São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2004

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Economista descarta "bolha de crescimento"

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO

O economista José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade Princeton (EUA), afirma que o período de recuperação econômica brasileira atual não é apenas uma "bolha de crescimento". Mas avalia que o país tem condições de crescer a taxas não maiores do que 3,5% a 4% ao ano. Se quiser alcançar taxas de 6% a 7%, terá que continuar a avançar nas reformas do Estado.
"As medidas que foram tomadas, não só por esse governo como pelo governo anterior, podem levar ao crescimento sustentável", disse o economista ontem durante o 4º Encontro Brasileiro de Finanças, organizado pela Sociedade Brasileira de Finanças em parceria com a Coppead/UFRJ.
"Acho que o Brasil tem a capacidade de ter um crescimento asiático. Mas, para isso, tem que fazer reformas. Sem atacar a questão da informalidade da economia, sem o Brasil se inserir mais na economia internacional, sem o Brasil ter o tipo de estrutura de desenvolvimento de tecnologia que os países asiáticos têm, sem o Brasil fazer os investimentos em infra-estrutura, sem o país dar maior certeza jurídica para investidores, vai ser difícil ter esse tipo de crescimento."
A lista do que o país ainda precisa fazer é tão grande que Scheinkman causou risos na platéia ao afirmar que receita de economista é como dar o seguinte conselho a uma criança que quer aprender a jogar basquete: "Jogue como o Michael Jordan". Conclusão do próprio: "É uma receita correta, mas não muito útil." Brincadeiras à parte, o economista liberal centrou fogo mesmo no combate à informalidade. Para ele, isso passa por uma desburocratização da legislação, diminuição de impostos e maior fiscalização por parte do governo. "Hoje, no Brasil, é muito difícil ser formal."
Outro ponto que deve ser considerado, segundo ele, é o investimento em infra-estrutura. "O Brasil tem uma carga tributária de 36% do PIB. Os países com essa carga tributária conseguem financiar a sua infra-estrutura."
Tanto ele como o economista Edward Amadeo, ex-ministro do Trabalho e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do governo FHC, também presente ao encontro, avaliam que a maneira de elevar o investimento em infra-estrutura é a desvinculação das receitas da União. "É normal que, num período de crise, você preserve os gastos sociais e diminua investimentos. Só não se pode fazer isso indefinidamente", disse Amadeo.
Para ele, as atuais condições da economia são muito boas, principalmente por causa do superávit comercial. "Há uma quantidade de gordura da balança comercial muito grande, que vai permitir gerar oferta suficiente à medida que a demanda for crescendo para que não haja gargalos."


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