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Para BIS, compulsório agrava juros
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O alto recolhimento compulsório (dinheiro dos bancos retido
no Banco Central) e o direcionamento obrigatório de crédito (como o destinado ao financiamento
habitacional) são dois dos principais motivos para os juros cobrados dos clientes bancários no Brasil serem tão elevados. Essa avaliação é feita pelo diretor-geral do
BIS (espécie de banco central dos
bancos centrais), o canadense
Malcom Knight.
Em viagem ao Brasil, à Argentina e ao Chile, Knight esteve ontem em um seminário na sede do
BC brasileiro.
Segundo ele, o sistema bancário
no país é muito competitivo, mas
há distorções que explicam por
que os bancos cobram tanto a
mais para emprestar do que pagam para remunerar as aplicações
dos investidores -essa diferença
é chamada de "spread".
Hoje, 45% de todo o dinheiro
depositado pelos clientes em suas
contas correntes, por exemplo, é
obrigatoriamente retido no BC
sem qualquer remuneração.
"Em comparação com outros
países, os percentuais de compulsório são muito altos no Brasil.
Esse deve ser um dos pontos macroeconômicos que precisam ser
vistos", disse Knight, que foi presidente do banco central canadense.
Além disso, os bancos têm de
destinar recursos para certas operações de crédito. Do dinheiro
captado na poupança, os bancos
têm de repassar 60% para financiamento imobiliário.
Impostos
Além desses dois fatores, ele
destaca também que muitos impostos incidem sobre a intermediação financeira e que os bancos
não contam com mecanismos rápidos para reaver bens em caso de
inadimplência. "Se esses elementos forem alterados, vocês verão
que os "spreads" cairão", disse,
lembrando que o Senado aprovou
recentemente a nova Lei de Falências, que prevê mais garantias aos
bancos nos empréstimos. O texto
voltou para a Câmara.
Em sua opinião, é fundamental
para o BC a autonomia operacional definida em lei. Para ele, o BC
brasileiro conta com autonomia
na prática, mas a garantia de que
no futuro essa condição permanecerá daria mais segurança tanto
aos emprestadores quanto aos tomadores de crédito. "Isso ajudaria a derrubar as taxas de juros de
longo prazo, que o BC não controla e que são as taxas mais importantes para o crescimento da
economia", disse.
Devido às resistências de seus
aliados, o governo desistiu de
propor neste ano um projeto para
conferir autonomia ao BC.
"Acredito que o BC brasileiro
tem exercitado essa autonomia,
mas é muito importante que a autonomia faça parte do sistema legal. Política monetária estável é
essencial para uma taxa de juros
de longo prazo baixa", disse.
Expansão mundial
Para Knight, as perspectivas para o Brasil são positivas, assim como para a economia global. Segundo ele, projeções correntes de
organismos internacionais como
o FMI (Fundo Monetário Internacional) apontam para uma expansão da economia mundial de
4,8% neste ano.
Apesar do quadro benéfico,
Knight lembra que o Brasil ainda
tem como ponto de fraqueza a alta relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto). Por isso defende
que o governo mantenha o superávit primário nas proporções
atuais, para permitir uma redução da dívida nos próximos anos.
Hoje, a meta de superávit primário (economia de receitas para o
pagamento de juros da dívida) é
de 4,25% do PIB.
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