São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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Receituário exigiu arrocho na AL

DA REPORTAGEM LOCAL

O economista norte-americano John Williamson criou o termo "Consenso de Washington" em 1989, ano em que escreveria um artigo no qual receitava um conjunto de políticas que, na sua avaliação, contribuiriam para o desenvolvimento dos países latino-americanos.
Não era apenas Williamson que propugnava que se tratavam de "políticas boas", mas também todas as instituições baseadas em Washington, nos EUA: o Departamento do Tesouro norte-americano, a sede do Fed (banco central dos EUA), o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial. Daí o nome "Consenso de Washington".
A receita era, segundo o criador do termo, simples e representava o conjunto de idéias segundo as quais já havia certa unanimidade naquelas instituições e que dariam base a um maior crescimento e desenvolvimento econômico na América Latina.
Em linhas gerais, a receita era: acabar com os déficits públicos e adotar a disciplina fiscal; concentrar os gastos públicos em saúde e educação; fazer uma reforma tributária que permitisse diminuir impostos; promover a abertura comercial; liberalizar a conta de capitais, ou seja, permitir a entrada e saída de recursos estrangeiros mais livremente, de forma a facilitar o investimento direto estrangeiro; e privatização e desregulamentação econômica.
Durante toda a década de 90, muitos países adotaram essas políticas -ou pelo menos implantaram parte delas. As baixas taxas de crescimento e a persistência dos altos níveis de pobreza e indigência em toda a região acabaram frustrando as expectativas a respeito dos efeitos da reforma.
A frustração era ainda maior porque a maioria das políticas exigira ajustes dolorosos: corte de gastos, falência de empresas nacionais, queda no emprego e crises externas que eram agravadas pela liberdade de capitais receitada pelo "Consenso".
Com o tempo, o "Consenso de Washington" virou sinônimo de termos como "interesses norte-americanos", "neoliberalismo", ou o mais recente, "fundamentalismo de mercado", do megainvestidor George Soros.
O repúdio ao termo e a algumas de suas políticas chegou a tal ponto que o próprio Williamson escreveu, em 2000, texto em que fazia uma espécie de mea culpa e tentava explicar os mal-entendidos que seu artigo do início da década havia criado. Mas era tarde demais, e o próprio autor já declarava a "morte do Consenso" e pedia um "pós-Consenso de Washington". (MARCELO BILLI)


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