São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EM TRANSE

Moeda dos Estados Unidos interrompe sequência de quedas e aumenta 2,11%, para R$ 3,145; risco-país sobe 1,4%

Empresas "caçam" dólar, que volta a subir

ANA PAULA RAGAZZI
FABRICIO VIEIRA

DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar interrompeu sua sequência de quedas e subiu 2,11% ontem, para R$ 3,145.
Com a valorização, a moeda passou a acumular alta de 0,64% nesta semana. O risco Brasil, medido pelo banco JP Morgan, subiu 1,4%, para 1.903 pontos.
Não houve nenhuma notícia a justificar a valorização do dólar ontem, apenas uma procura pela moeda maior do que a oferta. Segundo operadores, compras realizadas pela Eletropaulo teriam sido o principal motivo de pressão na cotação.
A empresa tem US$ 225 milhões em dívidas que estão vencendo. No dia 5 de setembro, vencem outros US$ 30 milhões em dívidas da empresa. A necessidade de quitar parte desses vencimentos estaria obrigando a Eletropaulo a comprar dólares. Na quarta-feira, outros US$ 120 milhões em dívidas já haviam vencido.
O dólar chegou a ser negociado a R$ 3,185 (alta de 3,4%). Isso levou o Banco Central a intervir no mercado mais de uma vez.
O BC confirmou ontem que vendeu dólares ao mercado. De acordo com operadores, as vendas teriam ocorrido por pelo menos três vezes - uma vez no final da manhã e duas à tarde, quando o dólar bateu a sua cotação máxima no dia.
Sem notícias, a temperatura do mercado cambial não deverá ter forte alteração até a semana que vem. Investidores aguardam os resultados das próximas pesquisas, realizadas após o início do horário eleitoral gratuito.
O mercado espera também pelos resultados das conversas do ministro da Fazenda, Pedro Malan, e do presidente do BC, Armínio Fraga, com investidores estrangeiros nos Estados Unidos.
"Os investidores esperam que a viagem do Malan e do Armínio traga algum resultado positivo no que se refere à retomada de pelo menos parte das linhas externas que foram cortadas", afirma o economista do ABN-Amro Asset Management, Aquiles Mosca.

Escassez
O maior problema do mercado cambial é a escassez de moeda. Com a instabilidade política do país, por ser este um ano eleitoral em que pesquisas de intenção de voto apontam grandes chances de a oposição vencer as eleições. Agrada ao mercado a vitória de um candidato do governo, que indicaria a manutenção da atual política econômica. Além disso, cresceu a aversão mundial ao risco, após as notícias de que empresas americanas cometeram fraudes em seus balanços financeiros.
Com a falta de crédito, as empresas tiveram de comprar dólares para honrar dívidas que não puderam ser roladas.
O mal-estar e as incertezas também fizeram com que crescesse a procura dos investidores pelo ativo real - a necessidade de ter a moeda norte-americana em mãos provoca distorções, tal como o fato de a cotação do mercado à vista estar acima da futura.
Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o dólar para setembro fechou a R$ 3,127.
Grande parte dos analistas está otimista em relação à possibilidade de Malan e Fraga terem sucesso em sua viagem. Mas há forte cautela entre eles -há a avaliação de que o máximo que eles poderiam conseguir seria estancar a saída de recursos do país.
Segundo a Folha apurou, uma boa parcela dessas linhas de crédito não voltará até a definição do cenário eleitoral. Um economista de um banco estrangeiro avalia que o dinheiro que ingressava no país via bancos internacionais de pequeno e médio porte não voltará no curto prazo.
A análise é que essas instituições não dimensionaram corretamente o risco Brasil. Como foram surpreendidos pela piora dos indicadores, demorarão a voltar.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Argentina ainda influi no dólar, diz governo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.