São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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SEGUNDA GERAÇÃO

Assessor do Departamento de Estado dos EUA diz que país já admite suavizar as políticas neoliberais

Consenso de Washington pode ser "humano"

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Face à crise econômica na América Latina, os EUA já admitem suavizar e "humanizar" o "Consenso de Washington", expressão que resume as medidas de ajuste econômico que o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Bird (Banco Mundial) recomendam a países emergentes em troca de auxílio financeiro.
Dias antes de viajar ao Brasil e ao Chile, Richard Haass, diretor do escritório de Política e Planejamento do Departamento de Estado, declarou que os EUA estão dispostos a "repensar" o Consenso de Washington com os países da região, adicionando ao conceito "lições aprendidas na década de 90."
"Tem havido muita crítica ao tão falado Consenso de Washington. Se as pessoas pensam que sua definição é inadequada ou muito limitada, gostaria de saber o que mais deveria fazer parte dele", disse Haass numa conversa com um grupo restrito de jornalistas. "Se aprendemos lições nos últimos dez anos, o que são essas lições? Como podemos aplicá-las? Quais outros tipos de reformas deveríamos adicionar às reformas macroeconômicas? Legais, políticas, sociais?"
Assessor direto do secretário de Estado, Colin Powell, Haass é o funcionário mais alto na hierarquia do Departamento de Estado a visitar o Brasil durante o governo George W. Bush. Ele chega ao país na segunda-feira, para uma visita de três dias na qual se reunirá com o ministro Celso Lafer (Relações Exteriores) e com assessores dos principais candidatos à presidência.
A possível revisão do Consenso de Washington foi mencionada espontaneamente por Haass. "Não somos os únicos a ouvir preocupações sobre o assunto. É só olhar para a América Latina e para outras partes do mundo. Governos e sociedades estão encontrando dificuldades. Em minha própria visão, é cada vez mais claro que precisamos colocar fundações ou redes de proteção social porque, inevitavelmente, economias e sociedades terão momentos de crise e de ascensão nessa era de globalização."
Segundo ele, revisar o consenso não significa abandonar as reformas de mercado, mas sim aperfeiçoar ajustes que devem ser feitos nos países, garantindo proteção aos desempregados e aos doentes. "É importante que as pessoas não percam confiança em democracia ou reformas de mercado."
Haass disse que tem debatido o tema frequentemente, dentro e fora do governo. "Numa dessas discussões, cheguei a mencionar algumas idéias que iriam além da definição restrita do consenso de Washington. Vou conversar sobre elas com os brasileiros e chilenos."
A expressão "Consenso de Washington" foi criada em 1990 por John Williamson, economista inglês radicado nos Estados Unidos. Em recente entrevista à Folha, Williamson afirmou que está estudando a revisão do conceito à luz das reformas de mercado na América Latina na década de 90. O economista estaria elaborando a "Segunda Geração do Consenso de Washington", que teria apelo maior para as questões sociais. O economista quer completar as reformas da primeira geração do Consenso de Washington, principalmente no mercado de trabalho "Ainda há muitas restrições para que os trabalhadores do mercado informal", disse.


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