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EM TRANSE
Provisão para créditos de pagamento duvidoso cresce 43,4% em relação ao ano passado e causa piora na seca de crédito
Defesa dos bancos contra insolvência cresce
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Em um ano, as reservas que os
bancos fazem para enfrentar possíveis calotes (provisões para empréstimos de pagamento duvidoso) aumentaram 43,4%.
Em junho de 2001, 23 bancos do
país tinham um total de R$ 2,8 bilhões de provisões para créditos
duvidosos. Em junho de 2002, o
montante subiu para R$ 4,1 bilhões.
O estudo foi feito por Erivelto
Rodrigues, presidente da Austin
Asis, com base nos balanços referentes ao primeiro semestre deste
ano já publicados por 23 bancos.
O aumento da provisão para
créditos de liquidação duvidosa é,
segundo Rodrigues, o principal
motivo para a queda da lucratividade dos bancos no primeiro semestre deste ano.
O lucro dos bancos caiu 10,8%
nos primeiros seis meses de 2002
em comparação com o mesmo
período de 2001. No primeiro semestre, os bancos apresentaram
lucro de R$ 3,4 bilhões, contra R$
3,8 bilhões no mesmo período de
2001.
Os bancos tiveram de aumentar
a provisão para créditos duvidosos devido ao aumento da inadimplência. A inadimplência sobre o total da carteira dos 23 bancos, pelas contas de Rodrigues,
subiu de 4,2% na primeira metade do ano passado para 4,8% no
primeiro semestre deste ano. Ele
considera inadimplência os créditos em atraso há mais de 60 dias.
A inadimplência é maior nos
empréstimos para pessoas físicas.
Segundo Rodrigues, a inadimplência nos bancos com pessoas
físicas gira em torno de 8% a 10%.
Já para pessoas jurídicas, a inadimplência está em torno de 3,5%
a 4%.
O medo do calote tem feito com
que os bancos contenham a concessão de crédito, seja para pessoas físicas ou jurídicas. Em junho, o total da carteira de crédito
de todo o sistema bancário no
país, de acordo com estimativa de
Rodrigues, somava R$ 350 bilhões, o mesmo valor de dezembro do ano passado.
Em relação a junho de 2001, esse
valor significa crescimento de
10%. Para Rodrigues, trata-se de
uma desaceleração muito forte do
crescimento do crédito, já que,
nos últimos cinco anos, a carteira
de empréstimos crescia ao ritmo
de 20% a 25% ao ano.
Rodrigues esperava um aumento maior do crédito neste ano.
Juros mais altos do mundo
Todos esses números são reflexo direto do fato de o Brasil cobrar as maiores taxas de juros do
mundo. Apesar de o juro básico
na economia ser de 18% ao ano,
os juros cobrados pelos bancos
para empréstimos a pessoas jurídicas (para desconto de duplicata
e capital de giro) giram em torno
de 43% ao ano, por exemplo.
Para pessoas físicas, os empréstimos podem subir para 101% ao
ano. Se considerada a taxa para o
cheque especial, os juros chegam
a 214% ao ano. "Não é à toa que
somos os campeões mundiais do
futebol e dos juros", afirma Rodrigues.
De acordo com Rodrigues, o
que se observa no mercado é que
a inadimplência deve continuar a
subir nos bancos. Isto é, provavelmente a tendência é de os bancos
continuarem a restringir ainda
mais a concessão de créditos.
O grande problema dessa atitude dos bancos é que ela pode retardar ainda mais a recuperação do crescimento da economia do país.
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