresa seriam ao menos 40% maiores do que as informadas. O faturamento, por outro lado, seria 50% menor.

Efeito WorldCom
A concordata da WorldCom agravou a crise dos já combalidos mercados financeiros. Para alguns analistas, as perdas sofridas em casos como o calote argentino e a quebra de grandes corporações pode iniciar uma onda de fusões no setor bancário.
Além da bancarrota da WorldCom, que dispõe de ativos avaliados em US$ 107 bilhões e cujo endividamento soma US$ 41 bilhões, houve as concordatas de grandes empresas como a própria Enron e a tele Global Crossing. Todas são acusadas de fraude.
O holandês ABN Amro, maior credor europeu da tele depois do Deutsche, perdeu 7% e foi ao seu menor patamar em quatro anos.
O presidente da WorldCom, John Sidgmore, afirmou que espera deixar a concordata em menos de um ano. "A reorganização não será uma liquidação", disse.


Com agências internacionais


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