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ANÁLISE
Quebra da WorldCom representa risco para outras telefônicas
SIMON ROMERO
JONATHAN D. GLATER
DO "NEW YORK TIMES"
Mesmo que o pedido de
concordata da WorldCom
fosse esperado há semanas, o fato
de que se tenha realizado criou
uma cascata de problemas na indústria interdependente de operadoras de telefonia locais e de longa
distância, bem como para as empresas que lhes fornecem equipamentos. Os dois anos de crise no
setor de telecomunicações são um
fator importante para o passo
claudicante da economia mundial
e a queda nos mercados de ações.
As ações de empresas de telecomunicações perderam valor de
mercado no total agregado de US$
2 trilhões nos últimos dois anos.
Assim, as dificuldades que persistem no setor podem ter conseqüências negativas mais amplas.
"As pessoas não podem mais ignorar que o setor de telecomunicações está esburacado e representa sério obstáculo para a economia", diz Scott Cleland, executivo chefe da consultoria Precursor
Group, de Washington.
Em termos mais imediatos para
as demais operadoras, no entanto,
está a preocupante perspectiva de
um calote por parte da WorldCom, que tipicamente pagava dezenas de milhões de dólares por
mês a outras empresas do setor
como parte do complexo processo
de interação sob o qual as empresas de telefonia conectam os seus
respectivos assinantes em uma
vasta teia de comunicação.
A maior associação setorial do
mercado enviou uma carta no final de semana à Comissão Federal
de Comunicações (FCC) dos EUA,
pedindo permissão para repassar
aos consumidores os custos incorridos caso a WorldCom se atrasasse em seus pagamentos de conexão de rede. Quase todas as empresas de telecomunicações - sejam operadoras de telefonia, como
a Verizon Communications, ou
fabricantes de equipamentos como a Lucent Technologies- têm
contas a receber da WorldCom, e
terão dificuldades para recebê-las
caso a empresa decida pedir concordata.
Entre as grandes operadoras regionais de telefonia, estima-se que
a Verizon e a SBC Communications tenham, cada qual, mais de
US$ 200 milhões a receber da
WorldCom, e que parte dessas dívidas já estejam em atraso. Não se
sabe ao certo que proporção dessas dívidas será paga, ou se elas
podem contar com o recebimento
dos US$ 100 milhões em tarifas de
interconexão que a WorldCom
lhes paga a cada mês para conectar
seus clientes às redes delas.
"Estamos desapontados que eles
tenham decidido agir assim", disse Peter Thonis, porta-voz da Verizon. "Vamos acompanhar a situação de muito perto e fazer o
que for preciso para proteger os
interesses de nossos acionistas".
Outra grande operadora regional, a BellSouth, planeja reter parte
do dinheiro que recolhe como
agente de cobrança da WorldCom
caso a empresa não pague suas tarifas de interconexão, informou o
porta-voz Jeff Batcher. Ele disse
que a BellSouth costumava receber em média US$ 80 milhões
mensais da WorldCom.
O pedido de concordata da
WorldCom também deve pesar
sobre os esforços de reestruturação que já estão em curso entre
outras empresas de telecomunicações, tais como a Global Crossing e
a 360networks, que estão igualmente em concordata. Os credores dessas empresas vêm encontrando problemas em achar compradores para suas redes, ou parte
delas. Agora que a WorldCom parece decidida a vender alguns ativos, o excedente de propriedades
indesejadas no mercado vai aumentar ainda mais.
O excesso de capacidade nas redes de comunicações, resultado
do investimento exagerado durante o boom do setor de telecomunicações que durou até o final
dos anos 90, é um fator essencial
para a atual depressão do setor.
A rápida alta nas ações de empresas do setor permitiu que empresas iniciantes, a mais notável
das quais era a WorldCom, crescessem rapidamente por meio de
aquisições e com a obtenção de
fontes pouco dispendiosas de financiamento. A crescente popularidade da internet naquele período ajudou a estimular o frenesi de
construção de redes. Executivos
da UUNet, uma empresa de
"backbone" para a internet adquirida pela WorldCom em 1996, foram citados como tendo declarado que o tráfego na internet se duplicaria a cada 100 dias.
Como demonstrou o escândalo
na contabilidade da WorldCom, o
fracasso em cumprir previsões como a que se referia ao tráfego na
internet em ritmo sequer próximo
ao projetado contribuiu para a
pressão que os executivos passaram a sentir no sentido de apresentar uma fachada de normalidade financeira.
Mas mesmo que a WorldCom
tenha tomado medidas extremas
para tentar enfrentar os crescentes
problemas do setor, as dificuldades do grupo demonstram que as
telecomunicações não são um jogo de soma zero no qual as perdas
de uma empresa se traduzam facilmente em ganhos para outra.
Por exemplo, a WorldCom sofreu declínio em sua receita com
telefonemas de longa distância,
nos últimos anos, porque os usuários de celulares começaram a usá-los mais e mais para realizar interurbanos atraídos por tarifas de
até dois centavos de dólar por minuto, comparados aos 10 centavos
de dólar por minuto cobrados pela
WorldCom.
Mas isso não quer dizer que os
operadores de celular tenham lucrado com esses clientes "roubados" às operadoras comuns de
longa distância, porque as vantagens que eles poderiam ter obtido
foram desgastadas pela feroz
guerra de preços no setor de celulares, causada pelo investimento
excessivo em redes que o setor
realizou no final dos anos 90.
Para a WorldCom, o pedido de
concordata é uma forma de ganhar tempo mas não resolve nenhum problema magicamente. A
queda no volume de operações do
setor de telecomunicações representará um problema para a
WorldCom quando ela escolher
que contratos abandonar e que
contratos honrar, disse Sandra E.
Mayerson, que dirige a equipe de
falências e concordatas no escritório de advocacia Holland &
Knight, de Nova York.
Porque em muitos casos os fornecedores da empresa também
são seus clientes, optar por abandonar um contrato de suprimento
para economizar dinheiro pode
resultar em perder um contrato de
venda que geraria receita igual ou
até superior, diz ela.
Tradução de Paulo Migliacci
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