São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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Para BIS, compulsório agrava juros

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O alto recolhimento compulsório (dinheiro dos bancos retido no Banco Central) e o direcionamento obrigatório de crédito (como o destinado ao financiamento habitacional) são dois dos principais motivos para os juros cobrados dos clientes bancários no Brasil serem tão elevados. Essa avaliação é feita pelo diretor-geral do BIS (espécie de banco central dos bancos centrais), o canadense Malcom Knight.
Em viagem ao Brasil, à Argentina e ao Chile, Knight esteve ontem em um seminário na sede do BC brasileiro.
Segundo ele, o sistema bancário no país é muito competitivo, mas há distorções que explicam por que os bancos cobram tanto a mais para emprestar do que pagam para remunerar as aplicações dos investidores -essa diferença é chamada de "spread".
Hoje, 45% de todo o dinheiro depositado pelos clientes em suas contas correntes, por exemplo, é obrigatoriamente retido no BC sem qualquer remuneração.
"Em comparação com outros países, os percentuais de compulsório são muito altos no Brasil. Esse deve ser um dos pontos macroeconômicos que precisam ser vistos", disse Knight, que foi presidente do banco central canadense.
Além disso, os bancos têm de destinar recursos para certas operações de crédito. Do dinheiro captado na poupança, os bancos têm de repassar 60% para financiamento imobiliário.

Impostos
Além desses dois fatores, ele destaca também que muitos impostos incidem sobre a intermediação financeira e que os bancos não contam com mecanismos rápidos para reaver bens em caso de inadimplência. "Se esses elementos forem alterados, vocês verão que os "spreads" cairão", disse, lembrando que o Senado aprovou recentemente a nova Lei de Falências, que prevê mais garantias aos bancos nos empréstimos. O texto voltou para a Câmara.
Em sua opinião, é fundamental para o BC a autonomia operacional definida em lei. Para ele, o BC brasileiro conta com autonomia na prática, mas a garantia de que no futuro essa condição permanecerá daria mais segurança tanto aos emprestadores quanto aos tomadores de crédito. "Isso ajudaria a derrubar as taxas de juros de longo prazo, que o BC não controla e que são as taxas mais importantes para o crescimento da economia", disse.
Devido às resistências de seus aliados, o governo desistiu de propor neste ano um projeto para conferir autonomia ao BC.
"Acredito que o BC brasileiro tem exercitado essa autonomia, mas é muito importante que a autonomia faça parte do sistema legal. Política monetária estável é essencial para uma taxa de juros de longo prazo baixa", disse.

Expansão mundial
Para Knight, as perspectivas para o Brasil são positivas, assim como para a economia global. Segundo ele, projeções correntes de organismos internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) apontam para uma expansão da economia mundial de 4,8% neste ano.
Apesar do quadro benéfico, Knight lembra que o Brasil ainda tem como ponto de fraqueza a alta relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto). Por isso defende que o governo mantenha o superávit primário nas proporções atuais, para permitir uma redução da dívida nos próximos anos. Hoje, a meta de superávit primário (economia de receitas para o pagamento de juros da dívida) é de 4,25% do PIB.


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