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POLÊMICA
Ministério da Agricultura reconhece, em documento, não ter controle sobre o produto modificado geneticamente
Governo ignora destino da soja transgênica
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os brasileiros estão provavelmente consumindo soja transgênica sem saber. O Ministério da
Agricultura, em documento obtido pela Folha, reconhece que não
tem controle sobre onde foi parar
a soja geneticamente modificada,
excepcionalmente liberada para
comercialização neste ano.
"O Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, até o
momento, tem conferido aos
grãos [transgênicos] comercializados, dentro de suas funções de
rotina, o mesmo tratamento do
grão convencional, sendo inviável
a determinação precisa do destino da parcela transgênica", afirmam técnicos da Agricultura, em
resposta a requerimento apresentado pelo deputado federal Edson
Duarte (PV-BA).
A Agricultura não é o único ministério a não cumprir sua função. A Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária), subordinada ao Ministério da Saúde, não
está fiscalizando a rotulagem
obrigatória dos produtos que podem conter soja transgênica.
"O nosso direito de escolha não
está sendo respeitado. Não existe
nenhum produto com rótulo",
afirma o consultor técnico do Idec
(Instituto de Defesa do Consumidor), Sezifredo Paz.
Um funcionário da Anvisa, com
o compromisso de não ser identificado, afirmou que a agência não
tomou até agora nenhuma providência para implementar a rotulagem exigida por lei. Segundo
ele, ainda faltaria regulamentar os
detalhes da rotulagem.
Para o Ministério da Justiça,
com a legislação atual já poderia
ser cobrada a rotulagem dos produtos que contêm transgênicos.
Descumprimento total
Quando o governo liberou, em
meados de fevereiro, a comercialização da soja transgênica plantada no ano passado, havia um
compromisso de criar mecanismos que garantissem ao consumidor todas as informações sobre
o produto que seria vendido.
Até hoje o plantio de soja geneticamente modificada é proibido
no país, pois o próprio governo
não se decide se o produto é ou
não seguro para o ambiente e para o consumo humano.
O arcabouço legal para liberar a
soja transgênica temporariamente foi aprovado, mas nenhum dos
direitos do consumidor está sendo respeitado. A Agricultura, por
exemplo, deveria certificar os
produtores que plantaram apenas
soja convencional. Para evitar
maiores burocracias, poderia
também decretar que determinadas regiões são livres de transgênicos. Os produtos feitos a partir
dessa soja seriam os únicos que
poderiam ser vendidos com o rótulo "livre de transgênicos".
Até agora nenhuma certificação, que é opcional, foi feita. "Esclarecemos, entretanto, que a demanda por essa certificação [de
soja convencional], até o momento, está sendo pequena e que a
avaliação das certificações realizadas pelas entidades credenciadas
ainda não está finalizada", respondeu o Ministério da Agricultura ao pedido de informações do
deputado Duarte.
O Ministério da Agricultura
também não tem controle sobre o
uso de soja transgênica na ração
animal. O decreto presidencial
que estipulou as regras de rotulagem afirma que os consumidores
têm o direito de saber se a carne
que compra é de animais alimentados com soja transgênica.
Um dos técnicos da Agricultura
disse à Folha que, após a liberação
da comercialização, nem os produtores nem o ministério se preocuparam em fazer a segregação
entre a soja transgênica e a convencional.
"As respostas que obtive do Ministério da Agricultura mostram
que o governo não estava preparado para liberar a comercialização da soja e fazer cumprir a lei. Se
não estava preparado, por que liberou?", pergunta Duarte.
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